22.11.07

Eu escrevi pra ele/Círculo Vicioso



Sim, eu escrevi. E como em todo momento da minha vida, eu espero pelo melhor – mas quase nunca acontece o melhor. Eu me lembro de como eu sempre contei com a sorte e, quase sempre, na faculdade, por exemplo, eu não estudava para as provas e morria de medo do resultado, mas esperava pelo melhor... sempre. Era a minha maneira de desafiar ao Deus e provar que Ele não aceita contratempos. Então, como parte da minha tênue teoria que só queria mostrar que era Ele quem mandava, acontecia o contrário do que eu esperava. Acontece que eu sempre jogava dos dois lados – ciente que eu era da teoria, e previa o que poderia dar errado – ou o contrário do que eu esperava. Então eu ficava num dilema teodicênico, porque eu sempre perdia, sem saber se porque, prevendo ambas as possibilidades – sim e não, Ele me deixava com o talvez na cabeça. Eu fico confuso ate hoje porque o talvez está entre o sim e o não: e este sou eu! Então eu penso que eu não sou tão positivo assim, como eu acho, porque eu sempre perco quando espero que as coisas aconteçam porque: tanto faz o que eu preveja – mesmo que eu fosse ao todo dos dois extremos, acontecia o pior (quando eu espero pelo melhor)... só que o oposto também acontece, meu Deus!
É uma relação complicada porque eu me precavejo de hipóteses e possibilidades, mas sempre esperando pelo contrário – mas o que é o contrário do contrário? Posso dizer que tudo se resume à primeira impressão ou é complexo mesmo – e só funciona se eu der todas essas voltas?
...e, pois é. Ele não respondeu.

Para o Marcelo


Ouro em Pó

Eis que de repente um cheiro me levou pra outras vidas:
Eu estava lá. Nós estávamos lá.
Refletindo os seus olhos no meu prato, eu via a sua alma.
E a gente confraternizava, e a gente se comia.

Foi então que você me deu o Pedro de presente,
E disse que Caio tinha lhe dado o Pedro,
Mas que daquele ponto em diante eles eram nossos.
E será que eu tenho? – é claro que eu tenho todos vocês
Numa imagem só minha, na minha cabeça. Mas você,
Você eu tenho no coração.

E n’outra vida eu choro,
E você me diz: “goze cada sorriso,
Você não pode ver no escuro, mas
Apenas esperar por que o dia nasça”
(Por que o tempo passa, tão rápido, meu amigo?)
Foi hoje que eu entendi,
Olhando pra trás,
Que caminhamos com ouro em pó
(contra o vento)
Nas nossas mãos...

Malvado



De tempos em tempos eu reinvento a minha máscara. Eu queria que ela fosse ácida agora. Acontece que, nesse momento, eu sou tudo o que eu não queria: etéreo.

Sobre o que eu quero escrever?



Há uns dias atrás eu notei duas linhas diferentes nas minhas mãos. Fiquei curioso e, por dias, eu ensaiava pesquisar o significado daquelas novas linhas. E antes de ontem eu me lembrei de procurar e descobri que as linhas novas nem eram importantes – na verdade elas nem eram listadas nas linhas legíveis... Foi então que eu me deparei com a pergunta: era vontade de encontrar alguma novidade na minha vida – mesmo que a novidade fosse uma constatação do meu dia-a-dia? Ou era desespero pra escrever?
No entanto, eu já percebi que só escrevo quando tenho o que contar – ou seja, quando vejo as coisas e as descrevo (eu só sei escrever assim!). Escrever, pra mim, sintetiza a vida. Eu me sinto vivo quando eu escrevo.

7.11.07

Gold Dust...



Hoje eu estava caminhando - voltando pra casa, e senti uma saudade, um aperto no peito. Sim, eu sinto falta de muita coisa, mas de nada, ao mesmo tempo: não sei explicar. Prefiro chamar de melancolia a tristeza que eu não consigo – e nem quero, explicar. Fiquei pensando a tarde quase toda no Samuel. Lembrei, com aperto no coração, que eu sabia que ele iria em breve – mas meio sem saber... mas eu sabia. E o mesmo aconteceu com o Jacko. Eu sabia que estava na hora de ele ir e eu fiz coisas que eu normalmente não fazia: eu tive a oportunidade de lhe dizer adeus, e eu o fiz. Hoje eu me arrependo de coisas que fiz e que deixei de fazer, enquanto ele estava vivo, mas não carrego a dor de não tê-lo dito adeus – a lembrança do momento em que eu o olhei nos olhos e disse que o amava, ainda me dói. Como ele teve coragem de me deixar? – aquele egoísta! Que droga! Já que eu tenho esse dom de ver no escuro, eu também queria poder entender o que eu enxergo, só pra ter certeza de que eu posso viver sem o medo de ser a ultima vez que eu vivo. Sim, porque dói muito ver o tempo passar e me ver a cada dia, potencialmente mais só. (Sim, eu quero uma mão amiga apertando a minha quando eu me for!) E vivendo de lembranças, as vezes sorrindo, outras chorando, e tristemente perceber que a memória nos prega peças – porque, infelizmente, esquecemos das coisas, e o que nos sobra é apenas uma bruma e que, no fim das contas, nos temos ouro em pó nas mãos.
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