25.5.07

Digital Ghost

Decidi que hoje vou escrever como quem escreve um diário. E por isso eu vou! Ou não... Até eu tenho os meus dias de Gabriela. Mas, enfim, ao menos os adornos românticos eu acrescento, só pra fazer de conta que eu tentei. E assim eu finjo que consigo fazer o que eu aconselho!

Amem!

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Reading, 25 de maio de 2007 – sexta-feira.

Hoje eu acordei irritantemente feliz: saltei da cama as nove da manha com o ânimo dos vencedores. Parecia que eu reencarnara depois de dois dias sofrendo com o estômago querendo aparecer mais que o resto dos órgãos, mas a fome ainda não voltou – o que acho delicioso [com o perdão do trocadilho]. Como sempre, eu finjo esquecer que eu tenho uma vida a viver, e faço de conta que eu sou o centro do universo. De vez em quando funciona, como hoje. Éramos apenas, meu espírito e os milhares de encostos que me povoam. Agora estou eu aqui esgotado e entediado porque tinha algo brilhante em mente para escrever, mas sumiu tudo. Era algo que tinha algo a ver com o planejamento da minha morte. Sim! Era algo como eu entendendo que eu luto desesperadamente dentro de mim, pedindo ajuda para continuar vivendo, mas sabendo que se eu pedir ajuda, é porque eu quero mesmo é viver – então não peço. Mas daí eu me saboto escrevendo e então eu me entrego e entendo que, apesar do glamour da morte, o que eu quero mesmo é viver – seja lá o que signifique essa vontade.

Não sei se esse Blog faz bem ou se faz mal pra mim: ele me parece mais um fantasma digital que cria vida a partir das minhas palavras, e volta de vez em quando para se alimentar da fonte. Sim, porque quando eu penso que me esqueço das coisas, elas reaparecem para me relembrar que algo não está certo, e que algo tem que ser mudado. Todos querem mudar, de vez em quando. Uns cortam cabelo, outros compram uma roupa, e outros saem do país – o que une todas essas pessoas e o ledo engano na definição de “mudança” [não é sempre que as palavras são precisas], mas recorrer ao dicionário também não adianta. A partir daí erra-se, erra-se e erra-se. Algumas vezes porque não se quer acertar, mas algumas – poucas das vezes, na verdade, porque não se sabe exatamente o que se quer mudar.

Freqüentemente eu me canso, mas não tenho coragem de morrer. Creio que se eu estivesse ligado a uma tomada eu não teria coragem de me desligar, apesar de eu temer a mim mesmo outras vezes, e este desconhecimento de mim, que culmina com a possibilidade de eu querer o meu próprio mal me assusta, porque, apesar de odiar a realidade, não sei se a morte vai ser apenas uma continuação desta deplorável [não quero repetir a palavra “realidade” ou usar a palavra “vida”, por motivos óbvios e/ou pessoais], continuação desta deplorável existência. [okay, não foi uma boa palavra também, mas encaixa-se melhor e compreende-se bem o sentido] Eu me assusto com essa possibilidade! Portanto, eu me pergunto, enfim: Qual a vantagem de morrer e descobrir que se continua, substancialmente, a mesma coisa? Acho que não tenho coragem de morrer porque a confiança no fim me tranqüiliza, e não quero correr o risco de até isso eu perder e me decepcionar, inclusive, com a morte... Então eu me mato aqui no meu Blog, enquanto espero pelo fim dos ensaios. E ah, com a vantagem de que ao menos aqui eu posso ser o meu próprio fantasma digital.

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20.5.07

Sentado com os Caramujos

Cheguei em casa e a Lu não estava, o Izalty não estava e o Guto também não estava: ficamos eu e os caramujos na porta de casa comendo Pringles, tomando coca-cola e relembrando. É... parece que eu sou bom nisso porque a minha vida é um flash-back de um flash-back (ou se preferirem, um déjà vu de um déjà vu) - é cíclico do mesmo jeito!

Não faço mais nem idéia do que eu pensava, sentado com os caramujos, mas me lembro de estar em paz. Eu me senti realizado pelo simples ato de ver as luzes apagadas e ligar para cada um dos meus amigos e realizar que eu ficaria do lado de fora por um tempo. Sentia que não havia pelo que lutar, e por isso eu me resignei. Fui ao posto, comprei o Pringles e a coca-cola e vim tomando-a rua afora, até sentar diante dos caramujos. Eu me senti forte e poderoso tomando a coca-cola pela borda mesmo, desafiando os transeuntes. Eu estava feliz. Acho que ainda estou feliz... não sei direito. Tenho que degustar esse momento – não é comum não! Devem ser os caramujos...

