9.6.08

A Mãe dos Espelhos



O que me incomoda profundamente em relação à liberdade e ao conhecimento é que depois que você absorve um pouco de um dos dois, algo muda. Não que a cada dia não nos tornemos alguém diferente, ou que as epifanias dependam de uma intervenção metafísica, mas há experiências que não permitem regresso. E não permitem regresso porque se tornam tão comuns como dormir, comer, ou qualquer outra coisa simples que pode se fazer no dia-a-dia e que, por conseqüência, não se pode viver sem: stick-toffe pudding? Uma troca de olhares? Qual é a diferença?

A felicidade, ao meu ver, exige ápices, como toda droga que se preze: e vicia. Mas o que vem depois do ápice? Seria como o átomo e suas sub-particulas – só que inversamente proporcionais, claro: pode-se dividir infinitamente, mas depende-se da ferramente correta pra enxergar as novas camadas. Seria a felicidade a derradeira ferramenta? A felicidade é o ápice, ou apenas um ápice? E como se reproduz um ápice? Do que serei eu capaz para trazer o ápice de volta? Ou melhor, ir mais adiante? Quem me vê enxerga a minha busca? Meu potencial? Quando, da janela do restaurante, eu olho para o homem e recebo de volta um olhar, o que ele vê? Ele vê o que sou, ou do que sou capaz?

Foi então que eu entendi o jogo da roleta-russa... na tentativa de atingir ao ápice, tornam-nos capazes de tudo. Não que isso signifique ter-se desistido de si mesmo – muitos acreditam no contrário: há pessoas que pensam que aqueles que desafiam a sorte não se importam com a vida. Mas é exatamente o contrário: os que desafiam a morte querem apenas viver! E esses mesmos, na maioria das vezes, amam a vida e somente giram a roleta na expectativa de que algo os excitem – nem que seja apenas girar a roleta. E existe uma diferença oceânica entre girar a roleta e apertar o gatilho. Pra apertar o gatilho é necessário mais do que coragem... exige-se que se acredite que a morte é uma possibilidade. É nesse momento em que a grande maioria desiste de jogar e percebe que não tem coragem de mudar as coisas. Mas eu alerto: aceitar a morte nao é ser suicida... é muito mais que isso. É tanto que eu não sei nem explicar direito. Os que giram a roleta não aceitam olhar a morte nos olhos, mas os que apertam o gatilho são mais fortes que ela porque nao se importam. (Seria esse o Übermensch?) É um passo muito grande se despir da hipocrisia e tornar-se um ser potencialmente livre, desapegado de mais uma das conexões com o mundo. Olhar a morte nos olhos pode ser o maior desafio da vida de um homem – mas não o derradeiro. Olhar a morte nos olhos é difernete de desejar a morte. Eu mesmo olhei a morte nos olhos e passei a amar ainda mais a vida – só que sem o medo de fracassar. Eu eu me encontrei com a mãe dos espelhos e aceitei as conseqüências... a morte é apenas uma delas, dentre outras diversas: cotidiano, eloqüência, desilusão, patê de fígado ou ressuscitar...

E a minha mãe dos espelhos foi um amigo que me mostrou que eu poderia ser a minha própria mãe does espelhos, quando me disse que, na vida a gente tem o poder de ressuscitar aqueles que passam por nós. Que a gente vira mulher e gera quantas vezes for preciso, àqueles que nos amam... com uma frase, um olhar, um sorriso: mãe tem a capacidade de nos gerar a vida toda se elas quiserem...

Um comentário:

Unknown disse...

Você me ressuscita cada vez que você deposita em mim um pouco do seu tempo, ainda que minutos no msn ...

Rodrigo .