20.12.07

Almoço de Domingo




Traz o gin pro quarto – eu disse, já correndo pra o computador, no intuito de não perder a idéia. A Inspiração está escassa esses dias e eu não posso me dar o luxo de perdê-la.
O copo ainda está cheio de champagne. Eu lavava a louca mesmo ainda bebendo-a – sempre com a intenção de não perder a idéia, mas não ser impetuoso – e rude, deixando a louca do almoço sem ser lavada. Foi uma sopa confraternizada: eu picava vegetais, a Lu picava vegetais. Foi uma festa regada a gin e a faca. Rimos e comemos – sempre no bom estilo dos Cardosos.
Bebemos o gin e mudamos para as taças de champagne. Demo-nos o luxo de beber champagne sorvendo sopa de couve-de-bruxelas e alho-poró – vegetais de inverno. (Eu ainda me pego em situações puramente cotidianas que eu ainda não absorvi. Tem horas em que eu não acredito, ainda - mesmo com todas as dificuldades - que eu meio que não acredito que eu estou aqui.)
Luís Miguel ao fundo. A Lu comparando-o ao vinho. Suas unhas vermelhas contrastando com o amarelo do líquido que já não era champagne, mas algo outro que continha suco de laranja. (Ficou bom!) Isso me faz lembrar que eu gosto de mudanças, mas que também sou pisciano – apenas um dos meus muitos conflitos, eu sei.





Cartinha de Natal

Reading, 12 de dezembro de 2007.
Meia-noite e cinqüenta e três.
-8º C.

Oi, Papai e Mamãe.
Tudo GGSS?

Pois, é: o ano tá no finalzinho e dá um aperto não estar aí com vocês.
Na nossa última conversa meu pai me perguntou quando eu voltava e eu respondi que não sabia. E é bem verdade isso: não sei mesmo quando volto. Não é algo que eu possa planejar com certeza porque eu não sei ainda o caminho pelo qual eu vou seguir na vida. Eu adianto dizendo que eu amo as coisas que existem aqui e que se houvesse a possibilidade de, em vez de eu voltar, eu poder trazer vocês todos pra cá, eu não pensaria duas vezes e traria todos vocês pra Inglaterra, pra a gente ficar pertinho. Mas não tem jeito, infelizmente. Não posso responder pela Lu, mas no que me diz respeito, é bem isso mesmo.
Mas deixa baixo: esse pacotinho é pra celebrar o natal e o ano novo com vocês. Esperamos que vocês gostem dos presentinhos e das bobagens que mandamos. E ah, já vou dizendo que a cartinha deve ter muitos erros de acentuação e de digitação, e peço que não reparem – justo eu que sou tão metódico com o Português... mas é que era pra eu ter enviado a caixa hoje cedo, mas ia ficar muito, mas muito sem graça mandar a caixa e nem uma palavrinha. Isso quer dizer que eu me propus a escrever pra vocês agora de noite, depois do trabalho (acabei de tomar um banho e já estou enrolado no edredom), e no escuro – sim, porque eu chego e a Lu geralmente já está dormindo e vocês sabem o quanto ela é rabugenta quando ela quer ser... então melhor não acordar a fera. J
Muito engraçado pensar em como a minha vida mudou nesses praticamente dois anos... não vou dizer que esteja mais maduro, mas algo muito – e eu não sei dizer se é pra melhor ou pra pior: simplesmente mudou. Estou lutando contra o meu já velho conhecido comodismo e as barreiras culturais pra me encaixar na sociedade Inglesa. E pensando bem, acho que é por isso que eu não penso em ir embora por agora – não antes de domar esse lugar e dizer que eu me encaixei aqui.
Sabem, pai e mãe, cultura é um conceito muito, mas muito amplo de se explicar e vocês sabem muito bem o que significa isso – por exemplo, as diferenças entre os ambientes das casas, por exemplo, da Fatinha e da Maria Cláudia, ou da Vó Tatá e da Vó Zefa. Nenhuma delas é melhor ou pior – são apenas diferentes, e a simples maneira como a gente muda pra se adaptar ao ritmo de cada uma dessas casas dá uma breve idéia de como eu tenho que me portar aqui. A diferença é que em cada uma dessas casas eu me sinto feliz despretensiosamente, mas aqui eu não tenho a tranqüilidade ou a confiança de que quem está ao meu redor quer o meu bem.
Esses dias eu estava pensando em como a minha vida tinha mudado e eu fiquei horrorizado ao perceber que eu não me lembrava mais de coisas tão minhas, como por exemplo, de como eu me senti quando passei no vestibular, ou quando eu fui receber o prêmio do concurso de monografias na faculdade. É normal perder essas lembranças quando se está recomeçando? Será que eu vou sentir essas mesmas sensações quando eu atingir algo semelhante aqui? – não, claro que não: vai ser diferente. Não acredito em recriar situações. Esses dias mesmo – no último dia em que eu falei com vocês pela Net, o João estava a trabalhar e a Lu estava em Londres. Era um dia em que eu não trabalhava e eu acordei tarde, faxinei a casa e depois eu fui a um restaurante e pedi um Spaguetti Carbonara pra jantar – ou era um misto de almoço com janta porque era a primeira coisa que eu comia aquele dia, já lá pelas 4 da tarde. Eu queria relembrar de como eu me senti em Roma fazendo, pela primeira vez, aquela refeição (até a sobremesa eu pedi a mesma: Tiramisù), só que não funcionou. Virou outra coisa que não era Roma. Foi bom, mas teria sido melhor se eu não tivesse tentado recriar uma lembrança. Deu errado do mesmo jeito que ficou o Pesto que eu tentei fazer aí com manjericão e parmesão... Lermbram daquela coisa verde que eu fiz pra colocar no macarrão? Pois é... fiquei traumatizado não porque não deu certo, mas porque não tinha gosto de Itália... o gosto da minha experiência longe de casa.
Eu ainda sei que não vai ser a mesma coisa, mas ao menos o gosto vai ser melhor dessa vez: reparem que tem um vidrinho com um troço verde dentro – esse é o Pesto do qual eu tanto falava. E agora o paladar – ao menos, vai ser o mesmo. Outra coisa que eu mando é um vidro com Molho doce de Pimenta (aqui chamamos de “Sweet Chili”) – eu e a Lu achamos que meu pai – o pimenteiro da casa, vai adorar. Você também vai gostar, mãe: não é forte não. Só que tem uma coisa: se vocês abrirem a caixa e o molho não estiver dentro é porque eu ainda não tenho certeza de que vai ser seguro mandar vidro pelo correio – vocês entendem o medo de fazer lambança e sujar os presentinhos que estão indo na caixinha.
Quanto aos presentinhos, só pra não dizer que não mandamos dinheiro pra vocês, tem um monte de moedas de chocolate fazendo volume. Achei muito fofo e penso que vocês concordariam. Outra coisa é uma caixinha com DVDs dentro (mãe, ainda fico te devendo “Os Maias”!). Gravei uns filmes que mexeram muito comigo (“O Que Terá Acontecido a Baby Jane?”, “Gata em Teto de Zinco Quente”, “Um Corpo que Cai” e “A Malvada” – sem ordem especifica) – e, claro, todos com legenda em português. E já falo uma coisa antes que vocês julguem os filmes pelos títulos (várias coisas, aliás): 1 – eu os vi todos e, conhecendo vocês, eu sei que vão gostar; 2 – não julguem o livro pela capa (lembra, mãe, que você não ia com a cara do “Tomates Verdes Fritos” por causa do nome?), 3 – São filmes clássicos que fizeram história e que eu sempre quis assistir; e, finalmente, 4 – Vocês sabem que eu vou perguntar se vocês gostaram, então, nem que seja pra falar mal: assistam!
E quanto ao presente principal, esperamos mesmo que vocês gostem – foram escolhidos com muito carinho e tentando ser o mais próximo de algo que vocês mesmos adquiririam pra vocês. E quanto a outros presentes que eu gostaria de mandar, ficou complicado demais escolher quem ficaria de fora da lista, então ficou todo mundo. Por exemplo, como mandar presente pra tia Dina sem mandar pra tia Marcela? E como mandar presente pra tia Marcela sem mandar um pro tio Antônio? Como mandar presente pra Vó Zefa sem mandar pra Vó Tatá? E a tia Rita?! Eu queria mandar pra Maria Cláudia, mas aí ficavam o Théo e o Léo de fora! Sem contar os amigos: Marcelo, Élida, Flávio, Glayson, Léo... Que triste! Aliás, triste nada: adoro saber que tenho pessoas a quem amo tanto, e em tanta abundância... e fico triste de novo lembrando o quanto eu estou longe de todos vocês. (Tô ficando deprimido...)
Enfim, hoje já é dia 12 e não sei se vocês receberão o pacote antes do natal (tenho quase certeza de que não, mas vale a intenção... – eu acho!) Bem, o natal não vai ser o mesmo pra mim aqui sem vocês por perto – sem a tradicional comemoração no terraço de casa, com os amigos em volta. Eu não comemoro o Natal segundo a mitologia cristã, mas fico feliz em saber que, mesmo esquecida, a data ainda tem o tradicional poder de unir as pessoas que passam o ano todo meio que distantes – bem, quase todas, já que eu ainda vou estar longe e sem poder abraçar... mas ao menos temos a Internet pra fazer de conta que a distancia não é tão grande quanto ela realmente é. E, também, graças ao Microsoft Word que facilita tanto a minha vida e faz acreditar que uma cartinha com apenas 3 folhinhas é pequenininha, e me faz ficar com vontade de ir escrevendo, escrevendo, escrevendo... queria que a cartinha fosse infinita só pra eu imaginar que vocês estão segurando por mais tempo o papel que eu abracei e beijei, fazendo de conta que eu abraçava e beijava vocês dois. E também pra saber que o meu beijinho não foi apenas pela tela do computador, mas que ele chegou de verdade ate vocês – mesmo que num papelzinho (três, na verdade) e na forma de uma cartinha que era inicialmente apenas um cartãozinho de natal...