19.5.07

Auto-suficiência

Eu estava deitado na cama e de repente percebi que estava em posição fetal. Não sei por quanto tempo eu me mantive nessa posição e nem o que os pensamentos desencadeados a partir de um certo momento têm a ver com ela. Também não sei porque eu me lembrei da minha mãe sussurrando ao meu ouvido um convite para ir ao country club. Eu devia ter uns quatro ou cinco anos, mas eu me lembro de como soava doce a voz da minha mãe, convidando-me para sair e nadar – que eu adorava, na época. A verdade é que de tempos em tempos eu mudo. Na verdade eu ouso pressupor que todos mudam de tempos em tempos, não por vontade própria, mas por necessidade. Acho que nem somos nós que mudamos, mas as circunstâncias: nós apenas nos adaptamos. Hoje em dia, por exemplo, não sei bem se a voz da minha mãe soava realmente doce, ou se o convite que era. Outra coisa da qual me lembrei foi do Luciano em Valadares, na minha casa, sentado no chão, ao lado do fogão, enquanto eu cozinhava. Na época eu ainda não havia descoberto o shoyo, e por isso ele não fazia falta. Mas a partir do momento em que eu o descobrira na sua geladeira, ele se fez elemento indispensável por anos e anos, até eu superar a sua lembrança. Bem, mas eu me lembro de como ele fora duro com a Lu, quando ela repetia, pela terceira vez, a refeição [desmedida é uma das marcas registradas dos Cardosos], e não sabia o porquê do sobrepeso. Meu pai também me visitou em pensamento, quando me lembrei de como ele exagerou exigindo que eu trocasse destemidamente a lâmpada queimada, mesmo sabendo que eu tinha tanto medo de ser exposto a choques elétricos. Eu chorei na época, mas eu não culpo o meu pai, mas o Igor, meu primo e suas superstições fundadas em mitos interioranos: o problema era que, até certa época da minha vida, o Igor era o meu herói, meu objetivo: minha vida somente fazia sentido quando chegavam as férias e eu o visitava, e passava o mês. Mas isso também mudou, e meus heróis foram se revezando com o passar dos meses, depois com o passar das semanas, dos dias, das horas... até que não mais se faziam óbvios. Foi uma pena quando me dei conta de que a excursão psicológica com a qual eu viajava tinha algo a ver com a posição fetal na qual eu me encontrava. Droga! Quebrou o encanto!

17.5.07

O Limite da Língua

Já lavei, separei e passei as roupas.

Arrumei o quarto e lavei a louça.

Almocei fora.

Fiz compras: comprei sapato novo, meias, namorei uma camisa linda que, de ultima hora, eu percebi que não queria.

Já fiz um pouco de tudo que costumava me acalmar, mas não deu certo.

Agora eu estou aqui diante do teclado, esperando por uma sentença que vomite esse vazio, essa sensação de impossibilidade Word adentro, e, por conseqüência, o sentimento, para fora.

Por um momento eu pensei que estivesse sorry, mas não, sorry é muito genérico para o que eu sinto. Sim, o Inglês é uma língua muito sintética, mas a falta de palavras para expressar o que eu [não] sinto é um limite natural, que até então era desconhecido de mim. E eu não estou dizendo que estou sem palavras porque fui pego despreparado, mas porque quero milimetricamente definir o que é esse não-sei-o-que que me limita o vocabulário. Ai... se o problema fosse apenas o limite vernacular... ah, como eu estaria tranqüilo. Bastaria comprar um dicionário grande, pesado – sem figura nenhuma e completamente distante, pra eu me sentir bem. Na verdade eu até gosto quando não entendo, mas o problema agora não é o não-entender, porque sim, eu entendo perfeitamente essa coisa que não é angústia, que não é tristeza, e que não é decepção, e que, por conseqüência, não pode ser somente sorry. Ou quem sabe pode sim? Quem sabe eu posso jogar esse não-sei-o-que no meio dos vários motivos pelos quais posso dizer que estou sorry, e varrer a sujeira pra baixo do tapete? É... vou fazer isso. Ao menos eu ganho tempo pra ser o meu eu analítico...