24.1.09

Plural Vs. Singular



Uma vez me disseram que todo casal resolve suas diferenças na cama. Por um momento pensei na conotação sexual, mas antes que eu indagasse, completaram dizendo que a cama é o local aonde o casal se despe não apenas das roupas, mas das obrigações e dos temperamentos também. A cama é o local aonde o casal se abre para diálogos impossíveis à mesa do restaurante ou na sala de reuniões. Eu nunca entendi se tal exclamação era um desabafo, se era um grito de alerta, ou mesmo um pedido de socorro do meu, então, parceiro. O que quer que tenha sido, fora dito uma semana depois de deixarmos o nosso apartamento e limitarmos o nosso relacionamento aos encontros religiosamente diários, quando eu o buscava no trabalho, ou quando – ocasionalmente, nos organizávamos socialmente para algo barato.

Eu não queria aceitar o fim, e por diversas vezes eu tive a chance de me libertar, porque ou eu amava a pessoa que eu era ao lado dele, ou eu simplesmente me tornei obcecado pela realização da fantasia perfeita... ou simplesmente eu não queria aceitar que teria de encarar todos os prejuízos de um negócio extremamente mal-sucedido.

Ele também me culpou por levá-lo a lugares ermos ou inusitados – eu sempre gostei de aventuras, mas não percebi que o meu fetiche tinha se tornado uma obsessão ... eu também não tive estômago para ver, pela segunda vez, “A Paixão de Cristo”, do Mel Gibson – ele vira o filme por diversas vezes – ele se aprazia sofrendo diante das historias alheias. Talvez fosse uma forma mais intensa ou singular do meu próprio mecanismo de racionalização : eu, mesmo que momentaneamente, esqueço dos meus problemas mergulhando nos dos outros... E me disseram que numa das vezes em que ele fora ver o Cristo, ele fora acompanhado de outro. Não que “outros” fossem um problema – eu sempre optei por relacionamentos abertos porque eu sou aventureiro e também porque eu acredito que o que é meu não precisa estar preso para ficar comigo. Havia os que diziam que eu não tinha auto-estima, e mesmo os que me viam como o coitado acompanhado do oportunista. Eu preferia ler que eu era o Ser que exercitava o exercício da perda, para que me acostumasse a ela quando o fim chegasse – ou seja, o plural não era ruim, o problema era exatamente “outro” (sim, no singular).

Eu sei que tudo é eterno enquanto dura, e a minha eternidade durou até a noite em que, saindo do cinema, ele me disse que tinha conhecido outra pessoa, e eu o confrontei dizendo que sabia quem era e que há semanas – ou meses, atrás, ele já não era novidade. Deixamos o nosso apartamento por precaução: na medida em que o nosso relacionamento morria, gastávamos mais tempo e dinheiro em coisas e situações que nos despistavam de nós mesmos: eu pensava em como realizaria a próxima fantasia, e ele conhecia o seu futuro companheiro.

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