21.4.07

Urgência e Emergência

Há momentos em que filosofia vem de lugares em que não se espera algo mais profundo que um copo de whisky com energético: tudo faz um sentido esquisito, uma verdade definida – bem ao gosto de quem gosta da sensação de controle na vida. Sim, até os problemas são cíclicos, então, por que não me deixar apenas “ser”, sem muita interferência do self? Sei que estou nesse(a) “mood” quando os sentidos estão à flor da pele e eu tenho essa urgência de sentir e fazer de tudo, antes de morrer. Acho que eu só sinto essa emergência de vida porque eu estou procurando pela morte e lembro que eu não sou uma ilha e que o balanço das coisas é muito mais complexo do que apenas um eu que não tem coragem de pontuar as coisas devidamente – e sim, dói mais ainda porque eu duplamente não gosto dessas realidades (nem quando eu as invento). Queria, do fundo do coração, que as coisas fossem mais fáceis na minha cabeça, e que eu fosse menos acomodado – sim, também sou um paradoxo vivo. E adivinhe: também não gosto disso! Alias, acho que não gosto de nada que saia do mundo das idéias e deixa de ser misteriosamente inalcançável. Eu sei que já disse isso, mas preciso de mistérios pra viver. O que eu digo não faz muito sentido nem pra mim – acho que principalmente pra mim. Não, não faz porque eu me condicionei a esquecer as coisas, e fico, por isso, me repetindo.

De repente fiquei com raiva. Agora não é mais o sentido que ficou esquisito, mas o(a) “mood”. Calma! Odeio estrangeirismos! Odeio quando eu não uso meu vernáculo natural... é a minha maneira de me manter vivo, de saber quem eu sou, no meio de tantos eus. Calma! Não é isso que eu quero – não agora! Não quero sentir pena porque estou em estado de urgência! Preciso de um empurrão que me tire dessa inércia na qual se encontram todos os meus sentidos. (Não sabia que se entorpecia conscientemente também...) Como sempre, preciso de novidades. Desta vez eu estou me rendendo aos extintos mais primitivos que eu tenho (ou acho que tenho) e a fome dessa vez é de comida mesmo. Comida e teto. Acho que o céu não é mais o limite porque durante o caminho eu desisti do castelo e agora preciso da casa. Comida, teto e senso. Sim, minha vida precisa de um senso. Mais ainda do que preciso de um objetivo – o que começo a achar que é algo com o que eu não vou lidar nunca na vida. Começo a achar que minha mãe sempre esteve certa e é hora de baixar a bola. Posso jogá-la, arremessá-la – mas pra onde? Pra quem? ...tem muita gente jogando comigo e que já me jogaram a bola antes e não seria certo, nem moral devolver. Eu poderia jogar a toalha no chão mesmo, mas como eu já falei antes, eu não gosto das realidades nas quais eu sou inserido – nem das minhas e nem das dos outros. Não quero mais grama verde, mas feno. Apenas feno. Eu urgentemente preciso de feno, mas preciso plantar porque, como disse, estou com fome. E por enquanto é isso que sinto (ou ao menos acho que sinto) – já fui muito longe pra desistir.... mesmo porque desistir não é tão fácil quanto parece... ah... eu me odeio!

