10.12.08

Home Sick (Preparativos de Natal)

Hoje em dia eu entendo que eu era uma criança necessitada e o Igor infeliz. Ele era cruel e eu adorava o seu senso de humor seco e natural que eu não me atrevia a extravasar.
Eu não exatamente digo que eu fora uma criança parasita, que “grudava” nos amigos e sugava delas cada gota de atenção. Não, eu não me considero uma criança parasita, mas sim, eu sugava dos meus amigos cada gota de atenção... sim, eu agia assim com meus amigos homens porque o meu pai não pode estar presente quando eu precisei dele. Na verdade ele precisou da gente na mesma época, mas eu não sabia bem o que estava acontecendo, e eu não sei como ele vê a nossa participação. A minha ligação com as mulheres, até certo ponto imitava a minha relação com a minha mãe, e continuava no ponto em que ela me deixava. Mas na minha relação com o Igor, eu era ele na relação dele com o irmão.
Ele era a criança mais crítica, cruel, manipuladora e egoísta com quem eu me relacionei. Na verdade, o Igor, como todos os meus amigos, era tudo o que eu sempre quis ser. Ele ria quando sentia graça, ele dramava quando estava mal, e era forte quando não era ninguém. Eu amei o Igor como a um irmão, e não aceitava a intromissão de ninguém mais.
Eu não sei quando fomos unidos – nossa união se perde no tempo e nas fotos, mas cessou quando eu vi que ele não cabia num mundo tépido em que eu não sabia se estava preparado para eu mesmo mergulhar. Eu cheguei a tentar, mas não funcionou... o resultado era uma mistura de “Priscilla” com “Alien”.
Ir para Caratinga era controverso porque, supostamente, nós não deveríamos estar lá. Meu pai foi forçado a cortar seu vínculo com a família, mas a dor que a família da minha mãe sente entre si era maior até que o amor. Pausa: Eu sempre achei que as pessoas se identificam pela dor. Quando respondemos – “eu entendo você”, ou “eu sei pelo que você está passando”, é uma tentativa de se identificar através da dor... A dor, em outros casos, funciona como um sistema de medida, de maneira que a pessoa só sabe que está viva porque ela dói – física ou emocionalmente.
Algumas situações pelas quais passamos na vida são vergonhosas, outras são apenas parte do crescimento, e a diferença somente se faz perceptível quando se pergunta: “em que eu estava pensando?” Mas a pergunta é perigosa e se assemelha a afirmação: “eu sou”. Como disse Clarice, se a gente se prende a epifania do “eu sou”, por mais de alguns segundos, enlouqueceríamos. Eu, por exemplo, sabendo disso, sobrevivo descobrindo o que eu não sou. Hoje eu não me envergonho tanto das coisas que fiz no passado – não porque estou em paz, mas porque eu distraio categorizando em “amadurecimento” ou “burrada”. E quando eu estou próximo de um veredicto, eu não sei mais sobre o que eu estou pensando...
Oops... perdi um pouco o foco aqui, mas, voltando ao assunto, foi com o Igor que eu cresci e aprendi que o mundo era cruel. Eu devo a ele o homem prostrado que eu sou hoje, porque ele me ensinou que as minhas brincadeiras não tinham graça, e que havia sempre uma resposta pronta para uma delas.
A quem eu dirijo a descoberta de que nada muda? De que não importa o que você faça, nada vai mudar... Eu acredito no livre arbítrio e no fato de que você é livre para fazer escolhas. Existe sempre uma bifurcação diante de você, e é você quem decide dar ouvido ao que te cerca... e no fim, tudo retorna ao inconsciente coletivo e não é mais creditado a você, porque você também era um instrumento na engrenagem da bifurcação. E, enfim, não é como você se sente que conta: o que realmente conta é como as pessoas te enxergam do lado de fora.

1.11.08

Balas Perdidas/Compacto

Ontem eu senti falta da minha vida no Brasil pela primeira vez desde que eu decidi viver outra vida. Eu percebi que a grama não é mais verde do outro lado e que eu repito os mesmos padrões de racionalziação. Eu pensei que a minha persona byroniana tivesse evoluido para outra coisa – o que quer que essa outra coisa fosse... Mas as comparações não cessam – mesmo quando eu as confronto com um argumento convincente.... Penso que a vida continua me empurrando enquanto eu estou empacado num ponto qualquer... deve ser isso o que se chama “viver”. É um círculo vicioso: quando você não quer se destruir, é mais seguro procurar rapidamente por um motivo pra não ser pego de surpresa por uma bala perdida. Aliás, não existem balas perdidas: se elas te acertam, elas eram pra você – mesmo que indiretamente.

Cavando

Eu queria dizer que ela herdou tudo o que ela odeia na mãe dela: principalmente a intolerancia! E que a mãe superou – ou transferiu esses hábitos. E lembrando da mãe, eu tenho vontade de chorar porque eu morro de saudades e quero colo. Morro de pena dos pés-de-galinha e da barba branca do meu pai. E eles pensam que eu sou forte ou desinteressado porque eu não os procuro – mas eu confesso um segredo: é apenas um mecanismo de defesa. Eu não quero chorar... Mas é o colo deles queeu quero, e ele não me entende: eu sinto falta do colo dos meus pais! Eu apenas não quero transferir a minha carência pra outro lugar, e chorar quando eu sentir falta. Eu só queria ser auto-suficiente!

Ampulheta

A Grande Viagem
Michael Jackson
Machu Picchu
Linhas Nazca
Australia
Egito

Bjork
Cyndi
Roma
Alanis
London
Tori Amos
Cavern Club
Ornitorrincos
M a d o n n a
S t o n e h e n g e
Floresta Amazonica
P e d r a d e R o s e t a
A s S e t e M a r a v i l h a s

7.10.08

Laura Brown


Ontem eu fiz um bolo: segui a receita e a intuição. A intuição não foi suficiente porque o bolo ficou sem açúcar. A receita também não foi exatamente precisa porque o bolo cresceu, cresceu, mas depois ele murchou até solar.
Quanto ao doce, não adiantou fazer uma calda porque a massa era muito compacta e não absorvia nenhum sabor externo.
Hoje eu vou fazer outro bolo: não pretendo olhar a receita e nem intuir demais – vou pelo tato, tentando não me copiar, mas usando um pouco do que eu aprendi com o bolo de ontem.
Confesso que a vontade de comer o bolo passou, mas eu ainda quero fazer o bolo pela sensação do dever cumprido e ficar em paz comigo mesmo.

3.10.08

Cadeia Alimentar



…e de repente eu me senti responsável pelo porquinho no meu prato, e pela vaquinha sobrando do outro. Eu comi tudo – mesmo que mais-que-satisfeito, porque eu não queria que a morte deles fosse em vão.
E foi que depois da última garfada que o sentimento de culpa se expandiu e eu senti pena das batatas do Richard, das ervilhas da Lu e até do catchup da mesa ao lado! …e também senti pena da cerveja no meu copo...
Enquanto isso, a Lu vestia o cachecol no sentido contrário do que eu uso… e eu senti pena dos cachecóis que ficaram em casa…ai... ei não vou dormir em casa hoje: coitada da cama!

24.9.08

Grudento e Docinho




Tudo começou em 1993...



Depois disso, entre muito dinheiro gasto, muitos bos amigos e muitas alegrias, outra surpresa no dia 11 de setembro de 2008 no Estádio de Wembley: Stick & Sweet Tour, que – curiosamente, vai baixar no Brasil em dezembro.


Eu não preciso dizer que o show foi absurdamente fantástico e que eu não vou me esquecer nunca, então vamos aos detalhes:

Tudo começou em junho, quando comprei os ingressos pra mim, pro Izalty e pro João. Não compramos apenas ingressos VIPS, mas HOT TICKETS, com direito a ficar no Golden Circle, e a entrar no estádio duas horas antes dos próprios VIPS... Fora os mimos que chegariam em casa, tudo viria pelo correio. Dou credito ao Izalty pelas fotos:


Dias antes premeditamos maneiras de garantir os melhores lugares possíveis, e a melhor maneira era chegar bem cedo ao estádio. Pois bem, o show não tinha hora exata pra começar, mas era praxe esperar pelas 21h30... se bem que o horário do início do show não tem muito a ver com a hora de se chegar ao estádio – principalmente em se tratando de show da Madonna, e chegamos às 10h00 da manhã. Acontece que, pasmos, vimos que só na fila pra pegar a pulseira de acesso pro Golden Circle já havia mais de 100 pessoas – e os guichês abririam ao meio-dia...
Devidamente portando as nossas pulseiras, fomos pra nossa fila e pasmos percebemos que menos de 50 pessoas estavam na nossa frente. Separados por uma faixa de segurança, uma rua inteira, e outra faixa de segurança havia cerca de 500 VIPS amontoados – uns com cobertores e travesseiros, que possivelmente dormiram no local.



