26.1.07

Girl, Interrupted: Quotes

Susanna: [narrating] Have you ever confused a dream with life? Or stolen something when you have the cash? Have you ever been blue? Or thought your train moving while sitting still? Maybe I was just crazy. Maybe it was the 60's. Or maybe I was just a girl... interrupted.
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Susanna: I know what it's like to want to die. How it hurts to smile. How you try to fit in but you can't. How you hurt yourself on the outside to try to kill the thing on the inside.
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Susanna: [narrating] When you don't want to feel... death can seem like a dream. But, seeing death - really seeing it... makes dreaming about it fucking ridiculous.
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Georgina: Lisa? Is Daisy really getting out?
Lisa: Yeah, she coughed up a big one.
Susanna: But how could - I mean she's... *insane*.
Lisa: Yeah, well that's what ther-rape-me's all about. That's why fuckin' Freud's picture's on every shrink's wall. He created a fuckin' industry. You lie down, you confess your secrets and you're saved. Ca-ching! The more you confess, the more they think about settin' you free.
Susanna: But what if you don't have a secret?
Lisa: Then you're a lifer, like me.
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Susanna: I'm ambivalent. In fact that's my new favorite word.
Dr. Wick: Do you know what that means, ambivalence?
Susanna: I don't care.
Dr. Wick: If it's your favorite word, I would've thought you would...
Susanna: It *means* I don't care. That's what it means.
Dr. Wick: On the contrary, Susanna. Ambivalence suggests strong feelings... in opposition. The prefix, as in "ambidextrous," means "both." The rest of it, in Latin, means "vigor." The word suggests that you are torn... between two opposing courses of action.
Susanna: Will I stay or will I go?
Dr. Wick: Am I sane... or, am I crazy?
Susanna: Those aren't courses of action.
Dr. Wick: They can be, dear - for some.
Susanna: Well, then - it's the wrong word.
Dr. Wick: No. I think it's perfect
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Susanna: [reading from a book] "Borderline Personality Disorder. An instability of self-image, relationships and mood... uncertain about goals, impulsive in activities that are self-damaging, such as casual sex."
Lisa: I like that.
Susanna: "Social contrariness and a generally pessimistic attitude are often observed."
[pauses]
Susanna: Well that's me.
Lisa: That's everybody.

24.1.07

Vô Cardoso

Sim, meu Avô.

Hoje faleceu meu Avô (com "A" maiúsculo.)

Eu não posso dizer que eu tivesse um avô perfeito, daqueles de história do Monteiro Lobato... Aliás, meu avô não podia ser a Dona Benta, e Monteiro Lobato nunca escreveu sobre um avô. O fato é que o vô Cardoso não foi mais presente na minha vida porque eu não dei muita intimidade para ele: eu nunca estive perto tempo suficiente pra tal, mas a cada conversa que tínhamos, eu me encantava com a sua sabedoria.

Sim, era um homem sábio. Sábio demais, devo admitir. Era também um homem justo, sério e, entre milhares de outras qualidades, honesto também. Meu avô era daqueles homens dignos de filme. E eu digo isso sem medo de soar demagógico, porque todos os netos concordam com o fato de que o vô Cardoso era “ótimo”, “gente boa”, e outras coisas mais que não se atribuem a um avô, mas a um amigo. E a opinião de que ele era um homem sério não vinha somente da família: eu tive diversas oportunidades de sentir o respeito que as pessoas tinham pelo homem imortal que ele é! Que qualquer um experimente mencionar o nome do José Cardoso Dias na região de Caratinga, que um tapete vermelho ornado de rosas será estendido diante de si. Mas o orgulho do meu pai, por si só, ao falar do vô Cardoso era motivo mais que suficiente pra eu idolatrá-lo também. De peito estufado e olhos úmidos meu pai contava milhares de vezes as façanhas da sua infância e juventude – sempre com meu avô intermediador e justo nas arestas. E porque se meu pai, que é o meu modelo de perfeição, o idolatrava, eu o amava também, e ponto final. E acontece que eu amo o vô não por causa do meu pai, mas pelo homem contemporâneo e de cabeça cheia de idéias vanguardistas que ele foi.

