15.2.10

Desculpa...

Eu escrevo receoso: o inferno, pra mim, é a repetição!

Não sei se me refiro ao tema ou a escrita em si. Fato é que eu não me encontro em estilo – porque falo do obvio e vivo o obvio, mas eu o mascaro (e a minha vida) com a realidade e daí nascem os registros.

Neste sentido os meus traumas são assunto corriqueiro porque quanto mais eu os rumino, mais eu me machuco e me saboto. E como saída – quase que por desespero, eu odeio os outros porque, por mais próximos que eles sejam, ou mais próximos que eles estejam, eles não são eu.

Talvez por isso a saída mais comum do inferno é deixar outro no seu lugar – mesmo sem saber.

5.2.10

Uma Jornada Particular

Por uma vez nesse Blogger vou ser direto e sincero!

Pra quem não percebeu ainda, eu gosto de ler. Leio de tudo e tudo interessa: . Leio bula de remédio e rotulo de xampu! Leio do tema do dia na Wikipedia à pagina inicial da UOL, passando por jornais, revistas, bloggers e outros sites E como todo internauta sabe, quando você se envolve com um assunto, link depois de link você se pergunta: como é que eu fui parar aqui? E isso aconteceu comigo uns dias atrás, quando entre A Divina Comédia e Fissuras Anais, eu me deparei com o seguinte parágrafo (a tradução livre é minha):

Tudo começa com ateísmo. Um belo dia você olha para o universo e diz, “Não existe Deus, não existe o Diabo.” Então você decide que você é o centro do seu próprio universo subjetivo, porque, obviamente não se pode ter contato objetivo com tudo o que existe. Portanto, ao decidir que você é o Ser mais importante na sua vida, você se torna o seu próprio Deus. E sendo o seu próprio Deus, você se sente confortável tomando suas próprias decisões sobre o que priorizar. O que é positivo para você, é automaticamente bom. O que te prejudica é mau. E você estende tal premissa para as coisas que você aprecia e para as pessoas que você aprecia. Trata-se de uma filosofia autocentrada.

Mas ser seu próprio Deus também requer responsabilidades, já que você está atraindo pra você o completo ônus pelos seus sucesso e perda pessoais. Você não reza pra Deus culpando o Diabo, ou qualquer outro, por aquela situação que lhe sucedeu. Está tudo na sua mente.

Isto é um desafio para a maioria das pessoas. A maioria delas tende a pensar que elas precisam de algum tipo de apoio externo, algo com quem elas possam se identificar, algum tipo de filiação sobrenatural ou mesmo até algum tipo de autoridade governamental que lhes digam o que fazer da vida.

Aquele parágrafo resumia e representava talvez tudo o que eu pensava sobre religião ou teologia. Em poucas ocasiões eu me sinto totalmente traduzido em palavras com relação a um sentimento, e esse parágrafo foi um deles: identificação absoluta! Ou quase... não fosse pelo fato de que o trecho fora extraído de uma entrevista com o dirigente da Igreja de Satanás!

Eu experimentei um misto de reações e algo me incomodava. Voltei a pensar em rótulos, e me perguntei: o fato de que você se encaixa em um rotulo faz de você parte daquele universo? E claro, a resposta era: depende. Sim, depende do que se diz respeito. Por exemplo, vamos pensar em rótulos simples: homem, caucasiano, 30 anos – todos rótulos que me compreendem e não exigem muito de mim para que eu me enquadre. Daí fui para outros rótulos mais complexos: graduado, poliglota, escritor – eu também pertenço a estes grupos. Mas certos rótulos dependem de algo mais, sejam outras pessoas ou aceitação pessoal. Apesar de que alguns rótulos não exatamente dependam de aceitação pessoal, como por exemplo, homossexual... ou dependem? O problema é o medo do rótulo? É medo da reação da sociedade sobre o rotulo? Ou o problema, depois de tanto tempo e de tantas lutas, é ainda mais complexo?

Eu aprendi que os rótulos trazem desafios e que as bandeiras que levantamentos não precisam ser colocadas em mastros e marchadas em procissão. Rótulos também são pessoais... A minha bandeira pode ser um simples post-it dobrado no meu bolso ou uma ideologia que eu não preciso dividir com ninguém, porque quando se “levanta” uma bandeira, você se aceita mais um pouco. Preconceito é uma barreira pessoal e está nas nossas mentes.

Por momentos eu pensei que eu me incomodava pelo fato de ter me descoberto Satanista... Então, eu me pus a pensar no que me fez pensar que eu fosse Satanista? Nada... Absolutamente nada. Minha visão religiosa continua intacta e pelo fato de que ela fora descoberta e adaptada e emendada com o decorrer dos anos ainda me dá o direito de me referir o meu credo como “Leleuismo”. Nao, eu nao sou Satanista! Qual o problema, afinal de contas?

Eu entendi que o meu terror não foi por ter encontrado um preconceito em mim: eu sei que tenho vários! O meu terror foi perceber que eu aceito o preconceito nos outros, mas não em mim. E eu sei que preconceito pessoal é um sintoma de não se conhecer...

450 palavras

Ontem eu voltei de Londres onde passei dois dias deliciosos com a Lu, na casa dela. Vê-la é sempre um misto de emoções e eu geralmente exausto e preciso de um escape. Não que qualquer coisa nela me canse ou aborreça, mas, entre outras coisas, a separação é sempre dolorosa. E como ia dizendo, eu me jogo em tergiversações e experimentações que me ocupam o tempo e me trazem de volta para a realidade. Acontece que a realidade também me faz chorar, e eu não sei como mostrar meus sentimentos: do lado dela eu sentia uma onda de amor e queria abraçá-la, mas eu não abracei porque eu teria que explicar o abraço. Outras vezes eu sinto a mesma onda de amor pelos meus pais ou pelo Richard, mas eu não exponho porque em mostrando afeto, eu me enfraqueço e me torno vulnerável à nostalgia – ou a não sei o quê.

A vida é mais fácil se você é nono facetado... quanto menos você mostra, menos se sabe sobre você, e quanto menos se sabe sobre você, mais simples é o seu relacionamento com os outros. Estaria eu fazendo distinção entre qualidade e quantidade, neste momento?

Não! Ainda não é hora de parar. Tem mais pra se dizer sobre isso, mas eu estou me defendendo no meu próprio post! Certo, eu me escondo porque não quero que me vejam – ah, que surpresa! Eu não quero que me vejam vulnerável porque eu não acredito em fraqueza corporativa. E sim, eu vejo a mim como uma empresa, um ser dentro de outro ser que se adapta e se comporta como eu quero que os outros me vejam – sim, da mesma forma como eu criei a minha própria assinatura.

Acontece que eu estou perdido... eu não sei mais quem eu sou, e não quero pedir ajuda porque eu não sei o que está errado – ou o que esteja correto. Talvez seja por isso que eu não chore! Chora-se, entre outros motivos, por tristeza, mas não por confusão. Ou isto é parte do meu personagem que se instalou tão fixa e profundamente na minha alma que eu desaprendi? Hoje em dia eu choro com a tristeza alheia e vendo filmes que e lembrem o que eu fui, ou do que me toca. E o que ultrapassa a minha carapaça não são dramas com apelo mundial ou épicas histórias de amor. Não, eu também não acredito no amor... o que me tocam são as coisas pequenas: é a planta seca ninada pela brisa compadecida, é a busca cega da estalactite, é acordar cedo e saber exatamente como cada segundo do seu dia vai se desdobrar, é sentir saudade de um futuro incerto e provavelmente impossível...