Eu ainda luto pra não morrer.
Eu luto pra me manter vivo dentro de mim.
Eu luto pra não deixar morrer o que existe de mais primordial em mim, e que me é tão querido – e maldito. Sim, as contradições são meu nêmesis, e meu prazer. Escolha é o meu inferno e paraíso: é o meu depois da morte.
Eu hoje me vejo como meu pai, sempre perguntando da correta maneira de se dizer e de se fazer, e me maravilhando com o quanto se pode aprender num segundo. Por outro lado eu me sinto derrotado por não ser o prodígio e a referência. Eu fui mal-acostumado. Ou talvez apenas rodeado por mediocridade. Ou talvez eu fosse mesmo o dotado, mas o medo de cair foi maior, e eu fugi.
Sim, eu fugi com a intenção de me procurar, e hoje em dia eu luto pra não me perder...
Eu me guio na claridade, procurando pela escuridão – e vice-versa: tudo pra não esquecer de como eu era: alguém de quem eu não sei se sinto, realmente, falta. Alguém que exagera nas vírgulas. Alguém que não consegue decidir por um banho de chuveiro ou de banheira. Alguém que segue o caminho das circunstâncias e se deixa guiar pela maré. Alguém que inventa necessidades pra se prender ao atual porto-seguro. Alguém que inventa um passado e resiste ao futuro. Alguém que escreve sem pensar e vomita palavras,mas depois das limpa do papel – anal que é. Alguém que não sabe exatmaente o que quer – ou não tenha, talvez, noção nenhuma do que quer. Esse alguém sou eu e esse eu ativa e desativa o Caps Lock, e reconhece o som das teclas do computador. Um alguém que quer não querer o sucesso por medo. Ele não sabe que de quê ele tem medo. Alguém que se recusa a usar a nova grafia!
Talvez ele tenha medo de esquecer como se usam as palavras “não” e “talvez”, que lhe soam como “obrigado” e “por favor” – sentenças que um dia alguém disse que o levariam longe. E esse longe, ele sempre pensou, seria um termo metafísico, e não extenção territorial. Um longe que pensava não estar tão intimamente conectado a humildade. Humildade que se confunde com subserviência, e que se mistura com fobia social.
As máscaras ou não servem ou não se fixam, e ele sai correndo da multidão – pelo menos em pensamento, porque coragem pra ser neurótico lhe falta, por medo de ser anti-social.
É por isso todo que ele (ainda) escreve!