Houve uma época em que eu não gostava de ir à casa dos meus avós, e eu mesmo não sabia o motivo. As férias em Caratinga sempre eram interrompidas pela carranca do meu pai, por eu não gostsar de visitar os seus pais. E que a verdade seja dita: eram muitos os netos. Muitos netos pra disputar a atenção de apenas dois avós. Sim, era ciúme... E tempos depois eu fui surpreendido pelo entendimento de que eu também morava no coração deles. E no começo eu pensava que era querido porque eu fosse um dos netos “doutores” na família ou porque eu era filho do Cardosinho, ou Zé Baixinho – como chamavam meu pai; mas não: aquele homem me respeitava também. Ele me respeitava, e eu me encho de orgulho por o meu avô, o Homem que ele era, me tratar como igual!

Engraçado... Toda a minha vida eu fui chamado de Catatau. Diz meu pai que meu avô media minhas perninhas usando as mãos, palmo a palmo, quando eu era bebê, e ria-se, imaginando se eu alcançaria ao menos do tamanho do meu pai. E uma vez, meu pai, vendo que não mais adiantava brigar, me colocou contra a parece e quis saber o porquê de eu não gostar de visitar meus avós. Eu, meio sem saber – sem graça ao ver meu pai desarmado, disse que era úmido demais o quintal, e que tinha mosquitos que me picavam e me deixavam empolado. Mas somente anos depois eu percebi que a casa era úmida sim, mas o real motivo para eu não gostar de visitar meu avô era por causa do meu horror ao, certa vez, constatar que eu já era mais alto, ao menos fisicamente, que o mais alto dos homens, na concepção do meu grandíssimo pai.

Vai com Deus, vô Cardoso, e aproveita o seu jeito mansinho e jeitoso de conversar, e vai falando aí com São Pedro pra deixar a gente entrar quando for a nossa hora. E, pra não perder nunca o costume: a bênção, vô Cardoso! Pra sempre, vô , a sua bênção...

O que estraga a felicidade é o MEDO!

Eu estou aliviado! Posso, enfim, voltar a respirar... E recito:

“Mas não há paixão sofrida em dor e amor a que não se siga uma aleluia!”
Acabei de me re-descobrir, recuperar minhas forças: passou a escuridão! Aceitei que a vida não pode ser vivida, sem os riscos que acompanham. E, com isso, descobri que a história só faz sentido pra quem a viveu, ou vive. Quer dizer, antigamente eu acreditava que a História existia para que não fossem re-cometidos os erros do passado, mas essa é uma concepção ignóbil. Egípcios, Sumérios, Gregos. John Kennedy, Jesus Cristo, Marilyn Monroe. Bomba atômica, Avião, Acarajé: cada um desses signos só faz sentido pra quem os consegue viver. A História somente faz sentido pra quem a vive, meu Deus! Eu não nego a necessidade da História, mas a obrigatoriedade de utilizá-la! Cada um dos elementos da História só faz sentido para quem, mesmo que indiretamente, já os experimentou – para os outros eles não passam de mera especulação. Isto é, cada um deixa seu legado, mas somente faz (bom) uso desse legado quem o quiser utilizar. Pra que viver a vida calculando cada passo, se, no fim das contas, tudo é quântico? Pra que viver uma vida de status, se não se pode comê-lo, vesti-lo, vê-lo?

Eu não quero ser personagem da minha história: eu quero ser a minha própria história! Quero que a minha vida faça sentido pra mim... e só pra mim! (se alguém quiser entendê-la, que tente – não vou dificultar e nem facilitar: vou apenas viver!) Eu quero experimentar as coisas quando delas eu precisar, e não porque alguém já passou por um caminho parecido e diz que já prevê como as coisas podem terminar. Obrigado, mas não quero conselhos! Eu não quero uma vida analisada e cheia de marcos através dos quais eu possa contar os anos. Pra ser sincero eu quero mesmo é uma vida cheia de vida, e não de fatos. Quero acertar, mas quero errar também, mas quero ter orgulho dos passos que eu der sozinho, sem depender de uma terceira perna que em apóie no chão.

