28.1.09

Vampiro

Finalmente sou um vampiro. Um toreador, para ser mais especifico.
Agora a escolha de me expor ao sol depende somente de mim!

24.1.09

Envelhecer


De vez em quando sou apresentado a pessoas que me fazem ter medo de envelhecer. Umas são secas, outras desiludidas, outras estáticas, mas o que todas têm em comum o fato de que elas têm certeza!
Clarice dizia que todo Ser Humano é triste e solitário. Sim, eu concordo com ela porque nós realmente o somos: sempre se relaciona os diversos desencontros sociais aos problemas do mundo. Quer prova mais absoluta que o fato de que ninguém quer viver sozinho?
E a convicção dos velhos é como o corpo dos jovens: rígido.

Plural Vs. Singular



Uma vez me disseram que todo casal resolve suas diferenças na cama. Por um momento pensei na conotação sexual, mas antes que eu indagasse, completaram dizendo que a cama é o local aonde o casal se despe não apenas das roupas, mas das obrigações e dos temperamentos também. A cama é o local aonde o casal se abre para diálogos impossíveis à mesa do restaurante ou na sala de reuniões. Eu nunca entendi se tal exclamação era um desabafo, se era um grito de alerta, ou mesmo um pedido de socorro do meu, então, parceiro. O que quer que tenha sido, fora dito uma semana depois de deixarmos o nosso apartamento e limitarmos o nosso relacionamento aos encontros religiosamente diários, quando eu o buscava no trabalho, ou quando – ocasionalmente, nos organizávamos socialmente para algo barato.

Eu não queria aceitar o fim, e por diversas vezes eu tive a chance de me libertar, porque ou eu amava a pessoa que eu era ao lado dele, ou eu simplesmente me tornei obcecado pela realização da fantasia perfeita... ou simplesmente eu não queria aceitar que teria de encarar todos os prejuízos de um negócio extremamente mal-sucedido.

Ele também me culpou por levá-lo a lugares ermos ou inusitados – eu sempre gostei de aventuras, mas não percebi que o meu fetiche tinha se tornado uma obsessão ... eu também não tive estômago para ver, pela segunda vez, “A Paixão de Cristo”, do Mel Gibson – ele vira o filme por diversas vezes – ele se aprazia sofrendo diante das historias alheias. Talvez fosse uma forma mais intensa ou singular do meu próprio mecanismo de racionalização : eu, mesmo que momentaneamente, esqueço dos meus problemas mergulhando nos dos outros... E me disseram que numa das vezes em que ele fora ver o Cristo, ele fora acompanhado de outro. Não que “outros” fossem um problema – eu sempre optei por relacionamentos abertos porque eu sou aventureiro e também porque eu acredito que o que é meu não precisa estar preso para ficar comigo. Havia os que diziam que eu não tinha auto-estima, e mesmo os que me viam como o coitado acompanhado do oportunista. Eu preferia ler que eu era o Ser que exercitava o exercício da perda, para que me acostumasse a ela quando o fim chegasse – ou seja, o plural não era ruim, o problema era exatamente “outro” (sim, no singular).

Eu sei que tudo é eterno enquanto dura, e a minha eternidade durou até a noite em que, saindo do cinema, ele me disse que tinha conhecido outra pessoa, e eu o confrontei dizendo que sabia quem era e que há semanas – ou meses, atrás, ele já não era novidade. Deixamos o nosso apartamento por precaução: na medida em que o nosso relacionamento morria, gastávamos mais tempo e dinheiro em coisas e situações que nos despistavam de nós mesmos: eu pensava em como realizaria a próxima fantasia, e ele conhecia o seu futuro companheiro.

10.1.09

Completamente perdido



Desapego. O que significa o desapego das coisas materiais? Hoje em dia eu não estou mais preocupado com o próximo DVD ou com o próximo CD. Ou com o próximo... Estou mais focado na experiência sensorial. E quando eu vejo as pessoas, penso em como perguntar sobre como elas evoluíram desde quando nos vimos da ultima vez... e quais quesitos eu uso pra considerar “criveis” as respostas que os outros me dão? De vez em quando eu acredito, e outras eu finjo que acredito – depende de como eu quero me envolver...

1.1.09

Vestindo burca em Londres



Dirigindo de volta pra casa vi uma mulher no banco de trás de um carro, vestindo uma burca. Eram duas horas da madrugada e ela também fora pega pelo tráfego, e como todos – exceto pelos pedestres que pareciam brincar com a nossa desgraça, estava com uma feição que misturava cara de poucos amigos com sono atrasado. Houve um momento em que os nossos olhos se cruzaram e foi então que eu percebi que celebrar a virada do ano é exatamente como vestir uma burca em Londres!
A burca daquela mulher não é nada diferente da bíblia que a protestante carrega debaixo do braço, da culpa que o cristão traz dentro de si ou daquele satanista que é ateu (graças a Deus): a religião está em todo lugar e cerca as pessoas mesmo que subliminarmente. Alguns se libertam, outros precisam expiar o mau-caratismo que eles sabem que têm, mas atribuem ao Deus – que os fez assim e que os testa 24 horas por dia; outros precisam acreditar em algo que seria, antes de tudo, uma anti-afirmação (não confunda com negação). Mas o que conecta todos nós é o fato de que nenhum foi capaz de se libertar completamente: todos mantém um ou outro ritual. Por exemplo, a bendita da mulher veio da puta-que-a-pariu e está em Londres vestindo uma burca. Eu comemorei a virada do ano...
Desde quando o tempo (se é que isso existe) “reseta” à meia-noite do dia 31 de dezembro? Gregório devia ser um clássico anal pra criar o conceito de que tudo poderia ser recomeçado do zero depois de 12 meses – como numa faxina gigantesca onde, além de se jogar fora o que não interessa, pode re-mobiliar a casa com produtos novinhos: as resoluções! Ah, as resoluções de ano novo... Dieta, trabalho novo, metas novas, vida nova, enfim. Mas o problema é o fato de que se sabe que no “ano que vem” tem mais, e nenhuma delas – as resoluções, vai adiante.
Eu vejo a celebração do ano novo como uma abstração do rebanho, que mais uma vez não sabe o que está acontecendo, mas segue o fluxo. “Mas é um motivo pra as pessoas se divertirem” – disse o Richard. E eu respondi: “e por um acaso as pessoas não podem se divertir todos os outros dias? Ou elas precisam de um motivo?” Natal, aniversário, dia dos pais, férias, dia do pagamento ou o ano-novo: tentativa de tornar a felicidade um ato esporádico – ou mesmo inalcançável. É, mais uma vez, o ser humano tentando esquecer-se da morte, dividindo o tempo em fatias digeríveis, por simples e puro medo de viver.