21.10.09

Sobre a culpa.

Sobre a culpa. Será que eu ainda sinto culpa ou eu já me acostumei? A lógica me protege. Eu ousaria dizer que a lógica seria a minha religião se eu não soubesse que religião restringe e divide. A grande pena é o fato de o coração não acompanhar a lógica. E sim, eu falava de culpa: É, fui eu! Mas a lógica me dizia que agir naturalmente me descartaria – como descartou. Mas e a culpa? Toda vez que alguém dizia que queria conversar comigo eu pensava: descobriram-me. Toda vez que eu ouvia meu nome eu analisava o tom. Eu sei que o tempo nivela as coisas ou mesmo as apaga. A lógica me salvou outra vez. O grande problema é lembrar-se das próprias mentiras para suportá-las no futuro... Definitivamente não se deve agir por impulso!
Mas o que é impulso? Impulso pode ser um ato negativo? Será assim que agem os.... quem age negativamente? Como generalizar um grupo se o que eu tenho ao meu lado um sentimento. Mas que sentimento seria? Preciso de um rótulo! Urgente, um rótulo, por favor! Seria medo? Seria depressão? Seria o que essa sensação de que eu perdi uma oportunidade? Eu perdi não uma, mas diversas oportunidades de mandar certas pessoas pro inferno! Ele, por exemplo, testou a minha paciência por quatro anos e eu nunca disse não! E não era por medo de ficar sozinho não: era simples medo de ficar no prejuízo. Hoje em dia eu entendo que eu fiquei aos pés dele por quatro anos por dinheiro. Não que ele tivesse qualquer coisa para me oferecer, mas se terminássemos ele me deixaria no prejuízo – como deixou, quando ele me deixou. Uma vez um amigo me perguntou o porquê de eu não exigir tudo o que eu havia lhe dado, de volta. Eu disse que eu não era desse tipo, mas ele perguntou de volta: “Você não é desses ou não tem espaço suficiente na sua casa?” Não era medo de ficar sozinho. Não, não... era medo de ter que ouvir outra vez dos meus pais que eu confio nas pessoas erradas e que no final das contas os meus prejuízos respingavam neles também. Era algo instintivo o que me mantinha preso. Era um pouco de lógica aliada a um instinto sincopado de sobrevivência. E era um pouco de culpa também.
Anorexia tem um quê de culpa. Eu leio o meu desvio de imagem como sendo uma crítica aos meus pais: eu odeio o fato de a minha mãe se sentir mal (ou, curiosamente, inferior) por ser superior. Numa tentativa desesperada de se misturar ao rebanho, ela tem que sofrer e ignorar. Medíocre não é suficiente: a meta é a subsistência! Não... Calma lá! Eu achei que eu estivesse criticando aos meus pais, mas agora eu entendi! Não passa de um processo estático, uma padronização, uma repetição! Eu sou minha mãe, e por isso eu não sei dizer não. A minha lógica me convém... E eu odeio! É como me lembrar de segmentos isolados que me doem ou me elevam. E ultimamente eu tenho pensado em como doeu sair da casa dele. Eu me lembro de perguntar se ele sentiria falta da gente, e ele respondeu: “vocês não foram embora ainda....” Mas ao mesmo tempo eu amo a minha lógica. Ela me permite ser um ateu espiritualizado. No meu paraíso tem meus amores constantemente do meu lado!

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