21.4.08

Eu não sou underground não!

Quando eu falo que amo o som da Björk e do Portishead, tem gente que me pergunta se são coisas de comer ou de passar no cabelo... eu mesmo pensava que fosse underground até os dias em que fui comprar ingresso pros shows.

Primeiro foi com a Björk, em novembro do ano passado (o show aconteceu ontem – 20 de abril) e mesmo comprando os ingressos no dia do anuncio das vendas, os bons lugares já tinham sido todos comprados – pras três datas! Pior foi com o Portishead, cujas vendas começavam no dia 22 de janeiro desse ano às 9h00 da manhã. Acordei naquele dia uma meia hora antes e praticamente fiquei com o dedo em cima da tecla enter, esperando pela hora de pressioná-la. A parte trágica acontece quando às 9h00 da manhã o site já estava congestionado e eu somente consegui algum contato pelas 9h30, quando consegui uma linha vaga e um atendente me diz que os ingressos estavam esgotados e que a venue mais próxima ficava em Wolverhampton... (eu fiz a mesma cara de “como assim?” quando ele me disse o nome) mas comprei os ingressos! E foi neste dia que eu tive certeza de que eu não era nem um pouco underground, e que tudo não se resumia a pop...

Dias se passaram, meses se passaram e finalmente chegamos ao dia de ver o Portishead. Muita pesquisa na Net, muitos mapas impressos, tempo cronometrado e muita ansiosidade – afinal, fazia dez anos que eles não gravavam nada. Mas em se tratando de Leonardo viajando, tudo pode acontecer...

Mas antes de contar a historia em si, vamos falar um pouco de geografia: observando ao mapa abaixo, você vê três setas – a central mostrando a cidade aonde eu moro (Reading), a mais a esquerda mostrando Londres e a mais acima, Wolverhampton. Londres fica cerca de 15 minutos de onde eu moro, e o acesso é muito facilitado por trens que fazem o trajeto saindo de 15 em 15 minutos (nos dias de semana) e de hora em hora, aos domingos. Wolverhampton, segundo os cálculos, ficaria mais ou menos cerca de 2h30 de distância, e três trocas de trem programadas. Agora vamos à história: tudo começou quando eu e o Izalty chegamos à estação um minuto atrasados pro trem... e na esperança de chegarmos a tempo na plataforma seguinte pra pegar o trem que sairia no minuto seguinte, o perdemos também. A saída era ou esperar por um tempo ou tentar fazer o trajeto passando pelas cidade aonde o trem deveria seguir – a idéia era alcançar o trem em dado momento. Funcionou? Ah, que isso? Depois de 5 trocas de trem e quase 4 horas viajando, chegamos a Wolverhampton e ao Civic Hall.

O show foi absurdamente perfeito, a Betty é tão simpática que parece um bicho do mato, e ao fim do show ela saiu pegando na mãos dos que estavam ais a frente (claro que ela pegou a minha) e ao jogarem os set list pra platéia, adivinha quem pegou?

Izalty e eu antes do show.

Beth cantando nem sei mais o que, mas tava cantando sim!


Eu com o set list do show, jogado pelo guitarrista!



Video de SILENCE, na abertura do show.




Video de ROADS, no finalzinho.

Segue o set list:

1 – Wicca
2 – Hunter
3 – Mysterons
4 – Mystic
5 – Glory Box
6 – Numb
7 – Magic Doors
8 – Wandering Star
9 – Machine Gun
10 – Over
11 – Sour Times
12 – Nylon Smile
13 – Cowboys

BIS:

14 – Threads
15 – Roads
16 - Peaches

Okay, terminado o show era hora de ir pra casa, certo? Errado! Com Leo e Izalty o negócio não funciona assim: o próximo trem que deixaria Wolverhampton sairia às 6h00 da manhã – ah, eram 11h30 da noite! Passamos a noite na estação sim, mas depois de perambular pela cidade e chegar a Reading às 8h15 da manhã, pra trabalhar 8h30.... foi um dia pesado, mas valeu a pena.



Destruídos madrugada afora na estação....


Final de semana seguinte, eu, Izalty e João fomos ver a Björk no mesmo teatro em que a Tori tocou, meses atrás. (lugar abençoado!) Dessa vez não dava pra fazer fotos porque estavam gravando um DVD (não dela, mas de um dos convidados especiais) e não tem muito registro visual, a não ser pelos vídeos que o João fez e que ficaram perfeitos.
Estávamos bem longe dessa vez, mas a diversão estava garantida!
Ela....
Seguem o set list e um videozinho.


01. Intro - Brennið Þið Vitar
02. Earth Intruders
03. Hunter
04. Unison
05. All Is Full Of Love
06. Hope
07. The Pleasure Is All Mine
08. Dull Flame Of Desire
09. Vertebrae By Vertebrae
10. Where Is The Line
11. Desired Constellation
12. Army Of Me
13. I Miss You
14. Triumph Of A Heart
15. Vökuró
16. Wanderlust
17. Hyperballad
18. Pluto

BIS:


19. Anchor Song
20. Declare Independence


Desta vez fomos direto pra casa e consguimos pegar o trem certo.


E como diria a Madonna: “Just one of those days, when everything is incredible!”

Aquecimento Global




(Escrito em 07/04/2008)




Primavera na Inglaterra!
Minha rotina matinal é certa: desperto com o celular às 7h30 da manhã sob a bênção de dois blackouts que me deixam com a impressão de que sou cego, passo pela cozinha – que geralmente está com a persiana fechada, e cambaleio até o banheiro pra escovar os dentes . Apenas lá dentro eu abro uma janelinha que dá para os fundos da casa pra ver como está o dia lá fora e decidir o que fazer da minha vida (em outras palavras, qual a grossura do casaco que eu vou vestir). Tamanha a minha surpresa quando abro a janelinha numa manhã de primavera quando me deparo com um palmo de gelo cobrindo o chão!



