10.12.08

Home Sick (Preparativos de Natal)

Hoje em dia eu entendo que eu era uma criança necessitada e o Igor infeliz. Ele era cruel e eu adorava o seu senso de humor seco e natural que eu não me atrevia a extravasar.
Eu não exatamente digo que eu fora uma criança parasita, que “grudava” nos amigos e sugava delas cada gota de atenção. Não, eu não me considero uma criança parasita, mas sim, eu sugava dos meus amigos cada gota de atenção... sim, eu agia assim com meus amigos homens porque o meu pai não pode estar presente quando eu precisei dele. Na verdade ele precisou da gente na mesma época, mas eu não sabia bem o que estava acontecendo, e eu não sei como ele vê a nossa participação. A minha ligação com as mulheres, até certo ponto imitava a minha relação com a minha mãe, e continuava no ponto em que ela me deixava. Mas na minha relação com o Igor, eu era ele na relação dele com o irmão.
Ele era a criança mais crítica, cruel, manipuladora e egoísta com quem eu me relacionei. Na verdade, o Igor, como todos os meus amigos, era tudo o que eu sempre quis ser. Ele ria quando sentia graça, ele dramava quando estava mal, e era forte quando não era ninguém. Eu amei o Igor como a um irmão, e não aceitava a intromissão de ninguém mais.
Eu não sei quando fomos unidos – nossa união se perde no tempo e nas fotos, mas cessou quando eu vi que ele não cabia num mundo tépido em que eu não sabia se estava preparado para eu mesmo mergulhar. Eu cheguei a tentar, mas não funcionou... o resultado era uma mistura de “Priscilla” com “Alien”.
Ir para Caratinga era controverso porque, supostamente, nós não deveríamos estar lá. Meu pai foi forçado a cortar seu vínculo com a família, mas a dor que a família da minha mãe sente entre si era maior até que o amor. Pausa: Eu sempre achei que as pessoas se identificam pela dor. Quando respondemos – “eu entendo você”, ou “eu sei pelo que você está passando”, é uma tentativa de se identificar através da dor... A dor, em outros casos, funciona como um sistema de medida, de maneira que a pessoa só sabe que está viva porque ela dói – física ou emocionalmente.
Algumas situações pelas quais passamos na vida são vergonhosas, outras são apenas parte do crescimento, e a diferença somente se faz perceptível quando se pergunta: “em que eu estava pensando?” Mas a pergunta é perigosa e se assemelha a afirmação: “eu sou”. Como disse Clarice, se a gente se prende a epifania do “eu sou”, por mais de alguns segundos, enlouqueceríamos. Eu, por exemplo, sabendo disso, sobrevivo descobrindo o que eu não sou. Hoje eu não me envergonho tanto das coisas que fiz no passado – não porque estou em paz, mas porque eu distraio categorizando em “amadurecimento” ou “burrada”. E quando eu estou próximo de um veredicto, eu não sei mais sobre o que eu estou pensando...
Oops... perdi um pouco o foco aqui, mas, voltando ao assunto, foi com o Igor que eu cresci e aprendi que o mundo era cruel. Eu devo a ele o homem prostrado que eu sou hoje, porque ele me ensinou que as minhas brincadeiras não tinham graça, e que havia sempre uma resposta pronta para uma delas.
A quem eu dirijo a descoberta de que nada muda? De que não importa o que você faça, nada vai mudar... Eu acredito no livre arbítrio e no fato de que você é livre para fazer escolhas. Existe sempre uma bifurcação diante de você, e é você quem decide dar ouvido ao que te cerca... e no fim, tudo retorna ao inconsciente coletivo e não é mais creditado a você, porque você também era um instrumento na engrenagem da bifurcação. E, enfim, não é como você se sente que conta: o que realmente conta é como as pessoas te enxergam do lado de fora.

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