Uma vez eu quis ser famoso – eu quis ter uma terceira perna... Mas eu não sei o que é a fama porque eu nunca a experimentei como eu imaginei que fosse. Claro que, olhando pra trás, eu tive algum reconhecimento e fui seduzido pelos minutos que a tive em minhas mãos... Engraçado: só agora eu percebo que não foi a fama quem me seduziu, mas o tempo em que eu a senti de perto. E a fama vicia! Eu não guardei, por exemplo, a sensação de ter ganhado o concurso de monografias na faculdade, mas as imagens que eu fiz da cerimônia. A fama vicia porque se acostuma com atenção – é muito bom ser levado a sério! Eu sempre fui uma pessoa de imagens, mas não porque eu as gostasse de ver – muito pelo contrário: eu sou uma pessoa de memória visual porque eu as uso pra me esconder.

E daí que agora eu estou num lugar onde ninguém me conhece? Nunca foi das pessoas que eu me escondi... é de mim o tempo todo que eu me escondo – e esse eu sempre acho.

21.1.07

172 (ou: Ruínas)

Faz uns dias que eu estou na adorável Inglaterra. Bem, como sempre, uma frase solta me faz pensar em algo que, de uma certa forma, se conecta, no fim (mesmo que forçadamente)... mas estar na Inglaterra me fez lembrar que os esquimós têm 12 ou 13 palavras que designam tons diferentes de branco e já que eles podem, por que eu também não posso dizer que existem tipos diferentes de frio? Certo, certo.. nem tão polêmica é a minha afirmação, mas eu queria era dizer que Turin está mais fria do que aqui – mas não é o mesmo tipo de frio não! Faz um frio seco em Turin, e frio úmido aqui em Reading. Mas eu não vim falar sobre o frio daqui ou o frio de lá – vim falar de decepções – que também remete a “frio”.
Ainda não entendi a Inglaterra. Essa falta de postar se resume sim, nisso. Não escrevo porque não tenho, simplesmente, o que escrever. De vez em quando eu sinto alguma coisa, mas esse instante fugido só se revela ou dentro de uma danceteria, ou num momento de vento muito forte – talvez só pra eu não poder anotar: daí eu guardo na memória, mas o instante não mais está lá. Penso que isso se deve à Seleção Natural de Darwin, em que os instantes mais fracos sucumbiriam diante dos mais fortes. Portanto, se a falta de sensibilidade diante da Inglaterra pode estar ligada a um sentimento interrompido, talvez – como num tratamento psicanalítico, se eu trazê-lo à tona, ele se dissolva e dê lugar a outros, permitindo que eu... ah, enfim, que pare de me enervar! O que não me foge da memória a lembrança das limpezas no meu quarto quase que semanalmente, pra satisfazer a minha necessidade de organização na vida. Bem, eu inaugurei, conscientemente, a minha chegada à Inglaterra com uma big faxina na casa do Izalty – junto dele, claro. Mas antes de aspirar o quanto, tiramos o pó do aspirador – estava sujo demais! E na mesma tarde me peguei diante da Clarice me perguntando:

“Se recebo um presente dado com carinho por uma pessoa de quem não gosto – como se chama o que sinto? Uma pessoa de quem não se gosta mais e que não gosta mais a gente – como se chama essa mágoa? Estar ocupado, e de repente parar por ter sido tomado por uma desocupação beata, milagrosa, sorridente e idiota, como se chama o que se sentiu?”