Passamos um dia inteiro super descontraído, rindo muito, queimando a boca com chocolate quente, cantando versões em Português pras músicas da Madonna, indo e voltando do banheiro, e no fim, nos amontoando pra passar pela roleta. Ah, a roleta... fiz uma espécie de barricada pra ter certeza de que todos os amigos passariam juntos: Izalty, João, Luciano, Rafinha e Wender.... era o sonho! Passamos pela roleta, e, cercados por seguranças que não permitiam que corrêssemos, andávamos a passos largos e vigorosos, quando um gritou: Cadê o João? ...ele tinha ficado pra trás, deixado com que dezenas passassem a sua frente.

Em dado momento não permitiram que ninguém mais avançasse nem mais um passo porque a Madonna ia passar o som... foi ótimo! Apesar de não a ver, ouvimos toda a passagem de som. Foi ainda mais sádico, visto que todos cantavam junto: era um dia de festa pra todos.

De volta ao fluxo, chegamos em frente ao palco e nos acomodamos... O Bruno, depois de resolver os problemas com os eu ingresso, chegou com a Vanessa e a festa ficou completa. Esperamos o show começar e o resto é historia!


P.S.: Da próxima vez eu fico ainda mais perto.... mais perto do que os 8 passos de distancia em que ficamos dessa vez!

1+1=2


Eu não acredito em alma gêmea ou em outra metade: eu acredito que 1+1=2.

Eu costumava achar que os meus relacionamentos foram frustrados porque terminaram de forma estressante. Mas por um acaso existe alguma forma não-frustrante ou não-estressante de se terminar um relacionamento?

E quanto a amaldiçoar os relacionamentos porque eles não vingaram... idiotice! De quantos relacionamentos vitoriosos se precisa? Eu digo que apenas um. É como o famoso axioma: você sempre encontra algo no último lugar em que se procura.... era pra soar sarcástico, mas desde quando você continua a procurar por algo se você já o encontrou? Você SEMPRE vai encontrar alguma coisa no último lugar em que se procura.

Doméstica

Tem um momento na vida em que deixamos de sermos nós mesmos. É quando grande parte dos problemas são resolvidos e tramas são sanadas – e outros não surgem com a mesma freqüência! É difícil ver a nova pessoa que surge dessa faxina. Eu tendo a ver essa pessoa como um ser banal. Outras vezes eu a vejo como apenas um ser diferente... e, afinal de contas, não é sempre fácil lidar com o novo – especialmente quando o novo não dói.


Eu acabei de me lembrar da Alanis, da Tori e da Madonna... elas mudaram: a Alanis foi pra Índia, a Tori teve uma filha e a Madonna encontrou a cabala... Eu prefiro dizer que elas foram atingidas por um golpe de graça do que dizer que elas ficaram, de certa forma, “chatas”! Seria isso o resultado da vida doméstica? Paz é isso? E isso é bom? Eu não digo que elas deveriam sustentar a minha infelicidade, mas é que, por outro lado, eu não sei como é que se aceita a paz! Ou pior: o desafio maior seria aceitar que a felicidade é possível? Mesmo que indefinível, a felicidade é possível?


A pessoa se acomoda e dá de presente a outra a sua solidão. É uma espécie de resignação sim! É meio triste... É a perda da individualidade – sim, exatamente isso! É com medo e pesar que eu vou deixar de ser eu – ou o personagem que eu criei pra mim... porque, apesar de ser possível mentir pra si mesmo, ser coerente com a verdade em que se espera que os outros acreditem não é tarefa fácil...


E o meu medo nem é da vida doméstica não! Meu medo é o de me tornar trivial! Em vez de me tornar Alanis, Tori ou Madonna, eu queria saber como me tornar os Beatles depois da Índia, Beatles depois dos filhos, ou Beatles depois da espiritualidade...


É por medo de não ser livre que eu tirei os meus bonecos da caixa!

Nêmeses



Há uns dias atrás eu me encontrei com o meu nêmeses. Ele foi o grande amor da minha vida e responsável por muitas – mas muitas das minhas neuroses. Os que me conhecem razoavelmente bem já ouviram o seu nome e a nossa história, e conectam a minha insegurança à sua memória. E há duas semanas, depois de dez longos anos, eu estava sentado do lado de fora do Tussauds, ouvindo “8 Easy Steps”, aguardando por ele. Eu fiquei nervoso, tive dor de barriga, falta de ar e ataques de pânico – sem contar com os diversos momentos em que eu quis fugir!

Há dez anos eu recebera um e-mail criticando o Inglês dos textos do meu site: de início eu fiquei indignado com a provocação, mas em pouquíssimo tempo, eu estava completamente apaixonado. Foi uma história de amor trágica e intensa – digna de tragédia! Até hoje eu não amei ou fui machucado tão profundamente... e em minutos eu o reencontraria. Ele estava dentro do museu de cera fazendo turismo. Eu não quis me juntar a ele, e, por telefone, disse que chegaria mais tarde e que o esperaria do lado de fora.

Pois e então? Nós nos veríamos sim, mas e depois? Passaríamos o dia juntos ou não? Eu não sabia se eu me sentiria confortável perto dele. Eu não o odiava, mas quanto a saber se eu me tornaria uma fonte de emoções, eu não tinha idéia... Enquanto decidia se apertaria sua mão ou se teria coragem de ensaiar um abraço, eu olhava pros lados e todos se pareciam com ele. Na verdade eu não me lembrava mais dele, mas apenas das fotos que eu tenho no meu relicário. Cada um dos que tinham sua cara me interrompiam o ensaio das palavras que eu diria depois de dez anos. “You Oughta Know” tocava ao fundo e eu levantei a sobrancelha quando percebi – mas não era mais o caso.

Dois anos antes nos encontramos no Orkut e exorcizamos, de certa forma, a bagunça que rondava as nossas vidas. Eu não entrei em detalhes, mas nem ele sabe que eu não consegui levar minha vida adiante depois que peguei o avião de volta pra casa: de inicio tudo era triste, e depois a tristeza cristalizou e se tornou uma carapaça. Eu vivi esse tempo todo sob a sombra monolítica do meu inseguro e cristalizado coração. Eu confesso: achei poeticamente justo o golpe que ele sofrera em Paris – a historia se repetir, e caçador se tornar a caça foi saboroso. Mas eu também sabia o quanto dói, e, no fim, senti foi pena dele.

Os minutos pareciam horas e eu me levantei e fui pra porta do metrô: eu queria ir embora e deixar tudo pra trás! Seria a derradeira vingança... mas eu não me perdoaria jamais por ter perdido a chance do confronto. Nesse momento eu dei conta de que eu tinha o poder de simplesmente não aparecer, e de um jeito meio torto, eu criei forças de não sei onde, e voltei pra o Tussaud ao som de “The Couch”. Minhas mãos suavam enquanto eu ensaiava o que dizer, e quando eu achava que finalmente havia uma linha de raciocínio razoável, o telefone toca. Era ele. Eu olhei para a saída do museu e, de costas, havia alguém com o celular nas mãos... eu me levantei, engoli o coração e caminhei em sua direção. A sua voz sorria e eu não ouvia mais nada a não ser o que vinha do telefone. A cada passo meu a sua voz sobressoava ao telefone: ele não parava de falar... Criando coragem de um bandeirante, eu desbravei as suas frases e disse: estou atrás de você, olha pra mim!

Foi ele quem se jogou sobre mim dizendo: “Mininu!”, e me abraçou, e me beijou o rosto. Ele sorria com cada poro do rosto, e foi naquele momento em que ele se tornara humano outra vez. E foi naquele mesmo momento em que eu me desarmei e desliguei o I-Pod...

Passamos o dia juntos: eu, ele e os seus deliciosos amigos. E nos reconciliamos. E sorrimos juntos – como há dez anos. Eu era o dono do mundo e eu podia tudo: mas internamente, porque por fora eu era apenas o que eu me preparei por longos dez anos...

Logo quando nos vimos, ele apontou pra a cabeça e disse que os cabelos o haviam deixado. Eu me lembrei de quando ele estava lá em casa no Brasil, ele dizia que a calvície era um dos piores pesadelos... e eu respondi: “não liga não, o meu também está raleando!” Ele me olhou de cima abaixo e disse: “Para com isso, você está ótimo!” Outro momento que me tocou muitíssimo foi quando, na porta do banheiro da London Eye, eu tentava me recuperar do dia... todos eles estavam no banheiro e eu, do lado de fora, andava de um lado pro outro, tentando digerir o que quer que estivesse acontecendo, percebi que eu estava feliz... eu estava feliz! E sorri! E na medida em que iam se recompondo, cada um dos amigos dele saíram do banheiro e seguiam em direção das escadas para voltarem pro nível da rua, e ele, subindo do meu lado, me abraçou e disse no meu ouvido: “eu estou muito feliz por termos nos encontrado. Você está milhões de vezes mais bonito do que há dez anos... mais ainda do que eu me lembrava.” Eu não sabia o que dizer... eu não sabia nem sequer se deveria dizer qualquer coisa... Eu não sabia nem sequer se eu queria dizer alguma coisa! Se o tempo pudesse ser congelado em fotografia, eu gostaria que aquele momento fosse uma das fotos do meu obituário... Na falta das palavras, eu o abracei e muito carinhosamente – e agradecido, eu o abracei. Eu estou livre!

