9.1.08

O Indizível

Tem coisas que são melhores não serem ditas, já dizia a Annie Lenox. E sim, parece que eu censuro até a mim mesmo. Por que eu não quero tocar em alguns assuntos? Medo de que eu tenho? Será medo o sentimento? Acho que eu apenas quero proteger aos meus pais. Parece que, evitando dizer certas coisas, eu os protejo... Mas e o que eu vou proteger depois que meus pais se forem? Sim, estou falando de morte. A morte me ronda aqui, e sei que ela existe para fazer com que se aprecie mais a vida. Mas comigo não funciona porque eu sei que quando choro a morte de alguém, ou evito-a, estou fazendo-o num gesto puramente egoísta – e eu admito isso sim! Quando eu choro a morte de alguém, eu choro por nenhuma outra razão senão a pena que eu tenho de mim mesmo ao me projetar sem a presença daquela pessoa ao meu lado. E se a morte é a ausência, eu não tenho mais medo porque ninguém (família, amigos, colegas, conhecidos) está perto de mim.
E por falar em morte, eu me envergonho de não ter comparecido ao funeral da minha tia Verinha. Se por um lado eu quis manter uma imagem fresca e alegre da minha tia, por outro eu odeio minha negligência para com meu tio e meus primos – que eu amo igualmente. Sonho muito com minha tia. Sonho sempre que eu volto no tempo e que eu tenho algum plano, algum estratagema para livrá-la da morte. Mas ela não me ouve porque eu sou uma criança que ousou dizer o indizível. Não a vi definhar em vida, mas vejo-a sofrendo toda vez em que eu sonho com ela. Quando sonho com minha tia, não é a mesma dor de arrependimento por ter dito ou feito algo do que me arrependo, mas é uma dor infinitamente pior. Minha tia e o Jacko estão sempre juntos, e ao contrário dos outros entes que se foram, parece que eu só percebi a morte dos dois. Parece que funciona assim: já que estou aqui tão longe de todos, engano-me com o suave torpor (ou demência?) de que ainda estão todos vivos, porque, estando tão longe, na faz diferença.

Nenhum comentário: