22.2.08

minha alma tem o peso da luz



Minha alma tem o peso da luz.
Tem o peso da música.
Tem o peso da palavra nunca dita.
Tem o peso de uma lembrança.
Tem o peso de uma saudade.
Tem o peso de um olhar.
Pesa como pesa uma ausência.
E a lágrima que não se chorou
Tem o imaterial peso de uma
Solidão no meio de outras.


Clarice Lispector

15.2.08

O Processo de Desistência


Ontem foi dia dos namorados aqui na Inglaterra.

Não apenas o dia de ontem ser o dia dos namorados (14/02), mas outras coisas também não acontecem somente aqui na Inglaterra. O exemplo mais drástico e o volante é do lado esquerdo do automóvel: eu achava que fosse implicância Inglesa, mas não, os países de colonização Inglesa, logicamente também os têm, como a Austrália e ĺndia... que coisa!

Mas eu não vim falar de carros ou de mão de direção. Eu vim falar de foco. Ou eu vim falar do processo de desistência? Não sei mais. (o que e tão minha cara... tão óbvio...). Quantas vezes eu já desisti de mim? Hoje eu acordei com essa pergunta. E, rolando na cama, eu levantei de subto e susto, quando percebi que eu não me lembrava que eu sou um advogado. Eu esqueci as minhas origens, por completo. De vez em quando eu tenho que fazer força pra lembrar, por exemplo, que eu tenho uma vida inteira atrás de mim, cheia de conquistas. E o simples fato de eu ter que fazer força pra me lembrar destas coisas me assusta, porque eu não entendo a mim mesmo e como funciona, na minha cabeca, o processo de desistência. O fato é que de algumas dessas coisas eu resolvi desistir – e foi um processo consciente, mas que não funciona porque eu assim o quis. Seria algo como que a lembrança de que eu devo esquecer, me lembra do que me fez querer esquecer - e assim eu me saboto.

Eu desisto de coisas pequenas também. Nem os artigos das revistas que leio, eu leio até o fim. Foi, aliás, lendo uma revista inocente, que eu dei conta de que eu desisto das coisas. Mas não sei ainda se eu dedisto facilmente delas. Eu não sei, sequer, se eu chego a me envolver com as coisas/pessoas quando eu chego ao ponto de desistir. Pensando bem, pode ser até medo: medo, ao mesmo tempo, da finitude e da infinitude das coisas. Eu tenho medo do que acaba e do que pode acabar, e eu tenho medo do que dura e do que pode durar. Eu tenho medo quando eu não tenho controle, mas tambem tenho medo do que eu controlo. Enfim, eu tenho medo de me decepcionar. Talvez não a mim, porque eu me minto e finjo que está tudo bem – e chega a um ponto em que eu acredito. Seria então o medo de decepcionar aos outros? (o que daria no mesmo, porque eu só me decepciono com pessoas que são, de alguma forma, importantes pra mim) Então, decepcionando aos outros, eu me decepciono comigo outra vez, mas num nível amplamente diferenciado. Droga! Eu perdi o foco de novo!

Eu estou fugindo de mim? O que eu quero de mim com esta inconsciente falta de foco? Falta, aliás, seria o termo correto? Creio que não. Pode ser, inclusive, outra racionalização. Putz! A semiótica acabou mesmo com minha vida...

Eu nunca tive a pretensão de resolver a minha vida num texto, mas antes eu fazia de conta. E acreditava.