Colcha de Retalhos



“O problema da liberdade e do conhecimento é que depois que você os experiencia, algo muda e ‘aquilo’ passa a fazer parte de você... e como a vida seria se não fosse mais possível atingir ao mesmo nível de liberdade e utilizar tal conhecimento? Namoro? Stick Tofee Pudding? Qual a diferença?”

“Epifanias são orgasmos? Seria possível comparar as suas epifanias com as epifanias dos outros – ou mesmo comparar as suas próprias?”

“Tem algo mágico em ser livre. É complicado porque sempre se quer mais. É como ser feliz – note que liberdade e felicidade são conceitos antagonicamente independentes! É como estar no SoHo sozinho tomando um Cosmopolitan e olhando para as pessoas. Meu corpo é puro sensações! Estou aberto as experiências! Hoje eu sou o que quer que eu seja!”
“Eu estou num daqueles momentos em que tudo é ruim, tudo é feio, tudo é chato. Devo estar em contato com o meu mais primário ‘eu’. É hora de arrumar o quarto: tudo é insosso.
Não chega a ser vazio, mas tem um quê de entediante. Não tenho interesse por nada, não tenho paciência com nada. E não quero aceitar que a resposta seja tão simples como: medo. ...e não é! Agora que eu pronunciei, a pseudo-resposta me soou tão simples. E seria, de certa forma, bom que fosse – pra variar. Ao menos eu saberia o que me incomoda – apesar de não resolver o problema...”

“Quando as pessoas nos vêem, elas enxergam quem somos ou o nosso potencial? Elas enxergam o que eu não sei ainda? Ou elas somente vêem o que elas são capazes de enxergar em si próprias?”

“O que é ápice? O que vem depois dele? A felicidade é ‘um’ ápice, ou ‘o’ ápice? Como se reproduz um ápice?”

“De vez em quando eu me sinto meio máquina: eu ligo e desligo. Eu ligo e desligo as minhas emoções.”

“Sempre que eu chego ao fundo eu me olho no espelho e a resposta aparente para os meus problemas acaba se resumindo na aparência, e eu imagino que o mundo seria melhor se eu fosse atraente. Bulimia? Anorexia? Racionalização? Aonde reside o problema, no fim das contas?
Numa análise (ou seria outra racionalização?) eu entendo que o reflexo acaba sendo o real problema – e não a aparência em si. Seria muito presunçoso pensar que, talvez, realmente, que o inferno são os outros? Mas se Sartre estivesse correto, aonde o meu ego se infiltra no contexto? – eu sempre achei que eu estivesse do meu lado! Alias, a partir de quando (ou do quê) o ego e a auto-estima se desconectam?”

“Eu vivo do meu personagem! Eu o moldo de acordo com minhas necessidades – de tal forma que ele não é nem mais uma terceira pessoa: ele sou eu! É como eu me faço atraente...”

“Eu tento me distrair do quê? EU evito a inércia para que alguém não veja alguma coisa.... mas de quem eu fujo?”

“O dia está muito calmo hoje... A verdade espera pelo silencio absoluto para emergir e não ser confundida com nada mais. Nessas horas é que eu acredito no Deus – quando a verdade tem cara de epifania...”

“Status e tudo mais o que pode ser definido com palavras é insatisfação! Nota: engolir o orgulho e ser feliz! (tente definir felicidade....) Eu só confio no que não pode ser definido!”

“Como acreditar nas verdades? Como a psicanálise trata os problemas quando se encontram as causas e/ou os mecanismos? Posso dizer que, no entanto, se o problema persiste, a causa ou não foi realmente encontrada ou outro problema tomou o lugar?
Enfim, a pedra filosofal do momento é: como conciliar o existencialismo com o espiritismo?!”

17.7.08

I Bop!

Eu já tinha sofrido pra comprar o ingresso pro show do dia 14 de outubro no Shepperds Bush Empire, mas eis que o um colega da comunidade da Cyndi Lauper no Orkut – o Fernando, me avisa que aconteceria um Pocket Show no G-A-Y... o desespero por ingressos começava novamente: eu me lembro bem que o site do evento dizia que os ingressos seriam vendidos na semana da performance – o que significa que eu fiz o coitado do Richard me levar pra o SoHo no domingo e dar com a cara na porta porque os ingressos eram vendidos a partir da segunda-feira... frustrações à parte, os ingressos estavam nas minhas mãos no momento certo e o problema então era aguardar a data e arrumar um jeito de garantir bons lugares no dia do show – afinal, o G-A-Y acomoda pouco mais de mil pessoas.

A semana passou despercebida porque o trabalho me ocupou, e na sexta-feira apenas eu fui me dando conta de que eu veria a Cyndi no dia seguinte! Ah, a Cyndi! Pra quem me conhece sabe que ela eh “a” preferida. Eu tenho a Madonna como esporte porque ela é meio que a cola que me une com muitas das minhas amizades, como por exemplo, o Izalty que ama as Spice Girls, o Glayson que ama a Cher, o André que ama o U2, a Lu que ama o Luís Miguel. Todos têm a Madonna em comum, mas com um pedacinho V.I.P. do coração especialmente reservado praquele artista favorito, que no meu caso é a Cyndi.

Eu me perco quando penso na Cyndi. Clássicos como Girls Just Wanna Have Fun, Time After Time ou True Colors sempre fizeram parte das minhas primordiais K7s que eu sempre chamava de “Good Times”. Eu também me lembro de que a Graciane, prima do Igor, tinha os vinis do True Colors e do A Night To Remember – e eu me lembro também que as capas dos discos chamavam muito atenção (vide saia de jornais do TC ou a combinação de franjas, bolinhas e cinta-liga da roupa dela na capa do ANTR... e isso sem mencionar os cortes de cabelo!) Mas uma imagem bem gráfica ficou marcada com o lançamento da Twelve Deadly Cyns em 1994, e o comercial que passava na globo, geralmente depois da Xuxa, no horário do almoço: foi quando eu comprei o meu primeiro CD da Cyndi. E de repente eu iria humanizar a minha cantora preferida, potencialmente vendo-a de pertinho! E eu tinha a chance de ficar muito, muito proximo dela, e de talvez conseguir um autógrafo, ou mesmo fazer uma foto com ela! Tudo dependia apenas de chegar lá!

Mas em se tratando de viagens, todo mundo sabe que nada é fácil ou tranqüilo pra mim... Saímos de Reading – eu e o Richard, pelas 21h30, com intenção de chegarmos à porta pelas 22h30, quando as portas se abririam e eu correria pra conseguir um bom lugar na frente do palco. A teoria é linda, mas acontece que no caminho tinha estrada interditada, sinalização alternativa deficiente e desvios que atrasaram a viagem em pelo menos uma hora! E pra desespero meu, encontrar vaga pra estacionar foi outro pesadelo: andamos meio mundo e fomos estacionar num local que equivalia a cerca de 3 estações de metrô. Como resultado, em vez de 22h30, eu estava na porta do G-A-Y às 12h15... Mas pra sorte nossa, o Fernando e a Paula ja estavam lá dentro colados no palco, e guardando lugar pra gente.

Quando eu me assegurei de que estava no melhor lugar possível, me dei conta de que os telões laterais transmitiam o DVD do Twelve Deadly Cyns... o Fernando dizia que já era a segunda ou terceira vez seguida que ele via aquilo, e pelo que eu contei, eu vi outras, pelo menos, três vezes consecutivas! Quanto ao clima na casa, tudo soava como numa boate normal: os mais atrevidos dançavam oferecidamente no palco, cheiro de gelo seco misturado com maconha no ar, música alta – mas muito boa, e as risadas de costume. Deliciosamente havia um grupo de cerca de 10 brasileiros em volta de mim. Aos poucos nos reconhecíamos e faziamos amizade uns com os outros: todos estavam lá por causa da Cyndi. E quando menos esperávamos, uma voz robótica coa, informado aos que dançavam no palco, que o show comecaria em breve e que eles deveriam sair dali. Confesso que foi um momento dramático porque as pessoas tendiam a descer no local em que estávamos – porque era exatamente a frente da passarela, mas a galera brasuca não deixou que ninguem ocupasse o nosso lugar de direito, e não nos movemos um passo! Foi difícil evitar o empurra-empurra, mas a gente conseguiu!

