15.9.09

O Apicultor e a Abelha-Rainha

Dias atrás – não sei por qual motivo, eu pensava em colméias. De uma forma estranha eu entendi que o apicultor usa as mãos não só para cuidar da colméia, mas também para tratar de todo o jardim em volta dela. Somente então a abelha-rainha da à vida à colméia. Não sei bem como explicar o que eu sinto agora, mas a epifania me fez ao mesmo tempo entender que somente a coragem lúcida pode trazer o novo, e que dar a mão a alguém era o que sempre se esperou da alegria. O jardim sobrevive às estações, mas não a abelha-rainha que, antes da morte da colméia, é resgatada pelo apicultor: ela é retirada da colméia e carregada nas mãos. Sim, a abelha-rainha também morre – e não apenas o zangão...

Há momentos em que o apicultor passa muito perto de nós e nos confunde com a sua fumaça inebriante, e nessas horas ele nos lembra que não foi agora que ele nos cutucou o ombro, mas que um dia ele virá nos resgatar da colméia também. Talvez ele nos ensinará que antes de morrer, se vive; ou talvez que a morte não existe porque, na verdade, já estamos todos na eternidade... Eu, no entanto, gosto de pensar que, depois de morrer não se vai ao paraíso... simplesmente porque morrer é o paraíso, principalmente, quando se tem uma mensagem a passar para o José.

Mas o apicultor nos carrega nas mãos! Então eu não sei...

Adeus, Vó Tatá.
Fica em paz....

Deus, faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora da minha morte haja uma mão humana amada para apertar a minha...” [Clarice Lispetor]