7.4.07

Dança da Solidão

...e foi quando me deu vontade de chorar. Eu me entreguei, mas o choro não veio. Acho que eu não sou capaz de genuinamente sentir porque eu sou analítico até quando tento ser espontâneo. Eu cantava "We've Just Began", dos Carpenters e eu me lembrei de um número de dança que eu e a Érica Gonçalves estávamos produzindo. Eram meados de 1993 e ela queria fazer algo com "La Isla Bonita", da Madonna... Curioso... Agora eu me peguei tentando compreender como, na minha cabeça, uma série de fatos estava concatenada e só agora eu me dei conta de que as ocorrências não são como eu as imaginava... Pois é, eu pensei que o número tinha sido em parceria com a Jaqueline, mas não. Na verdade eu nem sei com quem eu dancei. Na verdade eu não dancei. Calma! Deixa-me explicar: Bem, como eu disse, a Érica queria usar "La Isla Bonita" e por isso eu emprestei o VHS do "Girlie Show" - de onde saiu grande parte da coreografia. Acontece que eu tenho as idéias e depois eu me dou mal com elas porque eu insisto tanto em fazer as coisas do meu jeito que eu me envolvo de maneira tão intensa que eu não sei mais onde sou eu e onde e o projeto. Pois bem, teve um momento em que eu dei conta de que eu estava ensaiando para dançar diante da Escola toda, numa danceteria que fora alugada só pra esse evento. Claro que não éramos o número principal, mas eu me dei conta de que eu (eu, gente... logo eu!), eu ia dançar. E eu só me dei conta disso uns poucos dias antes da performance, quando, então, eu queria desistir. Não preciso dizer que foi uma comoção por parte das meninas. Eu quis desistir sim, mas eu fiquei com mais medo de provocar uma perda intencional do que um fiasco. Mas calma! Eu não sou tão altruísta não: eu só dancei porque as meninas ameaçaram mudar o numero se eu não estivesse presente (se elas dissessem que não dançariam, eu até aceitava, mas mudar minha coreografia era demais pra mim...) quando elas se apresentassem. Bem... não sei como eu estaria hoje se eu não tivesse dançado, mas esse número ainda é um dos momentos que sempre me vêm à mente quando eu não estou fazendo nada, e rio, sozinho, de vergonha – e volto pro chão! A apresentação não era para ser nada demais (...e não foi mesmo, claro – era muito amadorismo e vontade de chamar atenção). O problema veio foi anos depois quando me disseram que eu dançava mal. Ainda me lembro que eu gostava de dançar, mas alguém me disse, bem naquele auge da Lambada, que eu era completamente sem jeito, e a música fade out e eu me afastei da comemoração. E foi numa das comemorações, Natal, talvez, na casa do meu avo, em Caratinga – e depois disso eu nunca mais quis dançar. Eu me lembro também de uma vez em que a minha mãe não queria que eu dançasse com as meninas, na garagem de casa – ela queria que eu brincasse na rua com os outros meninos – mas o problema é que eu nunca gostei de brutalidades: desde pequeno eu amo a arte, mas do meu jeito de interpretá-la. Sim.. foi isso... Depois desse dia em que eu dancei diante da escola eu nunca mais dancei. Alias, dancei sim, mas pra mim – de olhos fechados e fazendo de conta que eu estou sozinho. Às vezes nem música eu escuto quando danço... na verdade talvez eu dance mal mesmo porque eu quero chamar atenção... na verdade, eu faço de tudo pra chamar atenção: eu erro, principalmente. Então, talvez, dançar mal seja uma maneira de chamar atenção pra mim, no fim das contas. Mas não são erros intencionais, na maioria das vezes. Grande parte dos meus erros é inconsciente mesmo, e eu só dou conta quando me pergunto pelo porque de errar uma coisa tão banal, tão besta, tão maçante. Além de tudo, acho que eu erro também porque eu esqueço... como por exemplo, na Inglaterra, depois de ver que eu não tinha chance de ser contratado com o meu currículo, eu omiti dados (muitos, aliás), prometendo pra mim mesmo que eu esqueceria que tinha feito certas coisas na minha vida – e esqueci mesmo. Por exemplo, quando, numa recente entrevista, a gerente da loja onde trabalho atualmente me perguntou o porque de eu dizer que eu seria uma grande aquisição para a equipe (na verdade eu usei um termo mais como “único”, “inigualável”), e eu me lembrei, por um momento, do meu passado, como num filme diante dos meus olhos. Eu me senti personagem da minha memória – em vez de protagonista. Daí, quando eu lembrei que tinha que esquecer, falei qualquer coisa idiota da qual eu não me lembro mais, e ficou por isso mesmo: eu não respondi.