Beijos, Papai e Mamãe!

Mandem beijos e abraços a todos (não vou enumerar porque eu ia usar mais não sei quantas outras paginas cheias só de nomes....), fiquem bem e que não apenas o natal e festa de virada ou mesmo o ano novo, mas que as nossas vidas sejam muito, mas muito movimentadas – pra a gente sentir cada minuto dela, pra não nos arrependermos de não ter passado por isso ou aquilo, no fim da vida (que ninguém sabe quando vai ser...).

AMO VOCÊS!




22.11.07

Eu escrevi pra ele/Círculo Vicioso



Sim, eu escrevi. E como em todo momento da minha vida, eu espero pelo melhor – mas quase nunca acontece o melhor. Eu me lembro de como eu sempre contei com a sorte e, quase sempre, na faculdade, por exemplo, eu não estudava para as provas e morria de medo do resultado, mas esperava pelo melhor... sempre. Era a minha maneira de desafiar ao Deus e provar que Ele não aceita contratempos. Então, como parte da minha tênue teoria que só queria mostrar que era Ele quem mandava, acontecia o contrário do que eu esperava. Acontece que eu sempre jogava dos dois lados – ciente que eu era da teoria, e previa o que poderia dar errado – ou o contrário do que eu esperava. Então eu ficava num dilema teodicênico, porque eu sempre perdia, sem saber se porque, prevendo ambas as possibilidades – sim e não, Ele me deixava com o talvez na cabeça. Eu fico confuso ate hoje porque o talvez está entre o sim e o não: e este sou eu! Então eu penso que eu não sou tão positivo assim, como eu acho, porque eu sempre perco quando espero que as coisas aconteçam porque: tanto faz o que eu preveja – mesmo que eu fosse ao todo dos dois extremos, acontecia o pior (quando eu espero pelo melhor)... só que o oposto também acontece, meu Deus!
É uma relação complicada porque eu me precavejo de hipóteses e possibilidades, mas sempre esperando pelo contrário – mas o que é o contrário do contrário? Posso dizer que tudo se resume à primeira impressão ou é complexo mesmo – e só funciona se eu der todas essas voltas?
...e, pois é. Ele não respondeu.

Para o Marcelo


Ouro em Pó

Eis que de repente um cheiro me levou pra outras vidas:
Eu estava lá. Nós estávamos lá.
Refletindo os seus olhos no meu prato, eu via a sua alma.
E a gente confraternizava, e a gente se comia.

Foi então que você me deu o Pedro de presente,
E disse que Caio tinha lhe dado o Pedro,
Mas que daquele ponto em diante eles eram nossos.
E será que eu tenho? – é claro que eu tenho todos vocês
Numa imagem só minha, na minha cabeça. Mas você,
Você eu tenho no coração.

E n’outra vida eu choro,
E você me diz: “goze cada sorriso,
Você não pode ver no escuro, mas
Apenas esperar por que o dia nasça”
(Por que o tempo passa, tão rápido, meu amigo?)
Foi hoje que eu entendi,
Olhando pra trás,
Que caminhamos com ouro em pó
(contra o vento)
Nas nossas mãos...

Malvado



De tempos em tempos eu reinvento a minha máscara. Eu queria que ela fosse ácida agora. Acontece que, nesse momento, eu sou tudo o que eu não queria: etéreo.

Sobre o que eu quero escrever?



Há uns dias atrás eu notei duas linhas diferentes nas minhas mãos. Fiquei curioso e, por dias, eu ensaiava pesquisar o significado daquelas novas linhas. E antes de ontem eu me lembrei de procurar e descobri que as linhas novas nem eram importantes – na verdade elas nem eram listadas nas linhas legíveis... Foi então que eu me deparei com a pergunta: era vontade de encontrar alguma novidade na minha vida – mesmo que a novidade fosse uma constatação do meu dia-a-dia? Ou era desespero pra escrever?
No entanto, eu já percebi que só escrevo quando tenho o que contar – ou seja, quando vejo as coisas e as descrevo (eu só sei escrever assim!). Escrever, pra mim, sintetiza a vida. Eu me sinto vivo quando eu escrevo.

7.11.07

Gold Dust...



Hoje eu estava caminhando - voltando pra casa, e senti uma saudade, um aperto no peito. Sim, eu sinto falta de muita coisa, mas de nada, ao mesmo tempo: não sei explicar. Prefiro chamar de melancolia a tristeza que eu não consigo – e nem quero, explicar. Fiquei pensando a tarde quase toda no Samuel. Lembrei, com aperto no coração, que eu sabia que ele iria em breve – mas meio sem saber... mas eu sabia. E o mesmo aconteceu com o Jacko. Eu sabia que estava na hora de ele ir e eu fiz coisas que eu normalmente não fazia: eu tive a oportunidade de lhe dizer adeus, e eu o fiz. Hoje eu me arrependo de coisas que fiz e que deixei de fazer, enquanto ele estava vivo, mas não carrego a dor de não tê-lo dito adeus – a lembrança do momento em que eu o olhei nos olhos e disse que o amava, ainda me dói. Como ele teve coragem de me deixar? – aquele egoísta! Que droga! Já que eu tenho esse dom de ver no escuro, eu também queria poder entender o que eu enxergo, só pra ter certeza de que eu posso viver sem o medo de ser a ultima vez que eu vivo. Sim, porque dói muito ver o tempo passar e me ver a cada dia, potencialmente mais só. (Sim, eu quero uma mão amiga apertando a minha quando eu me for!) E vivendo de lembranças, as vezes sorrindo, outras chorando, e tristemente perceber que a memória nos prega peças – porque, infelizmente, esquecemos das coisas, e o que nos sobra é apenas uma bruma e que, no fim das contas, nos temos ouro em pó nas mãos.
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2.10.07

Protesto!

É só eu desligar o laptop que a inspiração desaparece. Não! Ela também vem quando eu estou em um lugar ou situação onde não tem jeito de tomar nenhuma nota... e não adianta deixar o laptop ligado e nem carregar um bloquinho comigo: inspiração é como chuva – só vem quando se esquece o guarda-chuva em casa.

Panis Et Circenses

Houve uma época em minha vida em que eu não era convidado para jantares. Mas a razão pela qual eu não era convidado me incomodava mais do que a minha ausência propriamente dita, naqueles jantares. Hoje eu sei o motivo pelo qual eu não era convidado e, como bom ser humano, eu me arrependo – mesmo que o motivo fosse importante para mim, naqueles tempos.
Eu me pergunto, atualmente, se realmente pode ser definido como autenticidade, a aceitação do passado como veículo para o presente - talvez nem veículo, mas razão pela qual as bifurcações eram como elas se davam. Quer dizer: antes eu cria que se envergonhar do passado era admitir que o presente não é apropriado, já que, adiante, envergonhar-se-á do que, hoje, é tão importante.
Por este motivo eu não sei se me sinto pior por não ter sido convidado para estes jantares ou se por esposar o motivo. No entanto, hoje em dia, no fim das contas, nem as pessoas da sala de jantar, nem o motivo e nem mesmo os jantares estão mais na minha vida, e eu me pergunto: em quando eu me envergonharei desta exata reflexão?



P.S.: Não era isso que eu ia escrever hoje...

29.9.07

Ódio Analítico (ou) Alma Silenciosa

Faz tempos que eu não escrevo.
Cheguei a achar que havia perdido a minha voz, mas não. Ela está aqui sim, mesmo que mais fraca. Eu me alimento de observação, e por isso escrevo somente sobre o que eu vejo – mesmo que escreva sobre a parte invisível do que eu vejo. Acontece que eu não gosto do que vejo ultimamente. As mudanças acontecem lenta e dolorosamente. Tão dolorosamente que eu preferi me calar em vez de encarar os fatos e aceitar que tudo muda – e nem sempre pra melhor.
Nunca me senti tão triste em toda a minha vida. A Europa é uma das grandes decepções: achei que a Europa fosse um poço de cultura, e que as pessoas se banhassem nesse poço, mas não. Em vez de cultura eu me deparei com limitação e ostracismo. Orgulho e crueldade. As pessoas mudam quando vêm pra a Europa. Eu mesmo tenho que decidir se mudo ou não, na Europa. Foi aqui que eu entendi o que é o ódio e o que é o racismo. Também entendi o que é cultura, mas foi uma descoberta tão solitária que ela foi inibida a ponto de eu duvidar que essas três figuras possam existir separadamente.
Sim, as pessoas mudam. Não sei se para se adaptarem ou se elas mudam somente porque deixam a Europa subir à cabeça. Pode ser, também, que, alguns, cansados de serem pisoteados, decidem pisar, também. Mas o que acontece com os que não são pisoteados? Será somente a influência da Europa? E eu? Serei outra vítima da Europa? Ou eu não quero admitir que eu sempre fui cruel e, por isso, não mudei aqui? Ou será que eu sou fraco demais para lutar como igual com/contra os pseudo-europeus?
No Brasil, eu, como já disse, achava que a Europa era um poço de cultura por causa dos europeus que nos visitavam e pelos mentirosos livros que eu lia – e então eu generalizei. Chegando aqui eu percebi que existem dois tipos de europeus: os que viajam para o exterior e os que não – e ponto final. Quanto aos que viajam, sim, eles são pessoas abertas e que se permitem à viagem que eu me permiti, e absorver, do ar, o que o sítio tem a oferecer; sobre os que não viajam – ouso dizer que sejam 99,5% dos europeus, na melhor das hipóteses, que eles são xenofóbicos, apenas. Não quero filosofar sobre quão cruel pode ser o europeu eremita – eu já estou por demais decepcionado, sem ter que analisar. Mas digo que o ódio (não mais tão) silencioso contra os Estados Unidos, por exemplo, tem – e muito, fundamento. Entendo o porquê dos que não têm, preferirem destruir dos que têm, em vez de se apropriarem do que quer que seja. E também entendo os homens-bomba!
Não, não pensem que eu esteja falando de finanças, moradia ou vida social – sim, sempre pode ficar melhor, mas é que há outros maiores problemas que estes, e que são tão dolorosos, frios e solitários quanto, mas que em vez de doerem na carne, doem na alma. E a alma não grita de dor – ela apenas emudece, pouco-a-pouco.