E eis que as luzes se apagam minutos depois e as cortinas sobem: tem uma cama no palco e alguém sob os lençóis se agita e contorce: era a Cyndi cantando She Bop. Todas as músicas do show tinham uma roupagem condizente com o Bring Ya To The Brink.



Ficamos pertinho dela ou não?


Logo em seguida ela cantou Into The Nightlife, e emendou com Girls Just Wanna Have Fun, e ela sempre vinha pra ponta do palco e ficava na minha frente... eu tentei pegar a mão dela e consegui uma vez, duas vezes, três vezes... mas eu ainda queria que ela soubesse que a gente estava lá: por isso eu levara a bandeira do Brasil comigo. De vez em quando abríamos a bandeira, mas o timing era tão ruim que ela nunca estava olhando pra nossa direção, ou por perto quando mostrávamos. Enquanto ela não via a bandeira, ela cantou I’m Gonna Be Strong! Ela cantou I’m Gonna Be Strong! E acapella! E melhor: ela cantou a música segurando a minha mão! A música inteira!

Enfim ela terminou de cantar Set Your Heart e veio conversar com a platéia... era o momento perfeito pra agitarmos de novo a bandeira, e desta vez ela nos viu: ela pegou a bandeira e perguntou pra mim qual era o país: BRASIIIIIIIL, gritamos todos na frente. E ela levou a bandeira consigo e colocou sobre a cama no palco... preciso dizer do orgulho?



Logo depois ela cantou True Colors enrolada na bandeira GLSBT, e emendou com Time After Time. O host da casa trouxe um bouquet de rosas vermelhas e agradeceu a presença ,depois de 14 anos sem se apresentar no Reino Unido, e justamente no G-A-Y. Ela terminou o show com Same Old Story e foi embora, dizendo que voltava em outubro. Ah! Eu ainda consegui pegar a bandeira de volta, que agora é duplamente especial...



Set list:


1 - She Bop
2 - Into The Nightlife
3 - Girls Just Wanna Have Fun
4 - I'm Gonna Be Strong (A Capella)
5 - Set Your Heart
6 - True Colors (Gay Pride Mix - Junior Vazques)
7 - Same Old Story
8 - Time After Time (A Capella)


Videozinhos:

She Bop.



Time After Time.



Diversos momentos.


29.6.08

Moratório


Tudo comecou em Manaus quando comprei o então recém-lancado CD Supposed Former Infatuation Junkie. Eu estava na casa do Luciano e eu ainda estava digerindo o Jagged Little Pill que me fora dado de presente, pela Michele. Não vou mencionar as circunstâncias, mas houve um momento em que o Luciano perguntou ao Muzi se ele descobrira a faixa oculta no Jagged. Eu fiquei intrigado mas não dei muita importância – pra mim seria outra faixa pesada e muito bem escrita, mas certamente sem o peso de Ironic ou de Hand in My Pocket. Acontece que Your House foi direto pro meu coração. Era uma daquelas músicas que pareciam ter sido escritas pra mim, e que me fora dada de presente não por acaso, mas exatamente quando eu precisava de alguém que me entendesse – e desde então eu nunca deixei de amar a Alanis.

O tempo se passou, eu e ela crescemos, estamos pessoas bem diferentes do que fomos outrora, mas a sintonia de pensamentos continua a mesma. Eu acredito muito na força do acaso... eu realmente acredito. Sei que “acaso” não é a palavra correta, mas serve para o contexto (nota: rever meu vocabulário! Ou eu estou perdendo as palavras ou eu não mais valido o sentido das que eu conheço), mas não há como discordar do fato de que os acontecimentos têm lugar e hora no momento exato em que eles podem fazer algum sentido. E fazer sentido significa poder extrair algo daquele momento – positiva ou negativamente. E acrescento, ainda, que os acontecimentos que não fazem sentido ou não fazem diferença ou não estão no mesmo nível em que nos encontramos... Foco, Leonardo! Foco! Volta pro assunto!

Ok... Eu aguardava o lançamento do novo cd da Alanis mas so me lembrei de procurar por algum concerto na véspera. E pra meu desespero, havia um show pro dia 19 de junho e os lugares estavam todos esgotados! O que fazer? Ficar em casa e amargar a terceira oportunidade perdida de vê-la ou dar com a cara no portão e correr o risco de conseguir um? Pelo que já vi em todos os concertos dos quais eu participei, valia a pena tentar um ingresso na porta.

E pois bem, eis que chega o dia 19 e eu fui – com a cara, coragem e dinheiro na carteira, pra ver a Cris e a Alanis! Sim, a Cris, minha irmã! Fizemos faculdade juntos, nos adotamos e desde então, não mais nos separamos. Bem, fisicamente sim porque nossos caminhos se descruzam com muita freqüência; mas também se cruzam muito, mas muito mais freqüentemente. E esse mês ela esteve em Londres para estudar Inglês, e de cara me ver.




Histórias de desencontro são muito comuns na minha vida, e esperar não é incomum. Assim sendo, depois de um bom tempo de atraso, chegam a Cris e uma amiga até a estação de Paddington, onde eu as esperava por, pelo menos, umas duas horas... Abaçamo-nos, perdemo-nos no metrô, nos achamos de novo e fomos prum pub beber. Lá, depois de um tempo nos divertindo, eu as convenci a irem comigo pra o local do show da Alanis pra que eu tivesse certeza de que encontraria um ingresso – caso contrário, voltaria com elas pra o pub, e beberiamos o dinheiro do ingresso juntos!

Mas o acaso estava do meu lado outra vez: mal sai da estação do metrô e eu encontrei um cambista vendendo ingressos pro show. A Cris não quis ir então fui eu pruma fila em espiral que circundava o quarteirão da Carling Academy, em Brixton – enquanto a Cris procurava por um banheiro. Foi a última vez que eu vi a Cris antes que ela fosse pra Alemanha ver a sogra... sim, eu fui ao aeroporto recebê-la, mas fica o gosto de zinco sob a lingua e a sensação de que poderíamos ter nos aproveitado mais. E na fila eu percebi que esse era o primeiro show que eu ia sem companhia: sem Lu, sem João, sem Izalty... Entendo que não é a mesma coisa assistir a um show sem as pessoas queridas do lado, pra quem direcionar os comentários e rir dos gritos estéricos. Mas lá na fila eu entendi que a minha relação com a Alanis era exatamente daquele jeito: solitária e triste, como convém a dois adultos.

A Clarice já dizia que os adultos sã tristes e solitários, e que apenas se dão conta da solidão e tristeza depois de um choque. O meu foi em Manaus... e a Alanis entrou pra minha vida cantando Your House... e até hoje somos solitários: ela lá e eu aqui, as de certa forma, juntos um do outro.

E por isso eu nem deveria ter ninguém comigo pro show... éramos nos dois sozinhos: ela cantando e eu fazendo que sim com a cabeça.



Eis a lista das músicas:



Moratorium (Intro)
Uninvited
All I Really Want
8 Easy Steps
Perfect
Citizen of The Planet
Head Over Feet
Unprodigal Daugher
Versions of Violence
Not As We
Hand In Pocket
In Praise of the Vulnerable Man
A Man
Moratorium
You Oughta Know
Tapes

Underneath (Piano)
You Learn

Ironic
Thank You

...e eu fico por aqui.
Não tô a fim de salpicar palhaçada nesse post, não.
Nao vou falar que a estação de Brixton estava fechda depois do show e que eu fiquei perdido em Londres de noite.... e nem que eu perdi dois trens seguidos pra Reading e que eu fiquei boa parte da madrugada esperando trem pra vir pra casa... e nem que eu trabalhava na manhã seguinte... não, não. Paro por aqui!

Trecho da abertura:




9.6.08

A Mãe dos Espelhos



O que me incomoda profundamente em relação à liberdade e ao conhecimento é que depois que você absorve um pouco de um dos dois, algo muda. Não que a cada dia não nos tornemos alguém diferente, ou que as epifanias dependam de uma intervenção metafísica, mas há experiências que não permitem regresso. E não permitem regresso porque se tornam tão comuns como dormir, comer, ou qualquer outra coisa simples que pode se fazer no dia-a-dia e que, por conseqüência, não se pode viver sem: stick-toffe pudding? Uma troca de olhares? Qual é a diferença?

A felicidade, ao meu ver, exige ápices, como toda droga que se preze: e vicia. Mas o que vem depois do ápice? Seria como o átomo e suas sub-particulas – só que inversamente proporcionais, claro: pode-se dividir infinitamente, mas depende-se da ferramente correta pra enxergar as novas camadas. Seria a felicidade a derradeira ferramenta? A felicidade é o ápice, ou apenas um ápice? E como se reproduz um ápice? Do que serei eu capaz para trazer o ápice de volta? Ou melhor, ir mais adiante? Quem me vê enxerga a minha busca? Meu potencial? Quando, da janela do restaurante, eu olho para o homem e recebo de volta um olhar, o que ele vê? Ele vê o que sou, ou do que sou capaz?

