1.8.06

Carpe Diem!

Sim, eu confesso... estava inseguro para sair, porque logo quando cheguei, percebi que o que faz um país, não são os limites territoriais ou a sensação de fazer parte da história, ou de estar pisando no mapa... o que faz um país é a cultura, a língua – todo um aparato folclórico e, por que não, o conceito local do que é ou não é normal? Por conta disso tudo, eu confesso que estava sim inseguro para sair. Mas medo de quê?

No mesmo dia em que eu coloquei os pés em Reading eu percebi que estava em outro lugar muito distante da minha casa, e de certa forma foi frustrante porque eu imaginava que aqui não se jogava lixo nas ruas, ou que o povo fosse mal-educado: eu estava errado até sobre isso, meu Deus! Eu que odeio tanto os rótulos, rotulei um país e fui enganado pelas minhas expectativas.

A gente imagina um outro país como envolto em uma aura toda mágica, onde o céu seria diferente, o chão seria diferente, as pessoas seriam diferentes... até os cahorros de rua [que diga-se de passagem não existem] seriam difernentes! Mas quando se pisa e percebe-se que estamos no mesmo planeta, submetidos à mesma atmosfera, que o chão é composto pelos mesmos mineirais – em maior ou menor escala de um ou de outro, mas do mesmo material, e que as pessoas são também deuses de si mesmas e, por isto, heróis de sua própria história, fica-se com medo porque todas as suas expectativas foram em vão. E eu tive uma ótima surpresa, porque percebi que aqui é melhor do que eu poderia imaginar, mesmo nos meus devaneios da matinais.

Mas então por que eu estava com medo? Era uma pergunta pertinente que me fazia olhar da janela para o lado de fora e mergulhar em ostracismo e outros meios de introspecção, até que de-repente peguei-me sem tempo para ficar com medo porque estava quase sem bateria no meu celular, e como meu carregador tem dois pinos e as tomadas aqui têm três – diferentes, diga-se de passagem dos três pinos brasileiros. Eu tive que escolher entre ficar com medo ou ficar sem celular! Nao tive dúvidas: vesti uma roupa, sai de casa e fui procurar uma loja de materiais elétricos. Estava disposto a correr toda a cidade para achar um adaptador. Preparei-me psicologicamente e até ensaiei uma explicação para quando finalmente encontrasse o artigo do qual eu tanto precisava - afinal de contas, para que serveria um número Inglês se o telefone não funcionasse?

Eis a bendita tomada Inglesa. Imaginem o plug disso!

Andei cinco minutos e encontrei uma lojinha simpática na qual eu poderia pedir informações sobre onde eu encontraria o meu adaptador. Cumprimentei o vendedor – uma simpatia de pessoa, e comecei a descrever o meu problema. Eis que no meio da minha explicação ele estica o braco e pega justamente o adaptador do qual eu precisava, e me perguntou se era aquilo o que eu precisava. Fiquei desapontado porque eu tinha preparado todo um monólogo que ainda levaria umas três frases para ser terminado, e também não estava preparado psicologicamente para terminar assim tão rapidamente a minha jornada – e diga-se de passagem que nem prematuramente foi terminada, mas sim num um sucesso absoluto. Volto para casa calado e sem graça, porque tinha preparado-me para tantos obstáculos no que seria o empreendimento do dia.... menos de dez minutos depois de ter saido de casa. Decidi que deixaria o telefone carregar uns minutos, mesmo porque, era este o obejtivo de todo o meu estardalhaço, certo? Ainda meio bebado com o acontecido, saí, mas desta vez sem rumo. Decidi seguir o rio Thames.

Caminhando – sempre pela esquerda, como os Ingleses, percebi que o medo não era do local, das pessoas, da situação e nem de mim! Meu medo era da felicidade! Sim, da felicidade. Percebi que tememos a felicidade porque muitas vezes não sabemos o que pode mantê-la conosco. Porque, assim como era difícil alcançá-la, era ainda mais difícil, matê-la! Lembrei-me de tomar o suco de caixinha bem vagarosamente, com medo de que ele acabasse mais cedo do que o esperado, ou de usar com menso freqüência a roupa nova, com medo de que ela gastasse antes do esperado... mas o que era esse tal de “esperado”, meu Deus? Que momento soberano é esse para o qual esperamos por toda a vida? Será que a felicidade tem hora certa de acontecer? E se ela contecer, será que ela acaba? Será que a felicidade se gasta? E se ela se gasta, ela também é renovavel? E lembrei-me de uma música....

Felicidade foi se embora, e a saudade no meu peito ainda mora e é por isso que eu gosto lá de fora, porque sei que a falsidade não vigora. A minha casa fica lá de traz do mundo, onde eu vou em um segundo quando começo a cantar! O pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa quando começa a pensar... (Folclore)

E depois de outra...

A felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de flor: brilha tranquila, depois de leve oscila e cai como uma lágrima de amor.../A felicidade do pobre parece a grande ilusão do carnaval: a gente trabalha o ano inteiro por um momento de sonho, pra fazer a fantasia de rei ou de pirata ou de jardineira, pra tudo se acabar na quarta feira./A felicidade é como a pluma que o vento vai levando pelo ar: voa tão leve, mas tem a vida breve - Precisa que haja vento sem parar!A minha felicidade está sonhando nos olhos da minha namorada. É como esta noite passando, passando em busca da madrugada! Falem baixo, por favor prá que ela acorde alegre como o dia, oferecendo beijos de amor...Tristeza não tem fim; felicidade sim. (Tom/Vinícius/João)

Desculpa, pessoal, mas todos estão errados - humilde eu, né? Mas, segundo Aristóteles - ele sim tem moral pra falar - a felicidade não tem fim não, porque a felicidade não é material, e depende de algo aparentemente simples. Por exemplo, se o suco de caixinha acaba, a felicidade não tem que acabar junto, ou se a calça fica velha, a feliciade não tem que desbotar também. A felicidade é a capacide de contemplacao, é a capacidade de ver todos os dias a mesma coisa e se maravilhar com ela, por mais insignificante que seja... é a capacide de ver Deus nas coisas mais pequenas, e perceber que sem elas – mesmo as mais aparentemente insignificantes, o mundo não seria como conhecemos! Foi aí que entendi que eu criava dificuldades estúpidas para dificultar e adiar a minha felicidade, mas não porque sou masoquista, mas por necessidade de dolorsa e doentiamente prolongar o prazer! Foi então que eu entendi que estava na Inglaterra, e que o fato de eu caminhar pela cidade e conhecê-la, não vai me entediar, mas sim, aprazer-me cada vez mais a partir da capacidade de observar cada vez mais de perto as coisas que se tem a fazer – e não fazer também!

Ontem eu caminhei por toda a cidade – bem, o que eu pude, e vi coisas maravilhosas, senti cheiros diferentes, ouvi sotaques e línguas irreconhecíveis, e me senti vivo! Eu pensei que aquele era o começo da felicidade.. mas eu estava errado: era apenas “a” felicidade. Era um momento simples e finito, que viria e iria, assim como deve ser. [Tudo que se tem em demasia, ou em deficiência, é ruim - mesmo a felicidade e, por que não, paz?] E depois de ontem eu me senti completamente satisfeito por ficar em casa o dia inteiro, de pijamas, tomando banho de banheira por horas e sair só pelo prazer por dizer que fiquei em casa o dia inteiro não por falta do que fazer, mas porque eu escolhera assim. E senti-me confortável com o fato de que eu não quero nem saber o que eu vou fazer ou deixar de fazer amanhã! Carpe Diem – e tenho dito!

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