14.8.07

Devaneios (perdi a conta)

Ouço ao “O Astronauta” e me pergunto se realmente a frazezinha (que legal: dois "zz" numa mesma palavra) do MSN reflete ao que realmente sentimos. Será que está atualizada? Não será apenas um trecho de música que faz sentido numa hora específica? O que será? Do que eu estou falando?

É o meu Cabernet falando – eu acho.

“Quando me pergunto
Se você existe mesmo, amor
Entro logo em órbita
No espaço de mim mesmo, amor

Será que por acaso
A flor sabe que é flor
E a estrela Vênus
Sabe ao menos
Porque brilha mais bonita, amor

O astronauta ao menos
Viu que a Terra é toda azul, amor
Isso é bom saber
Porque é bom morar no azul, amor

Mas você, sei lá
Você é uma mulher, sim
Você é linda porque é”

Faz tempos que eu queria postar esse poema do Vinicius. Aproveito o fato de estar “alto” pra fazê-lo. Pena eu ter limitado o meu blogger.... sinto tanto.



P.S.: Parabéns. Lu!


25.7.07

E depois?

"Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho,
pois cada pessoa é única
e nenhuma substitui outra.
Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho,
mas não vai só
nem nos deixa sós.
Leva um pouco de nós mesmos,
deixa um pouco de si mesmo.
Há os que levam muito,
mas não há os que não levam nada.
Essa é a maior responsabilidade de nossa vida,
e a prova de que duas almas
não se encontram ao acaso. "

(Antoine de Saint-Exupéry)

Mas e depois? Pra onde vão os amigos? Pra onde vão os amigos depois que cumprem sua missão na nossa vida?

Pergunta Retórica nº III

Será que a sensação de perder alguém é a mesma de quando se perde uma oportunidade?

Objetivo ou Obrigação?

As vezes penso que eu não posso seguir adiante se eu não fazer o que eu devo fazer. Essa sensação seria uma espécie de cardecismo em vida – sim, faz sentido, já que eu morro varias vezes em vida. E vendo Felicity eu me lembrei, com muita mágoa, que, pelos motivos errados, eu não fiz faculdade fora de casa, e que eu gostaria de ter estudado longe... foi quando o Izalty me perguntou: “e o que você está fazendo aqui na Inglaterra, Leo?”

Pode soar plano, mas parece que eu vim pra Inglaterra porque eu não fiz faculdade fora. Não sei que nome dar a essa sensação, mas parece que pode fazer parte do meu crescimento, ficar longe de casa. Digo “meu crescimento” porque outras pessoas precisam de outras coisas para valorizar a vida. Eu fico feliz por não ter que ser atropelado por um ônibus, mas me pergunto sempre: “o que eu vim fazer aqui?” E me pergunto, também: “o que mais que eu não fiz, ou deixei incompleto, e que eu terei que fazer? E como eu o farei?”

Afinal, pessoas que se encontram seguem um objetivo ou uma obrigação?

A Non Domino

Hoje eu fiquei em casa pensando.

Não que eu tenha tirado o dia pra pensar, mas com a Lu levando a chave de casa pro trabalho, ficou complicado sair. Foi então que me resignei e vivi prisioneiro de uma tarde helênica no meu quarto.

Sim. Quem me conhece sabe que eu adoro ficar olhando pro teto tendo pensamentos esparsos e tergiversando sobre esses mesmos pensamentos, fazendo de conta que eu poderia mudar a vida de alguém – incluindo a minha, com esses pensamentos. Acontece que eu estava preocupado uns dias atrás porque alguém me cobrou uma atualização aqui no blogger e eu não tinha nada pra dizer. Foi quando eu comecei a pensar em duas coisas: a) eu sempre escrevi para leitores hipotéticos, e nunca me preparei pra realidade; e b) a vida acaba quando não se a enxerga a todo instante.

Mas eu acabei não escrevendo logo em seguida porque eu preciso de silêncio pra refletir, e justamente silêncio é o que de mais escasso eu tenho hoje em dia. Sinto falta da minha privacidade. Talvez eu não produza com tanta intensidade porque eu não mais tenho privacidade, meu próprio espaço. E quando eu não penso, eu estou morto porque então não enxergo a vida em minha volta. É quando eu penso na morte. Penso na morte e em várias outras coisas, mas nunca no sentido prático. Como disse, sou completamente hipotético, e por isso, tímido ao extremo – sem coragem de admitir nem pra mim mesmos, os meus anseios. E por issopenso na morte: porque não tenho coragem de sair da hipótese. Sim, eu penso na morte, mas não como algo ruim. Tenho comigo que fatos que não podem ser evitados, não precisam ser sofridos – como a morte, por exemplo. Morte pra mim não significa dor, mas a falta dela. Vazio, pra mim, é sinônimo de morte. E estou morto quando eu penso simples, apesar de somente notar a minha morte em estagio avançado de putrefação. Feliz (ou infelizmente), sou uma fênix, no fim das contas, e volto mais forte, mas sábio, da minha morte. Mas será que pensamos simples a partir do momento em que nos tornamos simples? Será por causa desta tal simplicidade que eu só escrevo memórias? De que seria, isso, sinal: de que eu me censuro ou de que eu não me aprazo?

16.7.07

Viagem à Springfield

Pois bem... cansados de Reading, (na ordem da foto) Izalty, eu, Vanessa, Lu e Guto resolvemos que Springfield seria uma boa idéia prum roteiro de viagem.



12.7.07

Precious Things

No último dia três de julho, eu e o Izalty fomos assistir ao show da Tori Amos no Hamersmith Apollo, em Londres. Compramos os ingressos no dia 27 de fevereiro e mesmo assim os nossos lugares não eram os melhores – apesar de muito, muito bons! E pra melhorar, a Tori deu um presente pra gente quando ela errou a letra de Black Dove e improvisou lindamente uma musiquinha chamada Brain Fart, e emendou com Bliss – quando eu tive um ataque cardíaco...

Seguem fotos.

Eu e o Tino - sempre de olho fechado.

Falei que não estávamos no melhor dos lugares, mas imaginem que a câmera, por si só, já afasta um pouco a imagem....


Pois bem.. tá aí o improviso Black Dove/Brain Fart/Bliss.

Post validi scriptum:

Eu não tenho o habito de emendar meus escritos, mas desta vez faz muito, muito sentido acrescentar que, no caminho pro show da Tori, eu e o Izalty nos deparamos com umas figuras, dentro do metrô, tão, mas tão estranhas que ele disse: “Só podem ser fãs da Tori! Não tem outra explicação!”, e eu acrescentei: “É, são esquisitos mesmo, mas se você pensar bem, nós também estamos a caminho do show da Tori...” e só pra concluir; sim, os esquisitos estavam mesmo indo pro show da Tori - todos. E foi quando eu me senti dentro, dentro mesmo do clipe de Bliss.


Sim, amedronta, mas foi verdade...

25.6.07

O Quereres

Tem coisas que eu apenas quero. Mas têm outras que eu não apenas quero. Hoje, por exemplo, eu queria escrever, mas não sai nada, e pra não ficar muito direto, vou ficar por aqui. Não! Não vou ficar por aqui não! Vou me entregar: eu não sou sincero. Não sou sincero nem comigo. Eu não sou sincero principalmente por que tenho medo de gostar. Mas também tenho medo de me decepcionar comigo mesmo, por conseguir, também, as coisas que eu achei que queria. Tenho medo de descobrir que eu não as queria, e perder o meu refugio.

25.5.07

Digital Ghost

Decidi que hoje vou escrever como quem escreve um diário. E por isso eu vou! Ou não... Até eu tenho os meus dias de Gabriela. Mas, enfim, ao menos os adornos românticos eu acrescento, só pra fazer de conta que eu tentei. E assim eu finjo que consigo fazer o que eu aconselho!

Amem!

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Reading, 25 de maio de 2007 – sexta-feira.