Foi então que eu entendi o jogo da roleta-russa... na tentativa de atingir ao ápice, tornam-nos capazes de tudo. Não que isso signifique ter-se desistido de si mesmo – muitos acreditam no contrário: há pessoas que pensam que aqueles que desafiam a sorte não se importam com a vida. Mas é exatamente o contrário: os que desafiam a morte querem apenas viver! E esses mesmos, na maioria das vezes, amam a vida e somente giram a roleta na expectativa de que algo os excitem – nem que seja apenas girar a roleta. E existe uma diferença oceânica entre girar a roleta e apertar o gatilho. Pra apertar o gatilho é necessário mais do que coragem... exige-se que se acredite que a morte é uma possibilidade. É nesse momento em que a grande maioria desiste de jogar e percebe que não tem coragem de mudar as coisas. Mas eu alerto: aceitar a morte nao é ser suicida... é muito mais que isso. É tanto que eu não sei nem explicar direito. Os que giram a roleta não aceitam olhar a morte nos olhos, mas os que apertam o gatilho são mais fortes que ela porque nao se importam. (Seria esse o Übermensch?) É um passo muito grande se despir da hipocrisia e tornar-se um ser potencialmente livre, desapegado de mais uma das conexões com o mundo. Olhar a morte nos olhos pode ser o maior desafio da vida de um homem – mas não o derradeiro. Olhar a morte nos olhos é difernete de desejar a morte. Eu mesmo olhei a morte nos olhos e passei a amar ainda mais a vida – só que sem o medo de fracassar. Eu eu me encontrei com a mãe dos espelhos e aceitei as conseqüências... a morte é apenas uma delas, dentre outras diversas: cotidiano, eloqüência, desilusão, patê de fígado ou ressuscitar...

E a minha mãe dos espelhos foi um amigo que me mostrou que eu poderia ser a minha própria mãe does espelhos, quando me disse que, na vida a gente tem o poder de ressuscitar aqueles que passam por nós. Que a gente vira mulher e gera quantas vezes for preciso, àqueles que nos amam... com uma frase, um olhar, um sorriso: mãe tem a capacidade de nos gerar a vida toda se elas quiserem...

21.4.08

Eu não sou underground não!

Quando eu falo que amo o som da Björk e do Portishead, tem gente que me pergunta se são coisas de comer ou de passar no cabelo... eu mesmo pensava que fosse underground até os dias em que fui comprar ingresso pros shows.

Primeiro foi com a Björk, em novembro do ano passado (o show aconteceu ontem – 20 de abril) e mesmo comprando os ingressos no dia do anuncio das vendas, os bons lugares já tinham sido todos comprados – pras três datas! Pior foi com o Portishead, cujas vendas começavam no dia 22 de janeiro desse ano às 9h00 da manhã. Acordei naquele dia uma meia hora antes e praticamente fiquei com o dedo em cima da tecla enter, esperando pela hora de pressioná-la. A parte trágica acontece quando às 9h00 da manhã o site já estava congestionado e eu somente consegui algum contato pelas 9h30, quando consegui uma linha vaga e um atendente me diz que os ingressos estavam esgotados e que a venue mais próxima ficava em Wolverhampton... (eu fiz a mesma cara de “como assim?” quando ele me disse o nome) mas comprei os ingressos! E foi neste dia que eu tive certeza de que eu não era nem um pouco underground, e que tudo não se resumia a pop...

Dias se passaram, meses se passaram e finalmente chegamos ao dia de ver o Portishead. Muita pesquisa na Net, muitos mapas impressos, tempo cronometrado e muita ansiosidade – afinal, fazia dez anos que eles não gravavam nada. Mas em se tratando de Leonardo viajando, tudo pode acontecer...

Mas antes de contar a historia em si, vamos falar um pouco de geografia: observando ao mapa abaixo, você vê três setas – a central mostrando a cidade aonde eu moro (Reading), a mais a esquerda mostrando Londres e a mais acima, Wolverhampton. Londres fica cerca de 15 minutos de onde eu moro, e o acesso é muito facilitado por trens que fazem o trajeto saindo de 15 em 15 minutos (nos dias de semana) e de hora em hora, aos domingos. Wolverhampton, segundo os cálculos, ficaria mais ou menos cerca de 2h30 de distância, e três trocas de trem programadas. Agora vamos à história: tudo começou quando eu e o Izalty chegamos à estação um minuto atrasados pro trem... e na esperança de chegarmos a tempo na plataforma seguinte pra pegar o trem que sairia no minuto seguinte, o perdemos também. A saída era ou esperar por um tempo ou tentar fazer o trajeto passando pelas cidade aonde o trem deveria seguir – a idéia era alcançar o trem em dado momento. Funcionou? Ah, que isso? Depois de 5 trocas de trem e quase 4 horas viajando, chegamos a Wolverhampton e ao Civic Hall.

O show foi absurdamente perfeito, a Betty é tão simpática que parece um bicho do mato, e ao fim do show ela saiu pegando na mãos dos que estavam ais a frente (claro que ela pegou a minha) e ao jogarem os set list pra platéia, adivinha quem pegou?

Izalty e eu antes do show.

Beth cantando nem sei mais o que, mas tava cantando sim!


Eu com o set list do show, jogado pelo guitarrista!



Video de SILENCE, na abertura do show.




Video de ROADS, no finalzinho.

Segue o set list:

1 – Wicca
2 – Hunter
3 – Mysterons
4 – Mystic
5 – Glory Box
6 – Numb
7 – Magic Doors
8 – Wandering Star
9 – Machine Gun
10 – Over
11 – Sour Times
12 – Nylon Smile
13 – Cowboys

BIS:

14 – Threads
15 – Roads
16 - Peaches

Okay, terminado o show era hora de ir pra casa, certo? Errado! Com Leo e Izalty o negócio não funciona assim: o próximo trem que deixaria Wolverhampton sairia às 6h00 da manhã – ah, eram 11h30 da noite! Passamos a noite na estação sim, mas depois de perambular pela cidade e chegar a Reading às 8h15 da manhã, pra trabalhar 8h30.... foi um dia pesado, mas valeu a pena.



Destruídos madrugada afora na estação....


Final de semana seguinte, eu, Izalty e João fomos ver a Björk no mesmo teatro em que a Tori tocou, meses atrás. (lugar abençoado!) Dessa vez não dava pra fazer fotos porque estavam gravando um DVD (não dela, mas de um dos convidados especiais) e não tem muito registro visual, a não ser pelos vídeos que o João fez e que ficaram perfeitos.
Estávamos bem longe dessa vez, mas a diversão estava garantida!
Ela....
Seguem o set list e um videozinho.


01. Intro - Brennið Þið Vitar
02. Earth Intruders
03. Hunter
04. Unison
05. All Is Full Of Love
06. Hope
07. The Pleasure Is All Mine
08. Dull Flame Of Desire
09. Vertebrae By Vertebrae
10. Where Is The Line
11. Desired Constellation
12. Army Of Me
13. I Miss You
14. Triumph Of A Heart
15. Vökuró
16. Wanderlust
17. Hyperballad
18. Pluto

BIS:


19. Anchor Song
20. Declare Independence


Desta vez fomos direto pra casa e consguimos pegar o trem certo.


E como diria a Madonna: “Just one of those days, when everything is incredible!”

Aquecimento Global




(Escrito em 07/04/2008)




Primavera na Inglaterra!
Minha rotina matinal é certa: desperto com o celular às 7h30 da manhã sob a bênção de dois blackouts que me deixam com a impressão de que sou cego, passo pela cozinha – que geralmente está com a persiana fechada, e cambaleio até o banheiro pra escovar os dentes . Apenas lá dentro eu abro uma janelinha que dá para os fundos da casa pra ver como está o dia lá fora e decidir o que fazer da minha vida (em outras palavras, qual a grossura do casaco que eu vou vestir). Tamanha a minha surpresa quando abro a janelinha numa manhã de primavera quando me deparo com um palmo de gelo cobrindo o chão!



- Calma lá! É primavera, isso não vale! – eu pensei. Mas em seguida eu me lembrei de que não tinha nevado ainda desde que eu pisara na Inglaterra e eu fui correndo ressuscitar o João. Cheguei no quarto dele abrindo os blackouts e dizendo que estava nevando. O homem deu um pulo da cama e levou o celular pra fora pra fazer uns filmezinhos e fotos. Eu fui me arrumar pro trabalho...
Quando deixei o banheiro eis que o João já tinha terminado o boneco de neve e ambos posamos pra as fotos do nosso primeiro boneco de neve!


A neve não durou muito tempo, e pelas 11 da manhã já não tinha nada e um sol mentiroso brilhava do lado de fora e eu dentro da loja com 3 camadas de roupa no tronco e duas nas pernas, mas sofrendo frio! Fui pra casa naquele domingo com floquinhos caindo sobre o meu sobretudo.
Meia noite e tanto nevou outra vez – e nevou grosso! Pena que não o suficiente pra fazer outro tapete branco na manhã de hoje.
E viva o aquecimento global!


