24.1.07

Vô Cardoso

Sim, meu Avô.

Hoje faleceu meu Avô (com "A" maiúsculo.)

Eu não posso dizer que eu tivesse um avô perfeito, daqueles de história do Monteiro Lobato... Aliás, meu avô não podia ser a Dona Benta, e Monteiro Lobato nunca escreveu sobre um avô. O fato é que o vô Cardoso não foi mais presente na minha vida porque eu não dei muita intimidade para ele: eu nunca estive perto tempo suficiente pra tal, mas a cada conversa que tínhamos, eu me encantava com a sua sabedoria.

Sim, era um homem sábio. Sábio demais, devo admitir. Era também um homem justo, sério e, entre milhares de outras qualidades, honesto também. Meu avô era daqueles homens dignos de filme. E eu digo isso sem medo de soar demagógico, porque todos os netos concordam com o fato de que o vô Cardoso era “ótimo”, “gente boa”, e outras coisas mais que não se atribuem a um avô, mas a um amigo. E a opinião de que ele era um homem sério não vinha somente da família: eu tive diversas oportunidades de sentir o respeito que as pessoas tinham pelo homem imortal que ele é! Que qualquer um experimente mencionar o nome do José Cardoso Dias na região de Caratinga, que um tapete vermelho ornado de rosas será estendido diante de si. Mas o orgulho do meu pai, por si só, ao falar do vô Cardoso era motivo mais que suficiente pra eu idolatrá-lo também. De peito estufado e olhos úmidos meu pai contava milhares de vezes as façanhas da sua infância e juventude – sempre com meu avô intermediador e justo nas arestas. E porque se meu pai, que é o meu modelo de perfeição, o idolatrava, eu o amava também, e ponto final. E acontece que eu amo o vô não por causa do meu pai, mas pelo homem contemporâneo e de cabeça cheia de idéias vanguardistas que ele foi.

Houve uma época em que eu não gostava de ir à casa dos meus avós, e eu mesmo não sabia o motivo. As férias em Caratinga sempre eram interrompidas pela carranca do meu pai, por eu não gostsar de visitar os seus pais. E que a verdade seja dita: eram muitos os netos. Muitos netos pra disputar a atenção de apenas dois avós. Sim, era ciúme... E tempos depois eu fui surpreendido pelo entendimento de que eu também morava no coração deles. E no começo eu pensava que era querido porque eu fosse um dos netos “doutores” na família ou porque eu era filho do Cardosinho, ou Zé Baixinho – como chamavam meu pai; mas não: aquele homem me respeitava também. Ele me respeitava, e eu me encho de orgulho por o meu avô, o Homem que ele era, me tratar como igual!

Engraçado... Toda a minha vida eu fui chamado de Catatau. Diz meu pai que meu avô media minhas perninhas usando as mãos, palmo a palmo, quando eu era bebê, e ria-se, imaginando se eu alcançaria ao menos do tamanho do meu pai. E uma vez, meu pai, vendo que não mais adiantava brigar, me colocou contra a parece e quis saber o porquê de eu não gostar de visitar meus avós. Eu, meio sem saber – sem graça ao ver meu pai desarmado, disse que era úmido demais o quintal, e que tinha mosquitos que me picavam e me deixavam empolado. Mas somente anos depois eu percebi que a casa era úmida sim, mas o real motivo para eu não gostar de visitar meu avô era por causa do meu horror ao, certa vez, constatar que eu já era mais alto, ao menos fisicamente, que o mais alto dos homens, na concepção do meu grandíssimo pai.

Vai com Deus, vô Cardoso, e aproveita o seu jeito mansinho e jeitoso de conversar, e vai falando aí com São Pedro pra deixar a gente entrar quando for a nossa hora. E, pra não perder nunca o costume: a bênção, vô Cardoso! Pra sempre, vô , a sua bênção...

2 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

EU não o chamva de vô cardoso, eu o chamava de Zé...
A coisa mais triste será chegar no restaurante e não ver "O Zé". Não falar: E aí Zé, como vão as modas?Vamos jogar o Zé n'água? Vamos jogar o Zé na cama??

Saudades eternas do Zé...

Maria Claudia