Hoje eu acordei irritantemente feliz: saltei da cama as nove da manha com o ânimo dos vencedores. Parecia que eu reencarnara depois de dois dias sofrendo com o estômago querendo aparecer mais que o resto dos órgãos, mas a fome ainda não voltou – o que acho delicioso [com o perdão do trocadilho]. Como sempre, eu finjo esquecer que eu tenho uma vida a viver, e faço de conta que eu sou o centro do universo. De vez em quando funciona, como hoje. Éramos apenas, meu espírito e os milhares de encostos que me povoam. Agora estou eu aqui esgotado e entediado porque tinha algo brilhante em mente para escrever, mas sumiu tudo. Era algo que tinha algo a ver com o planejamento da minha morte. Sim! Era algo como eu entendendo que eu luto desesperadamente dentro de mim, pedindo ajuda para continuar vivendo, mas sabendo que se eu pedir ajuda, é porque eu quero mesmo é viver – então não peço. Mas daí eu me saboto escrevendo e então eu me entrego e entendo que, apesar do glamour da morte, o que eu quero mesmo é viver – seja lá o que signifique essa vontade.

Não sei se esse Blog faz bem ou se faz mal pra mim: ele me parece mais um fantasma digital que cria vida a partir das minhas palavras, e volta de vez em quando para se alimentar da fonte. Sim, porque quando eu penso que me esqueço das coisas, elas reaparecem para me relembrar que algo não está certo, e que algo tem que ser mudado. Todos querem mudar, de vez em quando. Uns cortam cabelo, outros compram uma roupa, e outros saem do país – o que une todas essas pessoas e o ledo engano na definição de “mudança” [não é sempre que as palavras são precisas], mas recorrer ao dicionário também não adianta. A partir daí erra-se, erra-se e erra-se. Algumas vezes porque não se quer acertar, mas algumas – poucas das vezes, na verdade, porque não se sabe exatamente o que se quer mudar.

Freqüentemente eu me canso, mas não tenho coragem de morrer. Creio que se eu estivesse ligado a uma tomada eu não teria coragem de me desligar, apesar de eu temer a mim mesmo outras vezes, e este desconhecimento de mim, que culmina com a possibilidade de eu querer o meu próprio mal me assusta, porque, apesar de odiar a realidade, não sei se a morte vai ser apenas uma continuação desta deplorável [não quero repetir a palavra “realidade” ou usar a palavra “vida”, por motivos óbvios e/ou pessoais], continuação desta deplorável existência. [okay, não foi uma boa palavra também, mas encaixa-se melhor e compreende-se bem o sentido] Eu me assusto com essa possibilidade! Portanto, eu me pergunto, enfim: Qual a vantagem de morrer e descobrir que se continua, substancialmente, a mesma coisa? Acho que não tenho coragem de morrer porque a confiança no fim me tranqüiliza, e não quero correr o risco de até isso eu perder e me decepcionar, inclusive, com a morte... Então eu me mato aqui no meu Blog, enquanto espero pelo fim dos ensaios. E ah, com a vantagem de que ao menos aqui eu posso ser o meu próprio fantasma digital.

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20.5.07

Sentado com os Caramujos

Cheguei em casa e a Lu não estava, o Izalty não estava e o Guto também não estava: ficamos eu e os caramujos na porta de casa comendo Pringles, tomando coca-cola e relembrando. É... parece que eu sou bom nisso porque a minha vida é um flash-back de um flash-back (ou se preferirem, um déjà vu de um déjà vu) - é cíclico do mesmo jeito!

Não faço mais nem idéia do que eu pensava, sentado com os caramujos, mas me lembro de estar em paz. Eu me senti realizado pelo simples ato de ver as luzes apagadas e ligar para cada um dos meus amigos e realizar que eu ficaria do lado de fora por um tempo. Sentia que não havia pelo que lutar, e por isso eu me resignei. Fui ao posto, comprei o Pringles e a coca-cola e vim tomando-a rua afora, até sentar diante dos caramujos. Eu me senti forte e poderoso tomando a coca-cola pela borda mesmo, desafiando os transeuntes. Eu estava feliz. Acho que ainda estou feliz... não sei direito. Tenho que degustar esse momento – não é comum não! Devem ser os caramujos...

19.5.07

Auto-suficiência

Eu estava deitado na cama e de repente percebi que estava em posição fetal. Não sei por quanto tempo eu me mantive nessa posição e nem o que os pensamentos desencadeados a partir de um certo momento têm a ver com ela. Também não sei porque eu me lembrei da minha mãe sussurrando ao meu ouvido um convite para ir ao country club. Eu devia ter uns quatro ou cinco anos, mas eu me lembro de como soava doce a voz da minha mãe, convidando-me para sair e nadar – que eu adorava, na época. A verdade é que de tempos em tempos eu mudo. Na verdade eu ouso pressupor que todos mudam de tempos em tempos, não por vontade própria, mas por necessidade. Acho que nem somos nós que mudamos, mas as circunstâncias: nós apenas nos adaptamos. Hoje em dia, por exemplo, não sei bem se a voz da minha mãe soava realmente doce, ou se o convite que era. Outra coisa da qual me lembrei foi do Luciano em Valadares, na minha casa, sentado no chão, ao lado do fogão, enquanto eu cozinhava. Na época eu ainda não havia descoberto o shoyo, e por isso ele não fazia falta. Mas a partir do momento em que eu o descobrira na sua geladeira, ele se fez elemento indispensável por anos e anos, até eu superar a sua lembrança. Bem, mas eu me lembro de como ele fora duro com a Lu, quando ela repetia, pela terceira vez, a refeição [desmedida é uma das marcas registradas dos Cardosos], e não sabia o porquê do sobrepeso. Meu pai também me visitou em pensamento, quando me lembrei de como ele exagerou exigindo que eu trocasse destemidamente a lâmpada queimada, mesmo sabendo que eu tinha tanto medo de ser exposto a choques elétricos. Eu chorei na época, mas eu não culpo o meu pai, mas o Igor, meu primo e suas superstições fundadas em mitos interioranos: o problema era que, até certa época da minha vida, o Igor era o meu herói, meu objetivo: minha vida somente fazia sentido quando chegavam as férias e eu o visitava, e passava o mês. Mas isso também mudou, e meus heróis foram se revezando com o passar dos meses, depois com o passar das semanas, dos dias, das horas... até que não mais se faziam óbvios. Foi uma pena quando me dei conta de que a excursão psicológica com a qual eu viajava tinha algo a ver com a posição fetal na qual eu me encontrava. Droga! Quebrou o encanto!

17.5.07

O Limite da Língua

Já lavei, separei e passei as roupas.

Arrumei o quarto e lavei a louça.

Almocei fora.

Fiz compras: comprei sapato novo, meias, namorei uma camisa linda que, de ultima hora, eu percebi que não queria.

Já fiz um pouco de tudo que costumava me acalmar, mas não deu certo.

Agora eu estou aqui diante do teclado, esperando por uma sentença que vomite esse vazio, essa sensação de impossibilidade Word adentro, e, por conseqüência, o sentimento, para fora.

Por um momento eu pensei que estivesse sorry, mas não, sorry é muito genérico para o que eu sinto. Sim, o Inglês é uma língua muito sintética, mas a falta de palavras para expressar o que eu [não] sinto é um limite natural, que até então era desconhecido de mim. E eu não estou dizendo que estou sem palavras porque fui pego despreparado, mas porque quero milimetricamente definir o que é esse não-sei-o-que que me limita o vocabulário. Ai... se o problema fosse apenas o limite vernacular... ah, como eu estaria tranqüilo. Bastaria comprar um dicionário grande, pesado – sem figura nenhuma e completamente distante, pra eu me sentir bem. Na verdade eu até gosto quando não entendo, mas o problema agora não é o não-entender, porque sim, eu entendo perfeitamente essa coisa que não é angústia, que não é tristeza, e que não é decepção, e que, por conseqüência, não pode ser somente sorry. Ou quem sabe pode sim? Quem sabe eu posso jogar esse não-sei-o-que no meio dos vários motivos pelos quais posso dizer que estou sorry, e varrer a sujeira pra baixo do tapete? É... vou fazer isso. Ao menos eu ganho tempo pra ser o meu eu analítico...

21.4.07

Urgência e Emergência

Há momentos em que filosofia vem de lugares em que não se espera algo mais profundo que um copo de whisky com energético: tudo faz um sentido esquisito, uma verdade definida – bem ao gosto de quem gosta da sensação de controle na vida. Sim, até os problemas são cíclicos, então, por que não me deixar apenas “ser”, sem muita interferência do self? Sei que estou nesse(a) “mood” quando os sentidos estão à flor da pele e eu tenho essa urgência de sentir e fazer de tudo, antes de morrer. Acho que eu só sinto essa emergência de vida porque eu estou procurando pela morte e lembro que eu não sou uma ilha e que o balanço das coisas é muito mais complexo do que apenas um eu que não tem coragem de pontuar as coisas devidamente – e sim, dói mais ainda porque eu duplamente não gosto dessas realidades (nem quando eu as invento). Queria, do fundo do coração, que as coisas fossem mais fáceis na minha cabeça, e que eu fosse menos acomodado – sim, também sou um paradoxo vivo. E adivinhe: também não gosto disso! Alias, acho que não gosto de nada que saia do mundo das idéias e deixa de ser misteriosamente inalcançável. Eu sei que já disse isso, mas preciso de mistérios pra viver. O que eu digo não faz muito sentido nem pra mim – acho que principalmente pra mim. Não, não faz porque eu me condicionei a esquecer as coisas, e fico, por isso, me repetindo.