3.4.08

Os Mortos-Vivos

Fazia anos que eu não ouvia falar do Leozinho da Dona Custódia... Até hoje de tarde eu caracterizava o tal Leozinho como um personagem secundário da minha infância em Caratinga, quando eu passava as férias de julho na casa da minha avó – mas que hoje em dia eu vejo que não estava tão em segundo plano assim, e que brincava comigo junto das meninas da Maria “Continoua”, e, claro, meus primos.
Foi com essas pessoas que eu fui criança e brinquei de birosca, de corda, de pula-elástico e a conhecer/temer lendas urbanas como a mulher de algodão, a mão preta, a loura do banheiro e outras besteiras que me tiravam o sono. Um tempo atrás não sei quem me deu notícia delas, contando que uma-a-uma casou-se, a não ser pela mais velha, a Selminha, que ficou em casa pra cuidar dos pais. Mas de tão secundário que era, ninguém sabia dar notícias do Leozinho – o que me fez imaginar que ele era personagem secundário não apenas pra mim. Ele podia ser secundário sim, mas em certos aspectos ele quase que uma entidade. Por exemplo, era a cara da pobreza pra mim, naquela época, e até hoje eu guardo a sua imagem como a que ele exibia quando criança: magrelo – daqueles que têm as costelas à mostra, mal-vestido e com o nariz constantemente escorrendo, mas feliz, feliz, feliz. Brincalhão como ele só, sempre disponível e presente – mas, mesmo assim, personagem secundário.
Eu sempre tive essa fantasia de querer ver a casa da minha tia Verinha sem que eu estivesse por perto a modificar a rotina da casa e saber como era a vida dos meus primos. E o Leozinho fazia parte dessa fantasia, quando eu imaginava como ele contava as nossas travessuras pra os colegas de sala, referindo-se ao primo do vizinho que vinha passar as férias de julho com eles e se a vida era tão divertida com eles, mesmo eu não estando por perto. Claro que esse sentimento era uma forma pré-adolescente de egoísmo – ou de imaturidade, ao pensar que eu era o centro daquilo tudo. Não o centro, talvez, mas um carnegão na rotina deles todos que não podia ficar imune a um elemento extra inserido no dia-a-dia daquelas pessoas.
E ontem eu tive uma surpresa indescritível: o Leozinho me enviara uma mensagem pelo Orkut! E de repente ele estava casado, tinha uma filhinha linda e uma vida. Ele não era mais prisioneiro da minha memória. Aliás, ele nunca fora prisioneiro meu, mas eu o tinha como estereotipo de alguma coisa que ia e vinha ocasionalmente, mas que se libertou ontem quando vi que em vez da imagem que eu tinha antes, agora o Leozinho era outra pessoa diferente da cristalização que eu fantasiei. Mas a libertação dessa entidade me fez pensar em como, só porque eu não tinha notícias dele, eu o sentia morto. Não que eu pensasse que ele estivesse, mas uma forma inconsciente de morte, como quando uma pessoa não te incomoda e nem te excita: parece que ela não existe.
E num passe de mágica eu parei pra pensar em quantos “eus” devem estar cristalizados no inconsciente alheio, e que da mesma forma, outras pessoas me sintam morto também, numa linha de pensamento parecida com a que eu acabei de explicar. Os sentidos nos pregam peças, como eu disse agora a pouco, e da mesma forma como alguns morrem, outros permanecem vivos. Sim, exatamente pelo motivo oposto, outras pessoas são tão vivas na minha memória que eu não consigo assimilar o fato de que elas não mais respirem – como a própria tia Verinha, ou o Vô Cardoso.
Numa outra fantasia eu imaginava como as pessoas reagiriam à notícia da minha morte e como a vida continuaria logo em seguida – ou, de vez em quando, eu imaginava como outras nem reagiriam porque eu seria um personagem secundário na vida delas, e que por isso mesmo, não faria diferença porque, de certa forma, eu já estaria morto. Aliás, agora mesmo eu entendo que quando eu não estava na casa da minha tia, eu, de outra forma, estava morto também. E agora mesmo eu estou morto porque eu não estou presente aonde eu poderia ser plano. Bem, eu estou presente agora na minha cama, na Inglaterra, mas e pra aqueles em que, no Brasil mesmo, eu era secundário? Será que eu já morri e não sei?

26.3.08

Cadê ela?



A casa parece intacta. Não fosse o fato de agora mesmo, minutos atrás, eu não a tivesse abraçado e dito: boa sorte, não se diria que ela não está mais aqui. Como sempre eu temo as palavras. E mais que as palavras eu temo o significado delas, e especialmente o fato de eu ter que encarar ela simplesmente se... foi. (Nota: eu temo o verbo “ir” e todas as suas possíveis conjugações.)
A toalha cor-de-rosa, a bolsa cor-de-rosa, o boá cor-de-rosa, o roupão cor-de-rosa. Os bichinhos de pelúcia sobre a cama, a balança no chão, o violão no canto. Tudo faz pensar que ela só foi passar a noite fora, e que amanhã mesmo ela volta. Por quanto tempo ainda vai ter o cheirinho dela no travesseiro?
Eu nem acho triste o fato de que mesmo chorando, eu não tenha ninguém pra quem eu poderia ligar e chorar a falta que ela já está fazendo – absolutamente ninguém; triste mesmo é o fato de que ela não está na caminha ao lado – mesmo que caladinha mexendo no lap top ou deitadinha abraçada ao Bau, mas presente, enfim.
Não é porque somos irmãos, mas porque somos amigos. Ela sempre me disse pra ter orgulho do que e de quem eu sou – ela é o verdadeiro irmão mais velho nessa família. Não existe pessoas nesse mundo que eu ame mais do que eu ame a minha irmã.
Preciso terminar esse texto antes que ele fique por demais açucarado. Não faz meu estilo exaltar demais alguém – mesmo que esse alguém seja a Lu. E a verdade é que eu não sei como terminar esse texto porque eu não quero que termine: eu quero que a presença dela seja eterna – mesmo que dolorida.

23.3.08

O som do silêncio

E estava tudo silencioso.
Não era exatamente o nada que se ouvia ao redor, mas um vazio... ouvia-se o som do silêncio. Voltamos pra casa sem pronunciar uma palavra. De vez em quando ela puxava conversa dizendo que estava com medo, e eu não dizia nada – não me dignava sequer a mudar de assunto. Ela, por vezes, falava do clima, mas eu respondia secamente com um “sim”, mas quando convinha – um não abriria espaço pra um diálogo.
Às vezes alguém ligava pra ela: já eram os amigos antecipando a falta que ela vai fazer. E eu calado. Só ouviam-se as teclas – especialmente o “backspace”. O cuidado é quadru... não: é decuplicado em momentos em que se expõe demais. É preciso cuidado pra não... me machucar? Mas eu já estou ferido... e dói.
Eu já fiz isso antes. Dói sim, eu admito. Mas dói menos quando eu me defendo: e eu me defendo excluindo a pessoa de perto de mim. Soa cruel, eu sei – mas eu prefiro assim. É só mais uma camada pra a minha já tão espessa carapaça.

2.3.08

Um balanço da minha vida aos 30 anos


Eu não acredito no amor, eu não acredito na fé, eu não acredito nas pessoas, eu não acredito em deus, e nem sequer em mim mesmo. Eu não acredito na morte, eu não acredito na realidade, eu não acredito nos sentidos. Houve uma época em que eu acreditava... hoje eu não acredito, e não tem diferença nenhuma. Eu é que não vou viver esperando por nada.
Se existe reencarnação, somos condenados a viver indefinidamente esse pesadelo; se não tem nada depois disso, eu serei um eterno fracassado. Qual a diferença, então?

22.2.08

minha alma tem o peso da luz



Minha alma tem o peso da luz.
Tem o peso da música.
Tem o peso da palavra nunca dita.
Tem o peso de uma lembrança.
Tem o peso de uma saudade.
Tem o peso de um olhar.
Pesa como pesa uma ausência.
E a lágrima que não se chorou
Tem o imaterial peso de uma
Solidão no meio de outras.


Clarice Lispector

15.2.08

O Processo de Desistência


Ontem foi dia dos namorados aqui na Inglaterra.

Não apenas o dia de ontem ser o dia dos namorados (14/02), mas outras coisas também não acontecem somente aqui na Inglaterra. O exemplo mais drástico e o volante é do lado esquerdo do automóvel: eu achava que fosse implicância Inglesa, mas não, os países de colonização Inglesa, logicamente também os têm, como a Austrália e ĺndia... que coisa!

