1.10.06

Como era?

Depois de hibernar, escrevo do apartamento do tio Geraldo, em Torino, sobre o show da Marisa Monte em Milano e tento exaustivamente lembrar de uma palavra. Não é simplesmente uma palavra – é um adjetivo. Houve um momento em que, quebrando um silêncio teatral, um fã chama a Marisa de alguma coisa forte, mas que não é empregada freqüentemente, então toda a gente achou graça e a Marisa também deu sua repentina, uníssona e grave risadinha. Mas eu não me lembro agora da palavra... como era?

Eis o meu trecho favorito do show, em termos de performance... "Carnalismo" ficou linda, mas o palco deixa de aparecer, pra ela dar o show...




Como parte dos preparativos pro show eu procurava pelo tracking list, a fim de colocar as músicas do repertório no meu MP3 Player, mas não achava nada. Lembro-me, sim, de ter visto a lista das músicas numa comunidade da Marisa no Orkut, mas não mais encontrei. Tudo o que eu sabia do tracking list era que reunia músicas antigas como “Maria de Verdade”, “Alta Noite” e “Segue o Seco”, mas focando o espetáculo no Tribalistas e mais incisivamente nos dois novos e simultaneos albuns: “Universo ao Meu Redor” e “Infinito Particular”, numa tour chamada “Infinito Particular”. Enfim: cheguei sem saber o que esperar do tracking list.

O Teatro Esmeraldo – apesar de vermelho, era bem pequeno e, por isto, achei que o espetáculo seria reduzido a um pocket, que, aliado ao fato de eu não saber quase nada sobre as músicas do show, fez com que a minha surpresa fosse mais saborosa a cada canção. A cada acorde de uma nova música eu apertava a perna esquerda do Juninho – sempre ao meu lado, e me derretia ao dizer o nome dela, até então, apenas suposta para mim, mas completamente desconhecida para ele, cru que era em assuntos Marisa-Monteanos e que não se permitia ouvir nada que não fosse Madonna, Kylie Monogue e um monte de outras músicas filhas-únicas de cantores-de-uma-música-só, que entre outros quesitos intrínsecos somente para ele, tinha também que horrorizar, de alguma forma, a sua mãe. Mas até ele se rendeu à Marisa, enfim... Já eu me surpreendi porque pensei em um pocket, mas vi um espetáculo de tecnologia, criatividade, simpatia e principalmente, sensibilidade. Mas e a palavra, como era?

Eu fui pro show com essa música na cabeça, então, era de se esperar que fosse, no geral, minha favorita da noite: "Meu Canário".



Como seguidor da Marisa, claro que eu digo que senti falta de umas 70 músicas, pelo menos – mas não ousava tirar uma que fosse. Sim, fiquei surpreso quando ela cantou “Pernambucobucolismo”, mas como era de se esperar, até as descaminahdas se tornam preciosasas quando as ouvimos ao vivo. Tive síncopes psicóticas quando ela cantou “Dança da Solidão”, “Não Vá Embora”, Carnalismo”. O meu momento favorito foi em “Meu Canário”, que, além de ser a minha atual favorita música, contou com a participação de uma gaiola ecologicamente correta: uma graça! Também foi uma delícia ouvir os italianos (maioria no show, diga-se de passagem), com seu sotaque característico, ecoarem na saída do espetáculo, os versos: “Tô te querendo...”


Sei que depois deste show posso me dizer, em partes, realizado, porque estive na presença da santíssima trindade: Madonna, Bethânia e Marisa. Preferi não tentar foto com a Marisa, depois do show, como estratégia para manter o mito. Claro que não seria tão fácil conseguir fazer a foto – penso, inclusive, que foi providencial o último trem para Torino, antes das 5h30 da manhã, ser às 0h30, e termos que correr para apanhá-lo. E não seria apenas a foto.... seria polido dizer alguma coisa para ela! Mas o que eu diria para a Marisa se estivesse diante dela? Apesar de... como era mesmo? Do que foi que o cara a chamou? Sim! Isso! Ele gritou: “absurda!”, e todos riram. Mas ao contrário do que disse o cara na platéia, eu não diria que ela era absurda – não diante dela.... diante dela eu teria que escolher melhor as palavras, e além do mais, eu estava preparado psicologicamente pra vê-la cantando, apenas. Eu não saberia o que dizer para a Marisa Monte, que não é apenas uma cantorinha qualquer... ela equivale ao Espírito Santo, na minha trindade! Não é medo de sofrer – que isso fique muito claro! O problema é que eu teria que ficar outras horas pensando no adjetivo certo.... qual seria mesmo?

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