De repente fiquei com raiva. Agora não é mais o sentido que ficou esquisito, mas o(a) “mood”. Calma! Odeio estrangeirismos! Odeio quando eu não uso meu vernáculo natural... é a minha maneira de me manter vivo, de saber quem eu sou, no meio de tantos eus. Calma! Não é isso que eu quero – não agora! Não quero sentir pena porque estou em estado de urgência! Preciso de um empurrão que me tire dessa inércia na qual se encontram todos os meus sentidos. (Não sabia que se entorpecia conscientemente também...) Como sempre, preciso de novidades. Desta vez eu estou me rendendo aos extintos mais primitivos que eu tenho (ou acho que tenho) e a fome dessa vez é de comida mesmo. Comida e teto. Acho que o céu não é mais o limite porque durante o caminho eu desisti do castelo e agora preciso da casa. Comida, teto e senso. Sim, minha vida precisa de um senso. Mais ainda do que preciso de um objetivo – o que começo a achar que é algo com o que eu não vou lidar nunca na vida. Começo a achar que minha mãe sempre esteve certa e é hora de baixar a bola. Posso jogá-la, arremessá-la – mas pra onde? Pra quem? ...tem muita gente jogando comigo e que já me jogaram a bola antes e não seria certo, nem moral devolver. Eu poderia jogar a toalha no chão mesmo, mas como eu já falei antes, eu não gosto das realidades nas quais eu sou inserido – nem das minhas e nem das dos outros. Não quero mais grama verde, mas feno. Apenas feno. Eu urgentemente preciso de feno, mas preciso plantar porque, como disse, estou com fome. E por enquanto é isso que sinto (ou ao menos acho que sinto) – já fui muito longe pra desistir.... mesmo porque desistir não é tão fácil quanto parece... ah... eu me odeio!

7.4.07

Dança da Solidão

...e foi quando me deu vontade de chorar. Eu me entreguei, mas o choro não veio. Acho que eu não sou capaz de genuinamente sentir porque eu sou analítico até quando tento ser espontâneo. Eu cantava "We've Just Began", dos Carpenters e eu me lembrei de um número de dança que eu e a Érica Gonçalves estávamos produzindo. Eram meados de 1993 e ela queria fazer algo com "La Isla Bonita", da Madonna... Curioso... Agora eu me peguei tentando compreender como, na minha cabeça, uma série de fatos estava concatenada e só agora eu me dei conta de que as ocorrências não são como eu as imaginava... Pois é, eu pensei que o número tinha sido em parceria com a Jaqueline, mas não. Na verdade eu nem sei com quem eu dancei. Na verdade eu não dancei. Calma! Deixa-me explicar: Bem, como eu disse, a Érica queria usar "La Isla Bonita" e por isso eu emprestei o VHS do "Girlie Show" - de onde saiu grande parte da coreografia. Acontece que eu tenho as idéias e depois eu me dou mal com elas porque eu insisto tanto em fazer as coisas do meu jeito que eu me envolvo de maneira tão intensa que eu não sei mais onde sou eu e onde e o projeto. Pois bem, teve um momento em que eu dei conta de que eu estava ensaiando para dançar diante da Escola toda, numa danceteria que fora alugada só pra esse evento. Claro que não éramos o número principal, mas eu me dei conta de que eu (eu, gente... logo eu!), eu ia dançar. E eu só me dei conta disso uns poucos dias antes da performance, quando, então, eu queria desistir. Não preciso dizer que foi uma comoção por parte das meninas. Eu quis desistir sim, mas eu fiquei com mais medo de provocar uma perda intencional do que um fiasco. Mas calma! Eu não sou tão altruísta não: eu só dancei porque as meninas ameaçaram mudar o numero se eu não estivesse presente (se elas dissessem que não dançariam, eu até aceitava, mas mudar minha coreografia era demais pra mim...) quando elas se apresentassem. Bem... não sei como eu estaria hoje se eu não tivesse dançado, mas esse número ainda é um dos momentos que sempre me vêm à mente quando eu não estou fazendo nada, e rio, sozinho, de vergonha – e volto pro chão! A apresentação não era para ser nada demais (...e não foi mesmo, claro – era muito amadorismo e vontade de chamar atenção). O problema veio foi anos depois quando me disseram que eu dançava mal. Ainda me lembro que eu gostava de dançar, mas alguém me disse, bem naquele auge da Lambada, que eu era completamente sem jeito, e a música fade out e eu me afastei da comemoração. E foi numa das comemorações, Natal, talvez, na casa do meu avo, em Caratinga – e depois disso eu nunca mais quis dançar. Eu me lembro também de uma vez em que a minha mãe não queria que eu dançasse com as meninas, na garagem de casa – ela queria que eu brincasse na rua com os outros meninos – mas o problema é que eu nunca gostei de brutalidades: desde pequeno eu amo a arte, mas do meu jeito de interpretá-la. Sim.. foi isso... Depois desse dia em que eu dancei diante da escola eu nunca mais dancei. Alias, dancei sim, mas pra mim – de olhos fechados e fazendo de conta que eu estou sozinho. Às vezes nem música eu escuto quando danço... na verdade talvez eu dance mal mesmo porque eu quero chamar atenção... na verdade, eu faço de tudo pra chamar atenção: eu erro, principalmente. Então, talvez, dançar mal seja uma maneira de chamar atenção pra mim, no fim das contas. Mas não são erros intencionais, na maioria das vezes. Grande parte dos meus erros é inconsciente mesmo, e eu só dou conta quando me pergunto pelo porque de errar uma coisa tão banal, tão besta, tão maçante. Além de tudo, acho que eu erro também porque eu esqueço... como por exemplo, na Inglaterra, depois de ver que eu não tinha chance de ser contratado com o meu currículo, eu omiti dados (muitos, aliás), prometendo pra mim mesmo que eu esqueceria que tinha feito certas coisas na minha vida – e esqueci mesmo. Por exemplo, quando, numa recente entrevista, a gerente da loja onde trabalho atualmente me perguntou o porque de eu dizer que eu seria uma grande aquisição para a equipe (na verdade eu usei um termo mais como “único”, “inigualável”), e eu me lembrei, por um momento, do meu passado, como num filme diante dos meus olhos. Eu me senti personagem da minha memória – em vez de protagonista. Daí, quando eu lembrei que tinha que esquecer, falei qualquer coisa idiota da qual eu não me lembro mais, e ficou por isso mesmo: eu não respondi.

27.3.07

E você, por que desvia o olhar?

(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarrá-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)

— Ah. Porque eu sou tímida.


(Adoraria ter sido eu o autor, mas o texto foi feito pela Rita Apoena)

17.3.07

Não quero!

Sorvi a coca-cola ruidosamente olhando com rabo-de-olho para a mesa ao lado. Eram uma família bonita de negros orgulhosos. Eram meio cafonas, para ser sincero, mas orgulhosos. Houve um momento em que o menino furtou uma batata do prato da sua irmã mais nova e ela começou a chorar. Eu estava tão vidrado na vida daquela família que, por um segundo, quis proteger meu prato de batatas também – mas resolvi que apenas as comeria. Levantei-me para me servir de mais refrigerante quando notei que a garotinha já não chorava mais, e comia o mesmo frango que eu comia. Senti-me unido a ela por um sengundo... Mas era o mesmo que o Izalty comia também – e provavelmente o mesmo que a outra metade do restaurante, mas eu me identifiquei com aquela menina, que já não chorava mais... Ela já não chorava mais e comia frango com toda delicadeza do mundo, talvez como se ela se sensibilizasse com a textura. Ela olhava pra cima enquanto comia, e entre uma garfada e outra, ela sorria pro irmão com aquele sorriso falhado típico de quem troca de dentes, e então ela pegou uma de suas batatas e ofereceu pro seu irmão, que aceitou sem dizer anda - apenas abrindo a boca orgulhosamente. E ambos trocaram sorrisos. E eu sorri, feliz com sua cumplicidade, imaginando-me servindo batatas pra Lu. Foi naquele instante que eu realizei como era ser parte da platéia, e me inquietei. Foi naquele momento que eu percebi que eu vivia uma vida anônima. Fiquei assustado com o fato de que fazer parte do rebanho aniquilava com os meus planos autodestrutivos. Senti medo quando percebi que fazer parte da platéia me mantinha vivo!

Divagações nº I

Fazia tempos que eu não odiava Sócrates, mas o sentimento voltou com força total ontem quando eu vinculei felicidade com esperança. Na verdade odiar Sócrates não resolveria o meu problema porque, no fim das contas, a suas idéias foram compradas: não foi ele quem as impôs. E mesmo se tivesse imposto, como eu convenceria a maioria? E quem disse que eu preciso convencer a maioria? Quem disse que eu quero? Não, não quero porque eu seria tão preconceituoso quanto eles, ao impor minha observação – que é minha, e não precisa ser de mais ninguém pra ser verdade. E verdade, pra mim, não é nada mais que observação – não observação no sentido vulgar, como Sócrates idealizou, porque toda experiência é sensível! Toda. Resta, ao fim, o que não se experiencía, e por isto tem-se que, de alguma forma, confiar no rebanho. Mas como, se eu não quero compartilhar das suas verdades? Sou obrigado. Sou obrigado a ser um ser social! Um ser social que não consegue ser sincero nem consigo mesmo: eis outro ser social!

16.3.07

A Felicidade....