Mas eu não vim falar de carros ou de mão de direção. Eu vim falar de foco. Ou eu vim falar do processo de desistência? Não sei mais. (o que e tão minha cara... tão óbvio...). Quantas vezes eu já desisti de mim? Hoje eu acordei com essa pergunta. E, rolando na cama, eu levantei de subto e susto, quando percebi que eu não me lembrava que eu sou um advogado. Eu esqueci as minhas origens, por completo. De vez em quando eu tenho que fazer força pra lembrar, por exemplo, que eu tenho uma vida inteira atrás de mim, cheia de conquistas. E o simples fato de eu ter que fazer força pra me lembrar destas coisas me assusta, porque eu não entendo a mim mesmo e como funciona, na minha cabeca, o processo de desistência. O fato é que de algumas dessas coisas eu resolvi desistir – e foi um processo consciente, mas que não funciona porque eu assim o quis. Seria algo como que a lembrança de que eu devo esquecer, me lembra do que me fez querer esquecer - e assim eu me saboto.

Eu desisto de coisas pequenas também. Nem os artigos das revistas que leio, eu leio até o fim. Foi, aliás, lendo uma revista inocente, que eu dei conta de que eu desisto das coisas. Mas não sei ainda se eu dedisto facilmente delas. Eu não sei, sequer, se eu chego a me envolver com as coisas/pessoas quando eu chego ao ponto de desistir. Pensando bem, pode ser até medo: medo, ao mesmo tempo, da finitude e da infinitude das coisas. Eu tenho medo do que acaba e do que pode acabar, e eu tenho medo do que dura e do que pode durar. Eu tenho medo quando eu não tenho controle, mas tambem tenho medo do que eu controlo. Enfim, eu tenho medo de me decepcionar. Talvez não a mim, porque eu me minto e finjo que está tudo bem – e chega a um ponto em que eu acredito. Seria então o medo de decepcionar aos outros? (o que daria no mesmo, porque eu só me decepciono com pessoas que são, de alguma forma, importantes pra mim) Então, decepcionando aos outros, eu me decepciono comigo outra vez, mas num nível amplamente diferenciado. Droga! Eu perdi o foco de novo!

Eu estou fugindo de mim? O que eu quero de mim com esta inconsciente falta de foco? Falta, aliás, seria o termo correto? Creio que não. Pode ser, inclusive, outra racionalização. Putz! A semiótica acabou mesmo com minha vida...

Eu nunca tive a pretensão de resolver a minha vida num texto, mas antes eu fazia de conta. E acreditava.

14.1.08

Análise Filosófica do “Belo”

Foi mais ou menos assim: eu dei conta do dia, rolando na cama. E entre criar coragem pra levantar e não pensar nas coisas erradas (das quais eu me envergonho, e que me assombram antes de levantar), eu me apeguei à lembrança do Idigar e na Sônia – colegas de trabalho na Escola Técnica, há uns anos atrás. Talvez porque eu quase atendera ao telefone, na Clarks, uns dias atrás saudando “escola técnica, bom dia” e cantar “Lady Laura” muito freqüentemente desde a noticia que a Fernanda Maria dera à luz a sua primeira filha com o Diogo, eu me encontrei lembrando de uma ocasião em que eu estava possuído por uma euforia ligada à música brega. (Eu adorava gravar Cds temáticos) Parece que, ao menos, na época, tudo tinha começado com a Fernanda Maria e a capacidade que ela tinha de encaixar “Lady Laura”, na faculdade, como tema de quase tudo que nos acontecia: eis, então, (simples assim) que eu precisava fazer um CD só com músicas bregas. Era pra ser a minha, então, mais recente fixação – dentre tantas que vêm e vão, pra preencher meus fúteis e vazios dias. Era um dia comum de trabalho, uma das tardes intermináveis em que não era mais a correria da manhã ou a superlotação das aulas noturnas, em que o sol escaldava, o ar-condicionado da minha sala nunca funcionada e por isso eu fazia a pesquisa das faixas no meu computador, do trabalho mesmo (sim, eu sei que isso não pega bem, mas é a verdade...), e eis que chegam o Idigar e a Sônia (o Idigar era o administrador financeiro, a Sônia, secretária escolar e eu o diretor pedagógico) – ambos aparentemente sem nada pra fazer também, e, não sei como, estávamos os três compondo a lista das músicas que deveriam fazer parte do futuro CD. (Nota: por que eu amo fazer listas? O que as listas têm a ver com minha personalidade anal?)

A lista era “glamourosa” – se é que se pode usar essa palavra pra esse tipo de empreendimento; mas que fora selecionada a seis muito graves e cuidadosas mãos. O único problema era que o Idigar não concordava com o fato de eu querer incluir “Lady Laura” no CD. Eu tinha meus vinte e poucos anos, e o Idigar estava na casa dos 40. Eu sempre ouvira dizer que a diferença de idade conta muito nos primeiros anos de vida, como, por exemplo, entre pessoas de 8 e 15 anos, mas que perto dos 30 as diferenças iam-se, completamente. Sim, isso era verdade. Eu posso comprovar a teoria por dizer que as opiniões eram respeitadas, mas mesmo a diferença de idade não sendo mais motivo para tabus e rejeições, história de vida e experiências pessoais não podem ser recicladas. Segundo ele, Roberto Carlos era clássico, e não podia ser interpretado como brega. Eu sabia, de cara, que estava diante da discussão filosófica do belo, e que não adiantava argumentar. Foi, pois, que a solução mais politicamente correta foi fazer duas versões do CD (uma delas secreta – a minha, que continha uma faixa bônus).

Quando eu me levantei – lá pelas onze e tanto, a Lu começava a se arrumar para ir ao trabalho (eu estava folgando hoje), eu decidi me olhar no espelho e encarar os restos de pizza fria da geladeira. Eu ainda pensava em “Lady Laura” e nas influências musicais as quais a filhinha da Fernanda vai ser exposta, quando a Lu pediu pra ouvir “Say You’ll Be There”. Na semana que vem eu e a Lu vamos ao show das Spice Girls, em Londres – banda que, hoje em dia, divide a opinião não só dos ingleses com quem eu trabalho. Todos concordam com o fato de que eles cresceram ouvindo às Spice, mas que hoje em dia era brega continuar ouvindo. Eu, particularmente, discordo do fato de que elas são bregas e vou ao show sim, com direito a comprar tour book e camiseta, na porta (belo filosófico outra vez). Pois bem... uma faixa puxou a outra e eis que ouvindo “Let Love Lead The Way” a Lu estava prestes a soltar uma das suas preciosas pérolas: “essa música é tão magoada”, ela começou. Eu disse que gostava, mas fui interrompido quando ela acrescentou que a Victoria estava igualzinha ao Glayson no vídeo. (Sim, Glayson... parece sim!) E deu saudades do Izalty, que não falava conosco há meses, e a quem dávamos por perdido, talvez consumido por uma raiva desconhecida de nós dois.

Fazia meses que não nos víamos. Depois de ele ter muito carinhosamente nos recebido na sua casa até que eu e a Lu estivéssemos em condição de vivermos por nossa conta, ele sumiu. Foi uma época áurea pra mim, viver com meu amigo: os dias com o Izalty tinham gosto de sábado – mesmo quando chegamos ao ponto em que mudar não era uma opção, mas uma necessidade, caso quiséssemos manter a amizade. Era muito calor humano para pouco espaço físico dividido por meses e meses, eu sei. Eram longos os dias em que passávamos os três, sob o mesmo teto, ouvindo “Ain’t Another Man” ou “Upgrade” naquela casa sonora. E eis que eu e a Lu nos encontramos numa situação em que somente nos encontrávamos ocasionalmente com o Izalty, desde que havíamos deixado sua casa na Watlington Street. Cada telefonema não atendido, mensagem não respondida, convite declinado, ou mesmo as possíveis interpretações do tom da sua voz nas raras mensagens que ele nos enviava – quando enviava, era um motivo pra alimentar a nossa já certeza de que ele não nos queria por perto. E os meses se passaram sem sequer nos dizer onde ele agora morava... já tínhamos aprendido a conviver com of fato de que ele não nos queria por perto, quando, hoje, depois de ficarmos com dor na barriga de tanto rir do Glayson-Victoria que a enxurrada Spice Girls trouxe à tona, que resolvemos ligar pra ele, pensando em deixar mais uma mensagem na sua caixa-postal. Sim, chegamos a um ponto em que eu e a Lu nos contentávamos em apenas enviar as mensagens, sem sequer pensar que elas poderiam ser respondias. A nossa amizade agora era com a secretaria eletrônica...

