30.7.06

Parte I - No Brasil

CONVERTENDO-ME NA MINHA PRÓPRIA FICÇÃO
Relatos dos dias 26 e 27 de julho de 2006.
Parte I - No Brasil


Ontem eu cheguei à cidade de Reading, na Inglaterra. Mas para aqueles que me conhecem, sabem que nada é tão plano assim para mim. Tudo começa quanto minha família me deixa diante do portão de embarque do aeroporto de Confins, em Belo Horizonte, e embarco num vôo da TAM.

Dentro do avião eu lia uma biografia da Clarice que tinha uma cópia de uma carta endereçada a um amigo, que dizia assim:
“é esquisito escrever uma carta de tão longe, parece que se fica com a obrigacão de escrever coisas formidáveis. Por favor, nada é formidável, ou sei lá, talvez tudo seja”.
Quando li a frase eu me senti compreendido, e enquanto me convencia de que tudo era [sim] formidável, eu olhava pela janela para a topografia Mineira e observei, de relance, o monitor que informava o clima do lado de fora: -66°C. Isso mesmo: sessenta e seis graus negativos lá fora. Foi impossível não fazer uma comparação entre altitude e clima, que logo se converteu em uma metáfora entre posição social/profissional e a solidão: quanto mais alto, mais solitário e, por que não, frio?

Chegando à São Paulo, a TAM deveria ter nos transportado, de ônibus, de Congonhas para Guarulhos, mas acontece que o ônibus sai de uma em uma hora do terminal e tinha, logicamente, lotação específica. Resultado? Filas quilométricas porque a cada segundo (exagero?) chegava mais uma alma que tinha que ser transladada! Um deles saia exatamente quando eu chegava e aderi a uma fila de passageiros que embarcariam no próximo ônibus. Os taxistas nos cercavam como carcaras em busca de um umbigo desprotegido, e quando chega o ônibus seguinte, acreditem – pasmos como eu fiquei: ele lotou faltando uma – sim, uma pessoa para eu entrar! Fabiana, a garota na minha frente ficou indignada. Eu, por outro lado, ficaria tão ou talvez ate mais indignado que ela se estivesse no seu lugar, mas como para mim a indignacao foi menor porque eu me coloquei no lugar dela, apenas sugeri que dividíssemos um táxi. Alexandre, a pessoa atrás de mim concordou e fomos todos para Guarulhos a caminho do nosso check-in.

No caminho fizemos uma certa e fugaz amizade - daquelas na qual podemos ser qualquer coisa, visto que, afinal, ninguém vai poder te desmentir, mesmo porque você nunca mais verá aquelas pessoas de novo -, descobrindo que Fabiana ia para Itália também para reencontrar o namorado – fazia um ano que namoravam a distância, e o agora Dr. Alexrande – dentista em Portugal por 12 anos, ia para um congresso em Nova Iorque. Lá dentro do carro desenvolvemos uma simpática teoria sobre o povo brasileiro, juntando o fato de Fabiana não ter visto sequer uma única pessoa usando aparelho ortodôntico durante os sete meses que ficou na Itália, e o Dr. Alexandre dizer que as pessoas só iam ao seu consultório tratar os dentes da frente, porque quando o probela ultrapassava o pré-molar, era extração na certa!
Percebemos que a marca registrada do brasileiro é a simpatia, que evoca ao sorriso, e que, justamente para se mostrar simpático, o brasileiro cuida não dos dentes, mas do sorriso!
Fato este que torna ainda mais poético o cuidado que temos com nossos dentes. Ou não? Bem, certo foi que chegamos antes do ônibus que não nos coube, em Guarulhos – e antes, inclusive, do inicio do check-in! Despedi-me dos dois [novos] amigos que iam para vôos distintos em companhias diferentes. Afinal, eram histórias diferentes.
O check-in para o vôo da Ibéria – uma companhia Espanhola – comecaria às cinco da tarde, e ainda eram quatro de quarenta mais ou menos, e já havia umas vinte pessoas na fila. Quando chegou o ônibus, pessoas com quem eu conversara, ainda na fila, me perguntaram como chegara tão rápido. La pelas cinco e dez eu fui atendido e me despedi da minha mala, a qual eu deveria rever quando chegasse à Inglaterra, quase vinte horas depois. No salão de embarque fiz amizade com a Dona Franchica – uma senhora super viajada e simpática que iria para a França. Simpatia em pessoa, a Dona Franchica. Tomamos juntos um capuccino e nos despedimos depois que entramos no avião. [Adoro essas amizades fugazes! Amo mesmo!] De vez em quando tentávamos entender o que era dito no sistema de som, mas em vão – chegamos à conclusão de que não era pra se ouvir, por que que se fosse, era pra ser compreendido, não é verdade? Falamos, entre outras coisas, sobre “Alice no País das Maravilhas”, mas falamos tambem sobre o Mutley e sobre desenhos animados – estes sim feitos para crianças.
Notei que a nostalgia independe da idade, nem mesmo de experiência... aliás, a nostalgia é uma experiência individual e solitária.
...continua.

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