Somente agora eu entendi que a felicidade vicia. Eu sempre acreditei que toda pessoa seria suscetível a um tipo de droga: uns viciam-se em álcool, outros em cocaína, outros em drogas mais pesadas. Eu já experimentei de um quase tudo, mas parei antes que eu encontrado pela droga que finalmente me viciasse... mas eu achava que apenas as drogas viciassem – ou, quem sabe, eu tinha um conceito muito estereotipado de drogas?

...até então eu nunca tinha pensado na felicidade como uma droga! Sim, droga, porque proporciona prazer em doses devidamente provocadas, causa dependência e requer quantidades cada vez mais intensas para proporcionar o mesmo prazer. E por causa disto vive-se perigosamente porque muitas pessoas acreditam que o objetivo da vida seja ser feliz... mas esse assunto já me cansou. Já tenho o meu conceito de felicidade. Só que agora, não sei ainda muito bem como, vou ter que colocá-la no mesmo patamar que a esperança.

Ai... eu tinha outra coisa completamente diversa do que eu escrevo agora, preparada em minha cabeça. Queria falar de... ah, não sei mais sobre o que eu queria falar. Acho que “a felicidade” se apossou de mim e quer ser examinada outra vez. Sim, outra vez. Interessante como esse tema me persegue e cada vez mais me surpreende! A felicidade está sempre me procurando pra conversar... Opa! Calma lá! Isso ta ficando sério porque eu sempre acreditei que a felicidade fosse um objetivo humano, uma coisa boa demais – mas agora estou outra vez perto de Nietzsche! Se não e a felicidade que eu devo almejar, o que será? Será que o problema com ela e que eu considero a felicidade boa demais? ...mas pra mim também?!


7.3.07

Outonando (ou: Primaverando).

Se me perguntassem como eu estava há uns dias atrás, eu não sei o que diria, mas não seria muito otimista. Hoje, no entanto, eu amanheci. Eu senti orgulho de mim. Não digo que eu tenha voltado a contemplar à vida, mas não mais estou mais outonando (gostei de criar esse verbo!), mas talvez primaverando. Uma das coisas boas foi o fato de eu compreender para onde foram as coisas que eu já aprendi. Para onde? Não sei... sei que as esqueci. Aprendi que é preciso aprender, aprender, só pra depois esquecer. Acho que estou descobrindo que só se é livre depois que se esquece o que aprendeu. Sim, porque depois de uma jornada, não somos capazes de ser a mesma pessoa de antes – torna-se algo novo. Algo novo que não esquece, na verdade. Ou se esquece sim, talvez, mas só pelo prazer de achar de novo, e de novo, e ficar feliz porque lá no fundo, já se sabia. E até disso eu já sabia – pro meu espanto. Mas descobrir o que eu já sabia não me deixa feliz – eu já teria previsto essa possibilidade, ou mesmo o prelúdio dessa felicidade, já que eu estou tão clarividente hoje... Eu fiquei incomodado com essa palavra que acabei de usar: clarividente. Não gostei, eu acho. Ao contrario de “aventureiro”, que foi como um colega me chamou, num scrap por ocasião do meu aniversário. Quer dizer então que prefiro ser aventureiro a ser clarividente? Mas, quer dizer, no fundo, não e a mesma coisa? Os dois não lidam com o desconhecido, com a novidade? com a possibilidade?! Olho fixo pro teclado. Quero fotografar o que se passa pela minha cabeça. Mas é impossível: enquanto eu tentava fotografar o meu estado de espírito, fui pego por uma ansiedade, uma excitação de desafio – e a minha musa fugiu, de repente. Não. Definitivamente ela não fugiu – eu que não quero dizer: é meu e somente meu o que aconteceu. Mas para não dizer que sou egoísta, vou deixar um espaço em braço pra que você também possa ficar a sós com a sua musa. Sim, intimidade é isso sim. Quero ficar sozinho. Intimidade é a vontade de potência!










[enjoy the silence]








24.2.07

Inferno Astral - Parte II: Amém

Saí com pressa do banho porque eu tive um insight ao chuveiro, e lá dentro eu não podia escrever. Foi doloroso! Não... foi cruel. Cruel como adiar o gozo. Fiquei marcando as idéias, passo-a-passo, como numa aula de dança. Mas não era a mesma coisa: as idéias desciam pelo ralo junto da espuma, em espiral, confusas. Confusas como elas nasceram dentro da minha cabeça. Eu me vi com o sabonete na mão direita parado sobre a barriga e com a boca entreaberta e a água escorrendo pelos cantos da boca. De vez em quando a água me cegava quando entrava nos olhos, e ardia. Outras vezes eu sentia o gosto adocicado do sabonete dentro da boca, mas não tão doce a ponto de evitar que eu divagasse tentando eleger o momento em que eu mais fui feliz na vida. Avaliações desse tipo são muito comuns nas vésperas dos aniversários – pensei, mas o que me intrigou foi o fato de que eu me pegava re-exercitando um tema que eu tinha superado: felicidade.

Acontece que enquanto a água escorria pelo ralo eu percebi que eu não tinha superado o tema. Sim, superar é a palavra correta porque não se esgota o que é etéreo. Eu sei que vez ou outra eu poderia reavaliar meus conceitos, mas não com tanta freqüência. Achei que fosse assim... Foi então que me ocorreu que eu não tinha superado o tema, mas apenas pensado que o fizera. “Onde foi que eu errei?” – quis saber. Pensei onde eu poderia ter errado, mas o que vinha à tona eram apenas imagens desconexas de épocas em que eu não era eu mesmo. Épocas em que eu sabia o que eu era, mas não era, no fim das contas. “Mas quem sou eu?”, perguntei-me, e a resposta foi a certeza de que eu só fazia a reavaliação da minha vida porque eu não sei quem eu sou agora. Só agora me ocorreu que eu nunca soube quem eu sou. Eu me satisfazia identificando o que eu estava, mas nunca me preocupei tempo suficiente para entender quem eu era e descobrir o nome pelo qual eu me chamo, em vez de Leonardo, que é como as pessoas me chamam. Mas, sim, sem identidade. Perdido dentro de mim como apenas eu poderia estar – sem capacidade nem para me identificar com uma imagem “qualquer”, porque senão eu estaria me encontrando, de alguma forma. Outro dia ouvi dizer que perder-se também é um caminho...

Eu me lembro bem de estar entediado e em busca de desafios, mas eu estou enfrentando muitas dificuldades para me encontrar de novo. Infelizmente o que eu já fui, o que eu achava que fosse, ou o que eu queria ser – nada disso tem importância agora. Eu até grito, mas quando me ouvem eu fico quieto pra não me encontrarem... e mesmo quando eu não quero, eu me saboto. Eu não sou um adulto em corpo de criança a quem é dada uma segunda chance de recomeçar, usando a sua experiência – sim, eu cheguei a acreditar que isso fosse verdade. Mas não: eu sou uma criança em corpo de adulto que é amaldiçoado com o fardo de ser novamente o que ela mais abominou ser – uma criança.

Não, eu não quero ser uma criança outra vez! Que tipo de lição seria essa que eu tenho que aprender agora? Quando foi que esse maldito anjo me ouviu dizer que eu queria ser diferente? Quando foi que ele falou amém? Será que esse anjo idiota não percebe quando estou fazendo apenas drama? Por que a verdade tem que me ser jogada na cara todas as vezes? [pausa] De repente eu me peguei horrorizado com a pergunta que eu acabei de fazer! Estou pasmo! Será que eu sou tão idiota como eu soei agora? Quem mais me enxerga assim, meu Deus? Anjo, obrigado!

Vêem? Enquanto eu escrevo já vou me consolando e me abastecendo de fé. Às vezes não sei se eu não tomo a iniciativa porque eu não serei mencionado no jornal... às vezes acho que não o faço porque meu pai me fez prometer que eu me cuidaria... outras porque eu sou apenas uma criança no fim das contas... eis então que o que me resta pra distrair da vergonha que sinto por não ser sincero comigo é pensar em coisas que podem ser mencionadas em voz alta – sem vergonha, como: quer dizer então que as coisas que eu esqueci que sabia não se perdem: elas apenas precisam de reavaliações até ficarem satisfatoriamente polidas? ...e assim, mais uma vez, eu me consolo e sublinho o que eu posso dizer em voz alta.

11.2.07

Strike a Pose!









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10.2.07

Inferno Astral - Parte I: Objetivo vs. Propósito.

Eu não gosto de frases conclusivas porque elas me prendem num universo finito de possibilidades estéreis, já que pra qualquer direção que eu me vire, eu morro. Por isso eu me escondo nas reticências... elas me dão uma pausa pseudo-“ad aeternum” para eu me decidir o que (se) fazer do pensamento... mas quando a pausa acaba, eu me levanto. E eu acabei e me levantar.

Na verdade, tive forças pra sair da cama porque eu precisava escrever. Eu me peguei alerta mas ainda de olhos fechados, lutando contra um sono que me impedia de dormir, já que sonhar me é piedoso: sonho demais acordado, e, por isso, quando durmo, descanso dos sonhos. Era mais uma daquelas vontades emergentes, e por isso mesmo, urgentes de escrever e vomitar um não-sei-o-quê que me entalava a garganta, mas não me deixava vomitar. Nunca consegui provocar vômito. De vez em quando me pego diante do espelho olhando pra garganta e imaginando quantos centímetros de dedo eu ainda precisaria pra alcançar um local eficiente, já que nem o cabo da escova de dentes não faz o trabalho. Eu estava cansado de repetir que “eu decido se vou ficar feliz ou se vou ficar triste”, na esperança de que eu acreditasse. E por isso esse pensamento se repetia com força determinada e destemida enquanto ele me dava vontade pra esquecer dos problemas e focalizar na análise da frase, que já era mais sintática do que de auto-ajuda... Mas não adianta, ainda estou sob influência da Laura Brown. Deus, será que depois do filme eu fiquei preso a ela, ou será que o filme apenas deu um nome a minha angústia? Vou escrever a ermo e tentar me decifrar depois, se for possível.