Mas o inesperado aconteceu: ele atendeu ao telefone. Contamos a história e a epifania que era ver não o Glayson como Victoria, mas com a Victoria como Glayson, e ele riu conosco, como ele sempre ria. O Izalty é uma pessoa de riso natural, que, se o clima e o ambiente eram favoráveis, ele ria até do mais plano e vazio comentário. Mas o riso era diferente... era familiar. E aconteceu o inusitado: ele nos convidou para a sua casa. Ele nos disse onde morava, até... e eu fui. Vesti-me, me perfumei e comprei uma roseira chá, pra a casa onde ele mora com o Guto e a Vanessa. Era solene entrar naquela casa... Levou um tempinho pra eu reconhecer os meus amigos e me soltar. Mas quando me soltei, eu passei uma tarde deliciosa constatando que as coisas não mudam: ambições, Madonna, Tânia viajando, Strada, baco, arroz com feijão, vídeo-game, odiar o cabelo e outras análises filosóficas do belo e do nosso próprio caráter. Eu não quis perguntar a ele se havia mesmo algum motivo pra acreditarmos que havia um clima ruim rondando a nossa amizade, e se era apenas superexposição ou mais uma viagem neurótica minha, em que a Lu entrou de carona... talvez eu pergunte um dia, talvez ele leia esse post e venha falar comigo a respeito (ou não): não sei o que vai acontecer de agora pra frente: se vamos nos ver ocasionalmente, se a vida vai mudar por causa disso... eu já estou mais sorridente e espalhei pra todos os espectadores da minha vida na Inglaterra, que eu fui à casa do Izalty hoje. Até um post acabou virando, ao som de Roberto Carlos, claro. E eu acho lindo! Tudo isso.

Ar de Escritor Decadente (100º Post!!!!)

Seria uma forma interessante de comemorar o meu centésimo post podendo dizer que eu tenho um ar de escritor decadente... mas eu não acho que eu tenha essa cara não. Queria ter. Queria ser mais boêmio, desleixado, infame, desonesto – só pra escrever desnudo de preconceitos. É uma pena não sê-lo – e eu culpo ao Sr. José Cardoso e à dona Maria Custódia por terem me criado num lar sadio e cheio de outras muitas virtudes. (o que são virtudes, afinal?)
Pois bem, eu queria ganhar a vida escrevendo. Talvez, assim, eu teria esse ar de escritor decadente quando estivesse em minhas entressafras de inspiração, em que, entre um cigarro e outro (eu não fumo!!!), eu sentaria numa beira de calçada qualquer, observaria as pessoas e começaria a escrever sobre nenhuma delas, mas sobre todas ao mesmo tempo. Seria uma escrita quântica, algo que representasse a teoria das cordas, mas em português simples pra emoções complexas e sem muita ação.
Eu seria um homem feliz, creio eu, se eu ganhasse a vida escrevendo. Acontece que os depressivos são felizes quando têm motivos pra chorar – e por isso eu não escrevo pra ganhar a vida – ou talvez não tenha mesmo é talento. (De vez em quando eu me divirto me analisando, caindo nas armadilhas do meu inconsciente – às vezes indo pelo caminho correto, outras apenas me distraindo)
Mas, enfim, cheguei ao centésimo post!
Cheers!
...juro que pensei que meu interesse não passaria do quinto!

9.1.08

O Indizível

Tem coisas que são melhores não serem ditas, já dizia a Annie Lenox. E sim, parece que eu censuro até a mim mesmo. Por que eu não quero tocar em alguns assuntos? Medo de que eu tenho? Será medo o sentimento? Acho que eu apenas quero proteger aos meus pais. Parece que, evitando dizer certas coisas, eu os protejo... Mas e o que eu vou proteger depois que meus pais se forem? Sim, estou falando de morte. A morte me ronda aqui, e sei que ela existe para fazer com que se aprecie mais a vida. Mas comigo não funciona porque eu sei que quando choro a morte de alguém, ou evito-a, estou fazendo-o num gesto puramente egoísta – e eu admito isso sim! Quando eu choro a morte de alguém, eu choro por nenhuma outra razão senão a pena que eu tenho de mim mesmo ao me projetar sem a presença daquela pessoa ao meu lado. E se a morte é a ausência, eu não tenho mais medo porque ninguém (família, amigos, colegas, conhecidos) está perto de mim.
E por falar em morte, eu me envergonho de não ter comparecido ao funeral da minha tia Verinha. Se por um lado eu quis manter uma imagem fresca e alegre da minha tia, por outro eu odeio minha negligência para com meu tio e meus primos – que eu amo igualmente. Sonho muito com minha tia. Sonho sempre que eu volto no tempo e que eu tenho algum plano, algum estratagema para livrá-la da morte. Mas ela não me ouve porque eu sou uma criança que ousou dizer o indizível. Não a vi definhar em vida, mas vejo-a sofrendo toda vez em que eu sonho com ela. Quando sonho com minha tia, não é a mesma dor de arrependimento por ter dito ou feito algo do que me arrependo, mas é uma dor infinitamente pior. Minha tia e o Jacko estão sempre juntos, e ao contrário dos outros entes que se foram, parece que eu só percebi a morte dos dois. Parece que funciona assim: já que estou aqui tão longe de todos, engano-me com o suave torpor (ou demência?) de que ainda estão todos vivos, porque, estando tão longe, na faz diferença.

Uma Nova Promessa

Hoje é noite de natal.
Dia 25 de dezembro de 2007.

Ainda são 21h59 e já estávamos todos dormindo. Eu, principalmente, estou reflexivo. Sim, não sou o único a refletir nessa época do ano. Ontem a noite foi super simpática com troca de presentes e um jantar num lugar divertidíssimo chamado NEW ORLEANS. Não chegamos a falar de 2008, mas é inevitável deixar de pensar como vai ser o ano seguinte, já que estamos tão perto.

Mas ao mesmo tempo eu olho para duas fotos por sobre a cômoda e divertido percebo que ambas foram feitas nos dois últimos reveilons: uma em Guarapari, com a família reunida – todos de branco, e a segunda comigo e com a Lu, apenas, em Turin, vestidos pesadamente de preto. Eu ia dizer que não sabia exatamente onde passaria o reveilon de 2007/2008, mas que certamente seria na Inglaterra, e percebi que não há certeza de nada: tudo não passa de promessas.

Incrivelmente eu percebo, agora que a vida é apenas uma grande promessa. Alguns chamam de esperança – que eu, particularmente, odeio e já falei a respeito dessa praga. Mas é diferente a esperança da promessa, eu sei. E me choca perceber que tudo na minha vida foi uma seqüência incoerente de promessas.

A Clarice disse que ela era uma pergunta. Eu sou uma promessa. E por falar em Clarice, e por falar em ano novo ao mesmo tempo, acho que vale a pena citá-la:

“Quando uma pessoa já experimentou muitos sofrimentos, sabe apreciar as fraquezas e as boas qualidades até mesmo dos próprios inimigos. Por que deve ser nosso inimigo completamente mau, ou a vítima completamente boa? Ambos são criaturas humanas, com o que é bom e o que é mau. E creio que se apelarmos para o lado bom das pessoas teremos êxito, na maioria dos casos.
Sei o que ela quis dizer, mas está errado. Há uma hora em que se deve esquecer a própria compreensão humana e tomar um partido, mesmo errado, pela vítima, e um partido, mesmo errado, contra o inimigo. E tornar-se primário a ponto de dividir as pessoas em boas e más. A hora da sobrevivência é aquela em que a crueldade de quem é vítima é permitida, a crueldade e a revolta. E não compreender os outros é que é certo.”

Deu no jornal: em janeiro vai fazer -17 graus!!!

Mas já faz frio agora.
É, não é tão incomum, mas vale a pena mencionar – nem que seja pra que o final faça sentido e se conecte. Mas, enfim, ontem foi reveillon. Foi a primeira vez que eu passei na Inglaterra, então eu, Lu e João fomos parar em Londres, na Parliament Square – onde as coisas acontecem. Parece que é uma festança anual que lá acontece – com direito a celebridades e contagem regressiva, televisionadas para todo o Reino Unido. E, claro, as pessoas mais importantes da noite estavam lá: nós três.
Com direito a bateria da câmera do João acabar, a memória da da Lu encher e só sobrar o meu telefonezinho cafajeste, a noite se revelou um presente. Além do direito a comemorar 3 viradas (Inglaterra, Itália e Brasil), o clima era somente festa, sem nenhum incidente inconveniente – apenas das centenas de milhares de pessoas que dividiam o espaço conosco. Foi delicioso conversar com família, com amigos e descobrir uma brasileira do nosso lado quando falávamos ao telefone, sermos abordados por um polonês bêbado – mas super gente-fina que falava umas palavrinhas em português, os indianos bêbados, as inglesas barulhentas e claro, os diversos papagaios-de-pirata e penetras que adentravam em várias fotos que tentávamos fazer. Foi simples. Inesquecível. Choveu um pouco, mas não o suficiente para desabrilhantar a festa que zerava o pseudo-tempo que vai se chamaria 2008, desde então. Essa delicia me fez pensar que não se deve subestimar as coisas. E entre elas, nem um país em que conversa sobre “tempo” não significa falta de assunto.
Seguem fotos.