19.5.07

Auto-suficiência

Eu estava deitado na cama e de repente percebi que estava em posição fetal. Não sei por quanto tempo eu me mantive nessa posição e nem o que os pensamentos desencadeados a partir de um certo momento têm a ver com ela. Também não sei porque eu me lembrei da minha mãe sussurrando ao meu ouvido um convite para ir ao country club. Eu devia ter uns quatro ou cinco anos, mas eu me lembro de como soava doce a voz da minha mãe, convidando-me para sair e nadar – que eu adorava, na época. A verdade é que de tempos em tempos eu mudo. Na verdade eu ouso pressupor que todos mudam de tempos em tempos, não por vontade própria, mas por necessidade. Acho que nem somos nós que mudamos, mas as circunstâncias: nós apenas nos adaptamos. Hoje em dia, por exemplo, não sei bem se a voz da minha mãe soava realmente doce, ou se o convite que era. Outra coisa da qual me lembrei foi do Luciano em Valadares, na minha casa, sentado no chão, ao lado do fogão, enquanto eu cozinhava. Na época eu ainda não havia descoberto o shoyo, e por isso ele não fazia falta. Mas a partir do momento em que eu o descobrira na sua geladeira, ele se fez elemento indispensável por anos e anos, até eu superar a sua lembrança. Bem, mas eu me lembro de como ele fora duro com a Lu, quando ela repetia, pela terceira vez, a refeição [desmedida é uma das marcas registradas dos Cardosos], e não sabia o porquê do sobrepeso. Meu pai também me visitou em pensamento, quando me lembrei de como ele exagerou exigindo que eu trocasse destemidamente a lâmpada queimada, mesmo sabendo que eu tinha tanto medo de ser exposto a choques elétricos. Eu chorei na época, mas eu não culpo o meu pai, mas o Igor, meu primo e suas superstições fundadas em mitos interioranos: o problema era que, até certa época da minha vida, o Igor era o meu herói, meu objetivo: minha vida somente fazia sentido quando chegavam as férias e eu o visitava, e passava o mês. Mas isso também mudou, e meus heróis foram se revezando com o passar dos meses, depois com o passar das semanas, dos dias, das horas... até que não mais se faziam óbvios. Foi uma pena quando me dei conta de que a excursão psicológica com a qual eu viajava tinha algo a ver com a posição fetal na qual eu me encontrava. Droga! Quebrou o encanto!

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