Agora a pouco a Lu me falou que a Inglaterra faz bem pra mim... que eu fico mais bonito. Como eu devo entender isso? Eu quero ser bonito? Claro que ela teve a melhor das intenções, mas estar (ou ser) bonito e tão importante? Por que eu me importo tanto com aparência? Terá ela falado que eu estou bonito porque eu não sou bonito? Ou ela simplesmente quis dizer que ela também queria vir pra Inglaterra e sair da masmorra? Minhas fotos vendem uma imagem sincera do meu reflexo? Ah... Por que eu não consigo ser plenamente feliz? Será que eu me divirto me culpando, porque algo não vai me fazer bem? Quer dizer, eu me divirto mais me pré ou pós-julgando? Posso não me sentir bem querendo ser bonito, mas eu me envaideci todo quando me disseram que brasileiros são atraentes (mais uma vez aparência). ....ser brasileiro nao dava margens para exclusão, se fosse verdade a premisa. É que eu me apego com unhas felinas às ultimas fibras da brasilidade dentro de mim. Acho que o Brasil é o que resta de mais primitivo em mim... E eu não quero me perder por completo. Algo tem que ser meu, enfim. Tem algo em mim que eu amo e não quero perder. Tem algo dentro de mim que me baseia, e eu não posso perder, sob risco de ruir! Nunca se sabe qual dos nossos defeitos sustenta todo o nosso ser, afinal... Mas e quando for hora de me despedir? – nada é eterno! Quem eu vou ser depois de não ser mais quem eu (acho que) sou? E como eu vou me lembrar, quando velho, do meu eu de agora?

Eu me peguei pensando em como é pesado imaginar um propósito pra vida. Uns inspiram os outros, e são personagens principais, mas outros servem de subterfúgio e plano de fundo para a ação dos primeiros. Quem sou eu nessa história? Em que pensa quem tem experiência de vida? Como ficam as marcas do tempo quando ele passa? Eu tenho 27 anos e vivi menos que a pena máxima de prisão no Brasil, mas como deve ser a cabeça de quem viveu mais que isso? Um dia além do que me foi dado me excita... um minuto extra me supera! Sim, pode ser ao menos um minuto além! Sim, claro, os eventos mais importantes sobrepõem os menos importantes, mas qual será o meu critério quando eu envelhecer? Trarei questões subliminares à tona, ou o quê? Por que eu ficarei triste no futuro? Qual é o propósito da minha vida? Ou mais “facilmente” falando: qual é o meu objetivo? Como deve ser perceber que se mudou? Eu me sinto o mesmo desde quando eu tinha sete anos de idade. Eu apenas adquiri conhecimento, mas eu ainda sou o mesmo. Como deve ser a sensação de que não se é mais o que se é?

Eu me lembro de uma despedida marcante. Algo como uma apoteose, quando eu fui embora de Manaus e a Dani, dormindo, levantou-se da cama com os olhos ainda fechados, enrolada nos lençóis, me abraçou e beijou, e depois voltou a dormir. Ela fez mais em um beijo do que todos fizeram em uma semana. Na verdade, minha viagem a Manaus se resume naquele beijo de despedida: sincero, impessoal e definitivo. Acariciava e me confortava de uma distância segura, sem prometer mais do que se pode ou tem intenção de cumprir. Aquele abraço foi melhor do que a sensação desoladora de sair do carro e, depois de três passos, virar-me para trás e não ver mais ninguém. Sensação de sonho... Não sonho no sentido de esperança, mas no sentido de solidão... solidão sim, porque no fim, não passou de algo dentro da minha cabeça. Aquele abraço se tornou o objetivo da minha vida. Foi a partir dele que eu aprendi que era importante deixar ir embora. Só não aprendi como...

26.1.07

Girl, Interrupted: Quotes

Susanna: [narrating] Have you ever confused a dream with life? Or stolen something when you have the cash? Have you ever been blue? Or thought your train moving while sitting still? Maybe I was just crazy. Maybe it was the 60's. Or maybe I was just a girl... interrupted.
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Susanna: I know what it's like to want to die. How it hurts to smile. How you try to fit in but you can't. How you hurt yourself on the outside to try to kill the thing on the inside.
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Susanna: [narrating] When you don't want to feel... death can seem like a dream. But, seeing death - really seeing it... makes dreaming about it fucking ridiculous.
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Georgina: Lisa? Is Daisy really getting out?
Lisa: Yeah, she coughed up a big one.
Susanna: But how could - I mean she's... *insane*.
Lisa: Yeah, well that's what ther-rape-me's all about. That's why fuckin' Freud's picture's on every shrink's wall. He created a fuckin' industry. You lie down, you confess your secrets and you're saved. Ca-ching! The more you confess, the more they think about settin' you free.
Susanna: But what if you don't have a secret?
Lisa: Then you're a lifer, like me.
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Susanna: I'm ambivalent. In fact that's my new favorite word.
Dr. Wick: Do you know what that means, ambivalence?
Susanna: I don't care.
Dr. Wick: If it's your favorite word, I would've thought you would...
Susanna: It *means* I don't care. That's what it means.
Dr. Wick: On the contrary, Susanna. Ambivalence suggests strong feelings... in opposition. The prefix, as in "ambidextrous," means "both." The rest of it, in Latin, means "vigor." The word suggests that you are torn... between two opposing courses of action.
Susanna: Will I stay or will I go?
Dr. Wick: Am I sane... or, am I crazy?
Susanna: Those aren't courses of action.
Dr. Wick: They can be, dear - for some.
Susanna: Well, then - it's the wrong word.
Dr. Wick: No. I think it's perfect
---
Susanna: [reading from a book] "Borderline Personality Disorder. An instability of self-image, relationships and mood... uncertain about goals, impulsive in activities that are self-damaging, such as casual sex."
Lisa: I like that.
Susanna: "Social contrariness and a generally pessimistic attitude are often observed."
[pauses]
Susanna: Well that's me.
Lisa: That's everybody.

24.1.07

Vô Cardoso

Sim, meu Avô.

Hoje faleceu meu Avô (com "A" maiúsculo.)

Eu não posso dizer que eu tivesse um avô perfeito, daqueles de história do Monteiro Lobato... Aliás, meu avô não podia ser a Dona Benta, e Monteiro Lobato nunca escreveu sobre um avô. O fato é que o vô Cardoso não foi mais presente na minha vida porque eu não dei muita intimidade para ele: eu nunca estive perto tempo suficiente pra tal, mas a cada conversa que tínhamos, eu me encantava com a sua sabedoria.

Sim, era um homem sábio. Sábio demais, devo admitir. Era também um homem justo, sério e, entre milhares de outras qualidades, honesto também. Meu avô era daqueles homens dignos de filme. E eu digo isso sem medo de soar demagógico, porque todos os netos concordam com o fato de que o vô Cardoso era “ótimo”, “gente boa”, e outras coisas mais que não se atribuem a um avô, mas a um amigo. E a opinião de que ele era um homem sério não vinha somente da família: eu tive diversas oportunidades de sentir o respeito que as pessoas tinham pelo homem imortal que ele é! Que qualquer um experimente mencionar o nome do José Cardoso Dias na região de Caratinga, que um tapete vermelho ornado de rosas será estendido diante de si. Mas o orgulho do meu pai, por si só, ao falar do vô Cardoso era motivo mais que suficiente pra eu idolatrá-lo também. De peito estufado e olhos úmidos meu pai contava milhares de vezes as façanhas da sua infância e juventude – sempre com meu avô intermediador e justo nas arestas. E porque se meu pai, que é o meu modelo de perfeição, o idolatrava, eu o amava também, e ponto final. E acontece que eu amo o vô não por causa do meu pai, mas pelo homem contemporâneo e de cabeça cheia de idéias vanguardistas que ele foi.

Houve uma época em que eu não gostava de ir à casa dos meus avós, e eu mesmo não sabia o motivo. As férias em Caratinga sempre eram interrompidas pela carranca do meu pai, por eu não gostsar de visitar os seus pais. E que a verdade seja dita: eram muitos os netos. Muitos netos pra disputar a atenção de apenas dois avós. Sim, era ciúme... E tempos depois eu fui surpreendido pelo entendimento de que eu também morava no coração deles. E no começo eu pensava que era querido porque eu fosse um dos netos “doutores” na família ou porque eu era filho do Cardosinho, ou Zé Baixinho – como chamavam meu pai; mas não: aquele homem me respeitava também. Ele me respeitava, e eu me encho de orgulho por o meu avô, o Homem que ele era, me tratar como igual!

Engraçado... Toda a minha vida eu fui chamado de Catatau. Diz meu pai que meu avô media minhas perninhas usando as mãos, palmo a palmo, quando eu era bebê, e ria-se, imaginando se eu alcançaria ao menos do tamanho do meu pai. E uma vez, meu pai, vendo que não mais adiantava brigar, me colocou contra a parece e quis saber o porquê de eu não gostar de visitar meus avós. Eu, meio sem saber – sem graça ao ver meu pai desarmado, disse que era úmido demais o quintal, e que tinha mosquitos que me picavam e me deixavam empolado. Mas somente anos depois eu percebi que a casa era úmida sim, mas o real motivo para eu não gostar de visitar meu avô era por causa do meu horror ao, certa vez, constatar que eu já era mais alto, ao menos fisicamente, que o mais alto dos homens, na concepção do meu grandíssimo pai.

