17.3.07

Não quero!

Sorvi a coca-cola ruidosamente olhando com rabo-de-olho para a mesa ao lado. Eram uma família bonita de negros orgulhosos. Eram meio cafonas, para ser sincero, mas orgulhosos. Houve um momento em que o menino furtou uma batata do prato da sua irmã mais nova e ela começou a chorar. Eu estava tão vidrado na vida daquela família que, por um segundo, quis proteger meu prato de batatas também – mas resolvi que apenas as comeria. Levantei-me para me servir de mais refrigerante quando notei que a garotinha já não chorava mais, e comia o mesmo frango que eu comia. Senti-me unido a ela por um sengundo... Mas era o mesmo que o Izalty comia também – e provavelmente o mesmo que a outra metade do restaurante, mas eu me identifiquei com aquela menina, que já não chorava mais... Ela já não chorava mais e comia frango com toda delicadeza do mundo, talvez como se ela se sensibilizasse com a textura. Ela olhava pra cima enquanto comia, e entre uma garfada e outra, ela sorria pro irmão com aquele sorriso falhado típico de quem troca de dentes, e então ela pegou uma de suas batatas e ofereceu pro seu irmão, que aceitou sem dizer anda - apenas abrindo a boca orgulhosamente. E ambos trocaram sorrisos. E eu sorri, feliz com sua cumplicidade, imaginando-me servindo batatas pra Lu. Foi naquele instante que eu realizei como era ser parte da platéia, e me inquietei. Foi naquele momento que eu percebi que eu vivia uma vida anônima. Fiquei assustado com o fato de que fazer parte do rebanho aniquilava com os meus planos autodestrutivos. Senti medo quando percebi que fazer parte da platéia me mantinha vivo!

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