26.3.08

Cadê ela?



A casa parece intacta. Não fosse o fato de agora mesmo, minutos atrás, eu não a tivesse abraçado e dito: boa sorte, não se diria que ela não está mais aqui. Como sempre eu temo as palavras. E mais que as palavras eu temo o significado delas, e especialmente o fato de eu ter que encarar ela simplesmente se... foi. (Nota: eu temo o verbo “ir” e todas as suas possíveis conjugações.)
A toalha cor-de-rosa, a bolsa cor-de-rosa, o boá cor-de-rosa, o roupão cor-de-rosa. Os bichinhos de pelúcia sobre a cama, a balança no chão, o violão no canto. Tudo faz pensar que ela só foi passar a noite fora, e que amanhã mesmo ela volta. Por quanto tempo ainda vai ter o cheirinho dela no travesseiro?
Eu nem acho triste o fato de que mesmo chorando, eu não tenha ninguém pra quem eu poderia ligar e chorar a falta que ela já está fazendo – absolutamente ninguém; triste mesmo é o fato de que ela não está na caminha ao lado – mesmo que caladinha mexendo no lap top ou deitadinha abraçada ao Bau, mas presente, enfim.
Não é porque somos irmãos, mas porque somos amigos. Ela sempre me disse pra ter orgulho do que e de quem eu sou – ela é o verdadeiro irmão mais velho nessa família. Não existe pessoas nesse mundo que eu ame mais do que eu ame a minha irmã.
Preciso terminar esse texto antes que ele fique por demais açucarado. Não faz meu estilo exaltar demais alguém – mesmo que esse alguém seja a Lu. E a verdade é que eu não sei como terminar esse texto porque eu não quero que termine: eu quero que a presença dela seja eterna – mesmo que dolorida.

23.3.08

O som do silêncio

E estava tudo silencioso.
Não era exatamente o nada que se ouvia ao redor, mas um vazio... ouvia-se o som do silêncio. Voltamos pra casa sem pronunciar uma palavra. De vez em quando ela puxava conversa dizendo que estava com medo, e eu não dizia nada – não me dignava sequer a mudar de assunto. Ela, por vezes, falava do clima, mas eu respondia secamente com um “sim”, mas quando convinha – um não abriria espaço pra um diálogo.
Às vezes alguém ligava pra ela: já eram os amigos antecipando a falta que ela vai fazer. E eu calado. Só ouviam-se as teclas – especialmente o “backspace”. O cuidado é quadru... não: é decuplicado em momentos em que se expõe demais. É preciso cuidado pra não... me machucar? Mas eu já estou ferido... e dói.
Eu já fiz isso antes. Dói sim, eu admito. Mas dói menos quando eu me defendo: e eu me defendo excluindo a pessoa de perto de mim. Soa cruel, eu sei – mas eu prefiro assim. É só mais uma camada pra a minha já tão espessa carapaça.

2.3.08

Um balanço da minha vida aos 30 anos


Eu não acredito no amor, eu não acredito na fé, eu não acredito nas pessoas, eu não acredito em deus, e nem sequer em mim mesmo. Eu não acredito na morte, eu não acredito na realidade, eu não acredito nos sentidos. Houve uma época em que eu acreditava... hoje eu não acredito, e não tem diferença nenhuma. Eu é que não vou viver esperando por nada.
Se existe reencarnação, somos condenados a viver indefinidamente esse pesadelo; se não tem nada depois disso, eu serei um eterno fracassado. Qual a diferença, então?