Vai com Deus, vô Cardoso, e aproveita o seu jeito mansinho e jeitoso de conversar, e vai falando aí com São Pedro pra deixar a gente entrar quando for a nossa hora. E, pra não perder nunca o costume: a bênção, vô Cardoso! Pra sempre, vô , a sua bênção...

O que estraga a felicidade é o MEDO!

Eu estou aliviado! Posso, enfim, voltar a respirar... E recito:

“Mas não há paixão sofrida em dor e amor a que não se siga uma aleluia!”
Acabei de me re-descobrir, recuperar minhas forças: passou a escuridão! Aceitei que a vida não pode ser vivida, sem os riscos que acompanham. E, com isso, descobri que a história só faz sentido pra quem a viveu, ou vive. Quer dizer, antigamente eu acreditava que a História existia para que não fossem re-cometidos os erros do passado, mas essa é uma concepção ignóbil. Egípcios, Sumérios, Gregos. John Kennedy, Jesus Cristo, Marilyn Monroe. Bomba atômica, Avião, Acarajé: cada um desses signos só faz sentido pra quem os consegue viver. A História somente faz sentido pra quem a vive, meu Deus! Eu não nego a necessidade da História, mas a obrigatoriedade de utilizá-la! Cada um dos elementos da História só faz sentido para quem, mesmo que indiretamente, já os experimentou – para os outros eles não passam de mera especulação. Isto é, cada um deixa seu legado, mas somente faz (bom) uso desse legado quem o quiser utilizar. Pra que viver a vida calculando cada passo, se, no fim das contas, tudo é quântico? Pra que viver uma vida de status, se não se pode comê-lo, vesti-lo, vê-lo?

Eu não quero ser personagem da minha história: eu quero ser a minha própria história! Quero que a minha vida faça sentido pra mim... e só pra mim! (se alguém quiser entendê-la, que tente – não vou dificultar e nem facilitar: vou apenas viver!) Eu quero experimentar as coisas quando delas eu precisar, e não porque alguém já passou por um caminho parecido e diz que já prevê como as coisas podem terminar. Obrigado, mas não quero conselhos! Eu não quero uma vida analisada e cheia de marcos através dos quais eu possa contar os anos. Pra ser sincero eu quero mesmo é uma vida cheia de vida, e não de fatos. Quero acertar, mas quero errar também, mas quero ter orgulho dos passos que eu der sozinho, sem depender de uma terceira perna que em apóie no chão.

Uma vez eu quis ser famoso – eu quis ter uma terceira perna... Mas eu não sei o que é a fama porque eu nunca a experimentei como eu imaginei que fosse. Claro que, olhando pra trás, eu tive algum reconhecimento e fui seduzido pelos minutos que a tive em minhas mãos... Engraçado: só agora eu percebo que não foi a fama quem me seduziu, mas o tempo em que eu a senti de perto. E a fama vicia! Eu não guardei, por exemplo, a sensação de ter ganhado o concurso de monografias na faculdade, mas as imagens que eu fiz da cerimônia. A fama vicia porque se acostuma com atenção – é muito bom ser levado a sério! Eu sempre fui uma pessoa de imagens, mas não porque eu as gostasse de ver – muito pelo contrário: eu sou uma pessoa de memória visual porque eu as uso pra me esconder.

E daí que agora eu estou num lugar onde ninguém me conhece? Nunca foi das pessoas que eu me escondi... é de mim o tempo todo que eu me escondo – e esse eu sempre acho.

21.1.07

172 (ou: Ruínas)

Faz uns dias que eu estou na adorável Inglaterra. Bem, como sempre, uma frase solta me faz pensar em algo que, de uma certa forma, se conecta, no fim (mesmo que forçadamente)... mas estar na Inglaterra me fez lembrar que os esquimós têm 12 ou 13 palavras que designam tons diferentes de branco e já que eles podem, por que eu também não posso dizer que existem tipos diferentes de frio? Certo, certo.. nem tão polêmica é a minha afirmação, mas eu queria era dizer que Turin está mais fria do que aqui – mas não é o mesmo tipo de frio não! Faz um frio seco em Turin, e frio úmido aqui em Reading. Mas eu não vim falar sobre o frio daqui ou o frio de lá – vim falar de decepções – que também remete a “frio”.
Ainda não entendi a Inglaterra. Essa falta de postar se resume sim, nisso. Não escrevo porque não tenho, simplesmente, o que escrever. De vez em quando eu sinto alguma coisa, mas esse instante fugido só se revela ou dentro de uma danceteria, ou num momento de vento muito forte – talvez só pra eu não poder anotar: daí eu guardo na memória, mas o instante não mais está lá. Penso que isso se deve à Seleção Natural de Darwin, em que os instantes mais fracos sucumbiriam diante dos mais fortes. Portanto, se a falta de sensibilidade diante da Inglaterra pode estar ligada a um sentimento interrompido, talvez – como num tratamento psicanalítico, se eu trazê-lo à tona, ele se dissolva e dê lugar a outros, permitindo que eu... ah, enfim, que pare de me enervar! O que não me foge da memória a lembrança das limpezas no meu quarto quase que semanalmente, pra satisfazer a minha necessidade de organização na vida. Bem, eu inaugurei, conscientemente, a minha chegada à Inglaterra com uma big faxina na casa do Izalty – junto dele, claro. Mas antes de aspirar o quanto, tiramos o pó do aspirador – estava sujo demais! E na mesma tarde me peguei diante da Clarice me perguntando:

“Se recebo um presente dado com carinho por uma pessoa de quem não gosto – como se chama o que sinto? Uma pessoa de quem não se gosta mais e que não gosta mais a gente – como se chama essa mágoa? Estar ocupado, e de repente parar por ter sido tomado por uma desocupação beata, milagrosa, sorridente e idiota, como se chama o que se sentiu?”

Meu sábio pai uma vez me disse que apenas te decepcionam as pessoas em quem se confiam. Fiquei perplexo, mas depois de examinar bem, vi que era verdade porque nunca se dá oportunidade para um estranho te decepcionar. E acontece que o tombo é ainda maior quando não se tem nem coragem de dizer como foi o tombo. Só consigo dizer, sem reviver o trauma, que o meu coração está em ruínas. Também estou decepcionado com o fato de que “nenhum” restaurante fabrica sua própria comida aqui em Reading. Aliás, fabricam sim, mas industrialmente! Nada é, como se diz, feito em casa. E o pior: por conta dessa industrialização, os funcionários da cozinha são justamente aqueles que ou não falam Inglês ou são ilegais no país. Isso significa que o meu sonho de trabalhar com gastronomia de verdade vai ter que esperar um pouco mais de tempo, até eu ter condições de ter meu próprio restaurante...

(...)

Fiquei bobo, de repente! Calma lá! Já estou desistindo - foi isso que eu entendi? [pausa para água] Andava de um lado pro outro pelo quarto, com um copo d’água passando de mão em mão, boquiaberto e fiquei com medo de ter desistido! Mas e se, em vez de desistir, eu estiver mesmo é chegando à conclusão de que esse “sonho” era só um pretexto? Acontece que eu acreditei nesse sonho! E eu me confundi: não sei se essa (pseudo)desistência é ou não é saudável. Digo, será que eu deveria adiar o que eu disse que vinha fazer aqui por conta dessa dificuldade? Ou será que todo tempo eu amava o que eu fazia, mas queria mesmo era fugir, e passei a acreditar demais no motivo que eu criei. Será mesmo que eu enganei até a mim mesmo? Não... eu definitivamente queria mais. Ou simplesmente não queria mais o que eu tinha – tive certeza dessa parte quando eu visitei Valadares e senti pena dos meus pais naquela cidadezinha, pena dos meus amigos por fazerem a mesma coisa sempre e sempre, como vaquinhas de presépio. Mas isso justifica o fato de eu ter vindo pra tão longe? Ou serei eu a vaquinha de presépio? Não seria mais fácil simplesmente mudar de cidade, ou de Estado? Não... eu queria a cidadania. Na verdade, penso que a própria ânsia de oficializar a cidadania me desgostou, aos poucos, da minha vida. Acho que agora eu entendi... a pergunta-chave é: qual a vantagem de se ter cidadania Européia, vivendo no Brasil? Claro que essa é uma pergunta essencialmente retórica na qual eu embuto outra forma de sofisma – ao menos essa é a intenção. Ao menos agora eu me sinto como, quando eu tinha meus 5 ou 6 anos, eu queria, porque queria tomar leite de coco. Cozinhavam uma peixada, e eu me apaixonei pelo aroma do leite de coco. Pedi um pouco e me deram uma colherada. Pedi mais e ganhei outra colherada. Pedi tudo, e com paciência de relojoeiro venci a cozinheira que me deu toda a garrafinha. Acontece que eu não queria o leite de coco: eu só queria vencer a argumentação. Até que, não sei se por perceber minha falta de jeito com a garrafa na mão, ou por simples raiva de ver uma criança sendo mimada, alguém – sem nem saber, salvou-me daquela garrafa odiosa, daquele elefante branco, destinando-a ao peixe. Mas quem me salva agora do meu passaporte?