- Calma lá! É primavera, isso não vale! – eu pensei. Mas em seguida eu me lembrei de que não tinha nevado ainda desde que eu pisara na Inglaterra e eu fui correndo ressuscitar o João. Cheguei no quarto dele abrindo os blackouts e dizendo que estava nevando. O homem deu um pulo da cama e levou o celular pra fora pra fazer uns filmezinhos e fotos. Eu fui me arrumar pro trabalho...
Quando deixei o banheiro eis que o João já tinha terminado o boneco de neve e ambos posamos pra as fotos do nosso primeiro boneco de neve!


A neve não durou muito tempo, e pelas 11 da manhã já não tinha nada e um sol mentiroso brilhava do lado de fora e eu dentro da loja com 3 camadas de roupa no tronco e duas nas pernas, mas sofrendo frio! Fui pra casa naquele domingo com floquinhos caindo sobre o meu sobretudo.
Meia noite e tanto nevou outra vez – e nevou grosso! Pena que não o suficiente pra fazer outro tapete branco na manhã de hoje.
E viva o aquecimento global!


3.4.08

Os Mortos-Vivos

Fazia anos que eu não ouvia falar do Leozinho da Dona Custódia... Até hoje de tarde eu caracterizava o tal Leozinho como um personagem secundário da minha infância em Caratinga, quando eu passava as férias de julho na casa da minha avó – mas que hoje em dia eu vejo que não estava tão em segundo plano assim, e que brincava comigo junto das meninas da Maria “Continoua”, e, claro, meus primos.
Foi com essas pessoas que eu fui criança e brinquei de birosca, de corda, de pula-elástico e a conhecer/temer lendas urbanas como a mulher de algodão, a mão preta, a loura do banheiro e outras besteiras que me tiravam o sono. Um tempo atrás não sei quem me deu notícia delas, contando que uma-a-uma casou-se, a não ser pela mais velha, a Selminha, que ficou em casa pra cuidar dos pais. Mas de tão secundário que era, ninguém sabia dar notícias do Leozinho – o que me fez imaginar que ele era personagem secundário não apenas pra mim. Ele podia ser secundário sim, mas em certos aspectos ele quase que uma entidade. Por exemplo, era a cara da pobreza pra mim, naquela época, e até hoje eu guardo a sua imagem como a que ele exibia quando criança: magrelo – daqueles que têm as costelas à mostra, mal-vestido e com o nariz constantemente escorrendo, mas feliz, feliz, feliz. Brincalhão como ele só, sempre disponível e presente – mas, mesmo assim, personagem secundário.
Eu sempre tive essa fantasia de querer ver a casa da minha tia Verinha sem que eu estivesse por perto a modificar a rotina da casa e saber como era a vida dos meus primos. E o Leozinho fazia parte dessa fantasia, quando eu imaginava como ele contava as nossas travessuras pra os colegas de sala, referindo-se ao primo do vizinho que vinha passar as férias de julho com eles e se a vida era tão divertida com eles, mesmo eu não estando por perto. Claro que esse sentimento era uma forma pré-adolescente de egoísmo – ou de imaturidade, ao pensar que eu era o centro daquilo tudo. Não o centro, talvez, mas um carnegão na rotina deles todos que não podia ficar imune a um elemento extra inserido no dia-a-dia daquelas pessoas.
E ontem eu tive uma surpresa indescritível: o Leozinho me enviara uma mensagem pelo Orkut! E de repente ele estava casado, tinha uma filhinha linda e uma vida. Ele não era mais prisioneiro da minha memória. Aliás, ele nunca fora prisioneiro meu, mas eu o tinha como estereotipo de alguma coisa que ia e vinha ocasionalmente, mas que se libertou ontem quando vi que em vez da imagem que eu tinha antes, agora o Leozinho era outra pessoa diferente da cristalização que eu fantasiei. Mas a libertação dessa entidade me fez pensar em como, só porque eu não tinha notícias dele, eu o sentia morto. Não que eu pensasse que ele estivesse, mas uma forma inconsciente de morte, como quando uma pessoa não te incomoda e nem te excita: parece que ela não existe.
E num passe de mágica eu parei pra pensar em quantos “eus” devem estar cristalizados no inconsciente alheio, e que da mesma forma, outras pessoas me sintam morto também, numa linha de pensamento parecida com a que eu acabei de explicar. Os sentidos nos pregam peças, como eu disse agora a pouco, e da mesma forma como alguns morrem, outros permanecem vivos. Sim, exatamente pelo motivo oposto, outras pessoas são tão vivas na minha memória que eu não consigo assimilar o fato de que elas não mais respirem – como a própria tia Verinha, ou o Vô Cardoso.
Numa outra fantasia eu imaginava como as pessoas reagiriam à notícia da minha morte e como a vida continuaria logo em seguida – ou, de vez em quando, eu imaginava como outras nem reagiriam porque eu seria um personagem secundário na vida delas, e que por isso mesmo, não faria diferença porque, de certa forma, eu já estaria morto. Aliás, agora mesmo eu entendo que quando eu não estava na casa da minha tia, eu, de outra forma, estava morto também. E agora mesmo eu estou morto porque eu não estou presente aonde eu poderia ser plano. Bem, eu estou presente agora na minha cama, na Inglaterra, mas e pra aqueles em que, no Brasil mesmo, eu era secundário? Será que eu já morri e não sei?