17.5.07

O Limite da Língua

Já lavei, separei e passei as roupas.

Arrumei o quarto e lavei a louça.

Almocei fora.

Fiz compras: comprei sapato novo, meias, namorei uma camisa linda que, de ultima hora, eu percebi que não queria.

Já fiz um pouco de tudo que costumava me acalmar, mas não deu certo.

Agora eu estou aqui diante do teclado, esperando por uma sentença que vomite esse vazio, essa sensação de impossibilidade Word adentro, e, por conseqüência, o sentimento, para fora.

Por um momento eu pensei que estivesse sorry, mas não, sorry é muito genérico para o que eu sinto. Sim, o Inglês é uma língua muito sintética, mas a falta de palavras para expressar o que eu [não] sinto é um limite natural, que até então era desconhecido de mim. E eu não estou dizendo que estou sem palavras porque fui pego despreparado, mas porque quero milimetricamente definir o que é esse não-sei-o-que que me limita o vocabulário. Ai... se o problema fosse apenas o limite vernacular... ah, como eu estaria tranqüilo. Bastaria comprar um dicionário grande, pesado – sem figura nenhuma e completamente distante, pra eu me sentir bem. Na verdade eu até gosto quando não entendo, mas o problema agora não é o não-entender, porque sim, eu entendo perfeitamente essa coisa que não é angústia, que não é tristeza, e que não é decepção, e que, por conseqüência, não pode ser somente sorry. Ou quem sabe pode sim? Quem sabe eu posso jogar esse não-sei-o-que no meio dos vários motivos pelos quais posso dizer que estou sorry, e varrer a sujeira pra baixo do tapete? É... vou fazer isso. Ao menos eu ganho tempo pra ser o meu eu analítico...

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