27.3.07

E você, por que desvia o olhar?

(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarrá-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)

— Ah. Porque eu sou tímida.


(Adoraria ter sido eu o autor, mas o texto foi feito pela Rita Apoena)

17.3.07

Não quero!

Sorvi a coca-cola ruidosamente olhando com rabo-de-olho para a mesa ao lado. Eram uma família bonita de negros orgulhosos. Eram meio cafonas, para ser sincero, mas orgulhosos. Houve um momento em que o menino furtou uma batata do prato da sua irmã mais nova e ela começou a chorar. Eu estava tão vidrado na vida daquela família que, por um segundo, quis proteger meu prato de batatas também – mas resolvi que apenas as comeria. Levantei-me para me servir de mais refrigerante quando notei que a garotinha já não chorava mais, e comia o mesmo frango que eu comia. Senti-me unido a ela por um sengundo... Mas era o mesmo que o Izalty comia também – e provavelmente o mesmo que a outra metade do restaurante, mas eu me identifiquei com aquela menina, que já não chorava mais... Ela já não chorava mais e comia frango com toda delicadeza do mundo, talvez como se ela se sensibilizasse com a textura. Ela olhava pra cima enquanto comia, e entre uma garfada e outra, ela sorria pro irmão com aquele sorriso falhado típico de quem troca de dentes, e então ela pegou uma de suas batatas e ofereceu pro seu irmão, que aceitou sem dizer anda - apenas abrindo a boca orgulhosamente. E ambos trocaram sorrisos. E eu sorri, feliz com sua cumplicidade, imaginando-me servindo batatas pra Lu. Foi naquele instante que eu realizei como era ser parte da platéia, e me inquietei. Foi naquele momento que eu percebi que eu vivia uma vida anônima. Fiquei assustado com o fato de que fazer parte do rebanho aniquilava com os meus planos autodestrutivos. Senti medo quando percebi que fazer parte da platéia me mantinha vivo!

Divagações nº I

Fazia tempos que eu não odiava Sócrates, mas o sentimento voltou com força total ontem quando eu vinculei felicidade com esperança. Na verdade odiar Sócrates não resolveria o meu problema porque, no fim das contas, a suas idéias foram compradas: não foi ele quem as impôs. E mesmo se tivesse imposto, como eu convenceria a maioria? E quem disse que eu preciso convencer a maioria? Quem disse que eu quero? Não, não quero porque eu seria tão preconceituoso quanto eles, ao impor minha observação – que é minha, e não precisa ser de mais ninguém pra ser verdade. E verdade, pra mim, não é nada mais que observação – não observação no sentido vulgar, como Sócrates idealizou, porque toda experiência é sensível! Toda. Resta, ao fim, o que não se experiencía, e por isto tem-se que, de alguma forma, confiar no rebanho. Mas como, se eu não quero compartilhar das suas verdades? Sou obrigado. Sou obrigado a ser um ser social! Um ser social que não consegue ser sincero nem consigo mesmo: eis outro ser social!

16.3.07

A Felicidade....

Somente agora eu entendi que a felicidade vicia. Eu sempre acreditei que toda pessoa seria suscetível a um tipo de droga: uns viciam-se em álcool, outros em cocaína, outros em drogas mais pesadas. Eu já experimentei de um quase tudo, mas parei antes que eu encontrado pela droga que finalmente me viciasse... mas eu achava que apenas as drogas viciassem – ou, quem sabe, eu tinha um conceito muito estereotipado de drogas?

...até então eu nunca tinha pensado na felicidade como uma droga! Sim, droga, porque proporciona prazer em doses devidamente provocadas, causa dependência e requer quantidades cada vez mais intensas para proporcionar o mesmo prazer. E por causa disto vive-se perigosamente porque muitas pessoas acreditam que o objetivo da vida seja ser feliz... mas esse assunto já me cansou. Já tenho o meu conceito de felicidade. Só que agora, não sei ainda muito bem como, vou ter que colocá-la no mesmo patamar que a esperança.

Ai... eu tinha outra coisa completamente diversa do que eu escrevo agora, preparada em minha cabeça. Queria falar de... ah, não sei mais sobre o que eu queria falar. Acho que “a felicidade” se apossou de mim e quer ser examinada outra vez. Sim, outra vez. Interessante como esse tema me persegue e cada vez mais me surpreende! A felicidade está sempre me procurando pra conversar... Opa! Calma lá! Isso ta ficando sério porque eu sempre acreditei que a felicidade fosse um objetivo humano, uma coisa boa demais – mas agora estou outra vez perto de Nietzsche! Se não e a felicidade que eu devo almejar, o que será? Será que o problema com ela e que eu considero a felicidade boa demais? ...mas pra mim também?!


7.3.07

Outonando (ou: Primaverando).

Se me perguntassem como eu estava há uns dias atrás, eu não sei o que diria, mas não seria muito otimista. Hoje, no entanto, eu amanheci. Eu senti orgulho de mim. Não digo que eu tenha voltado a contemplar à vida, mas não mais estou mais outonando (gostei de criar esse verbo!), mas talvez primaverando. Uma das coisas boas foi o fato de eu compreender para onde foram as coisas que eu já aprendi. Para onde? Não sei... sei que as esqueci. Aprendi que é preciso aprender, aprender, só pra depois esquecer. Acho que estou descobrindo que só se é livre depois que se esquece o que aprendeu. Sim, porque depois de uma jornada, não somos capazes de ser a mesma pessoa de antes – torna-se algo novo. Algo novo que não esquece, na verdade. Ou se esquece sim, talvez, mas só pelo prazer de achar de novo, e de novo, e ficar feliz porque lá no fundo, já se sabia. E até disso eu já sabia – pro meu espanto. Mas descobrir o que eu já sabia não me deixa feliz – eu já teria previsto essa possibilidade, ou mesmo o prelúdio dessa felicidade, já que eu estou tão clarividente hoje... Eu fiquei incomodado com essa palavra que acabei de usar: clarividente. Não gostei, eu acho. Ao contrario de “aventureiro”, que foi como um colega me chamou, num scrap por ocasião do meu aniversário. Quer dizer então que prefiro ser aventureiro a ser clarividente? Mas, quer dizer, no fundo, não e a mesma coisa? Os dois não lidam com o desconhecido, com a novidade? com a possibilidade?! Olho fixo pro teclado. Quero fotografar o que se passa pela minha cabeça. Mas é impossível: enquanto eu tentava fotografar o meu estado de espírito, fui pego por uma ansiedade, uma excitação de desafio – e a minha musa fugiu, de repente. Não. Definitivamente ela não fugiu – eu que não quero dizer: é meu e somente meu o que aconteceu. Mas para não dizer que sou egoísta, vou deixar um espaço em braço pra que você também possa ficar a sós com a sua musa. Sim, intimidade é isso sim. Quero ficar sozinho. Intimidade é a vontade de potência!










[enjoy the silence]