9.10.06

Um Objetivo Perene!

O Juninho saiu, a Tathi saiu, o tio trabalha – todos saíram. Estamos eu e a tia em casa – o que significa que estamos ambos sós: ela lendo Sentinela; eu aprendendo descontraído. Sim, descontraído, porque eu me dava conta de que assim como Marilyn e Elvis, Zaratustra também não conseguiu morrer, enquanto passava a ponta do grafite por entre o vão das unhas da minha mão. Mas foi apenas por isso... se eu continuasse a olhar para baixo talvez eu não tivesse descoberto tal novidade. Não sei o que eu descobriria se estivesse olhando pra baixo ou para os lados. Não sei nem se importa a direção pra onde eu olharia… afinal, se até os mais corajosos raramente têm a coragem para aquilo que realmente sabem, eu prefiro apenas desconfiar. Mas não quero falar do que desconfio nem do que penso ter certeza. Estou decepcionado! Eu estava excitado com a minha visita ao bar em que Nietzsche costumava freqüentar aqui em Torino, mas ontem, quando vi as cenas finais de “Os Dias de Nietszche em Turim” e me deparei com as imagens em movimento de um ser distante que não se parecia nada com um Übermensch, e não demonstrava nem um pouco da vontade de poder. Cheguei a pensar que, sendo aquele seu cárcere, o silêncio também poderia ser uma convicção. Mas não... prefiria Dionísio e Apolo juntos! Também não fui adiante com a idéia porque me lembrara que havia sido lançado um novo DVD da Bethânia chamado: “Música é Perfume”. E Lembrei que eu o queria! Mas também queria tirar o aparelho dos dentes! Ai, como ele está incomodando… dias atrás meu dente incisivo lateral inferior direito sangrava muito e eu acabei mudando minha posição de dormir para que ele melhorasse. Aliado com doses paquidérmicas de água oxigenada a boca parou de sangrar. Hoje o dente só incomoda um pouco, mas a vontade de ver o documentário da Bethânia só cresce! Cresce como os meus cabelos que já não têm corte e caem mais do que nunca. Ouvi dizer que cabelo grande cai mais que cabelo curto… espero que seja verdade porque eu me divido entre cortar os cabelos para não ter que penteá-los mais [penso em máquina 2 ou 3!] ou aguardar mais um tempo até que ele cresça o tanto que eu preciso para fazer um corte razoável. Enfim, de qualquer jeito o destino do meu cabelo é ser cortado. Não tenho muita paciência com ele, assim como ele não tem muita paciência comigo. Acho que nos odiamos.. ou somente ele me odeia, pode ser. Eu o hidrato, penteio, tiro as caspas, mas ele insiste em suas convicções e teimosia de só ficar do jeito que ele bem entende… ele nao me ouve! E me lembra os dias em que lavo a louça do almoço lendo Clarice Lispector, ao som de Britney Spears que meu primo coloca. Uma vez ele me disse que era um paradoxo ler Clarice ao som de Britney, mesmo que a ponte fosse a louça sendo lavada. No fim, tudo remetia a ficar limpo, limpo! E de vez em quando discutimos moral, normalidade e, por que não, higiene? Higiene é uma questão moral Posso estar sendo cruel, mas minha luta com meu cabelo me faz pensar no que devo fazer com o catarro que vem parar ocasionalmente na minha boca: cuspo ou engulo? Fico pensando nessa fixação anal que os nossos pais nos repassam de não sei quantas gerações ao nos ensinarem que o corpo é desprezível! Não acho que o corpo seja desprezível ou sujo; muito pelo contrário, sou orgulhoso do funcionamento do meu corpo, e diferentemente do que a grande maioria age, não tenho nojo do que o meu corpo fabrica. Há sim coisas que o corpo rejeita, mas mesmo assim eu não tenho nojo delas. De vez em quando eu engulo catarro sim, e daí? Tem gente que coloca tanta coisa na boca, então, por que não? Ai… tem gente que tem nojo de lavar louça, mas principalmente de lavar panelas. Pergunto: Se o que está nela são sobras do que se comeu com muito bom grado à mesa, o que faz desta algo repreensível? Ai, ai… Não entendo mesmo! [Será que eu faço questão?] Fico pensando, por causa disso, que eu não lutaria pela vida se sofresse um desastre aéreo sobre o oceano. Fico procurando motivos pelos quais lutar, mas só lembro que o aparelho está incomodando e que a caspa do cabelo está coçando - e porque morro de preguiça de lavar louça, apesar da minha mania de organização! Quer dizer, depois do banho a segunda ainda persiste? Então por que lutar pela vida diante de um desastre de avião? Talvez uma nova dissertação me salvaria; algo como relacionar os meios de produção com as respectivas representações religiosas no decorrer dos tempos. Mas e depois? Como encontrar um objetivo perene? Um objetivo perene que valha a pena… Cortar as unhas! As unhas crescem depois de cortadas - seria um exercício de paciência esperar pelas unhas crescerem para depois cortá-las de novo. Não… seria como um inferno pessoal [se eu acreditasse em inferno], como cortar a grama do Maracanã com um alicate de unha: quero um objetivo, não um castigo! Vou comprar o DVD da Bethânia! Procuro um objetivo amanhã… Afinal de contas, minhas unhas já estão suficientemente aparadas.

Um comentário:

Mila disse...

Eu vi "Música é Perfume". Em um cinema em BH. (Pra você morrer de inveja já que, além de ver, eu vi no cinema)
Não volta mais pro Brasil?
Beijo!