Meu sábio pai uma vez me disse que apenas te decepcionam as pessoas em quem se confiam. Fiquei perplexo, mas depois de examinar bem, vi que era verdade porque nunca se dá oportunidade para um estranho te decepcionar. E acontece que o tombo é ainda maior quando não se tem nem coragem de dizer como foi o tombo. Só consigo dizer, sem reviver o trauma, que o meu coração está em ruínas. Também estou decepcionado com o fato de que “nenhum” restaurante fabrica sua própria comida aqui em Reading. Aliás, fabricam sim, mas industrialmente! Nada é, como se diz, feito em casa. E o pior: por conta dessa industrialização, os funcionários da cozinha são justamente aqueles que ou não falam Inglês ou são ilegais no país. Isso significa que o meu sonho de trabalhar com gastronomia de verdade vai ter que esperar um pouco mais de tempo, até eu ter condições de ter meu próprio restaurante...

(...)

Fiquei bobo, de repente! Calma lá! Já estou desistindo - foi isso que eu entendi? [pausa para água] Andava de um lado pro outro pelo quarto, com um copo d’água passando de mão em mão, boquiaberto e fiquei com medo de ter desistido! Mas e se, em vez de desistir, eu estiver mesmo é chegando à conclusão de que esse “sonho” era só um pretexto? Acontece que eu acreditei nesse sonho! E eu me confundi: não sei se essa (pseudo)desistência é ou não é saudável. Digo, será que eu deveria adiar o que eu disse que vinha fazer aqui por conta dessa dificuldade? Ou será que todo tempo eu amava o que eu fazia, mas queria mesmo era fugir, e passei a acreditar demais no motivo que eu criei. Será mesmo que eu enganei até a mim mesmo? Não... eu definitivamente queria mais. Ou simplesmente não queria mais o que eu tinha – tive certeza dessa parte quando eu visitei Valadares e senti pena dos meus pais naquela cidadezinha, pena dos meus amigos por fazerem a mesma coisa sempre e sempre, como vaquinhas de presépio. Mas isso justifica o fato de eu ter vindo pra tão longe? Ou serei eu a vaquinha de presépio? Não seria mais fácil simplesmente mudar de cidade, ou de Estado? Não... eu queria a cidadania. Na verdade, penso que a própria ânsia de oficializar a cidadania me desgostou, aos poucos, da minha vida. Acho que agora eu entendi... a pergunta-chave é: qual a vantagem de se ter cidadania Européia, vivendo no Brasil? Claro que essa é uma pergunta essencialmente retórica na qual eu embuto outra forma de sofisma – ao menos essa é a intenção. Ao menos agora eu me sinto como, quando eu tinha meus 5 ou 6 anos, eu queria, porque queria tomar leite de coco. Cozinhavam uma peixada, e eu me apaixonei pelo aroma do leite de coco. Pedi um pouco e me deram uma colherada. Pedi mais e ganhei outra colherada. Pedi tudo, e com paciência de relojoeiro venci a cozinheira que me deu toda a garrafinha. Acontece que eu não queria o leite de coco: eu só queria vencer a argumentação. Até que, não sei se por perceber minha falta de jeito com a garrafa na mão, ou por simples raiva de ver uma criança sendo mimada, alguém – sem nem saber, salvou-me daquela garrafa odiosa, daquele elefante branco, destinando-a ao peixe. Mas quem me salva agora do meu passaporte?

7.1.07

Crash! Boom! Bang!

Eu escrevo usando os verbos no passado porque eu costumo sobreviver às minhas regressões. Elas são, inclusive, até saudáveis - senão, auto-analíticas, pelo menos. Mas tem algo que ainda não é passado, não é presente, mas eu também não garanto que vá acontecer me preocupando… estou num impasse porque eu costumo pensar que Deus se dá ao desfrute de não concordar com nós, humanos, e que, por exemplo, o fim do mundo não vai acontecer enquanto um único mortal pensar que ele está próximo; daí, quando ninguém mais esperar, crash! Boom! Bang! Mas, como eu ia dizendo, eu brinco de pensar que o que eu antecedo nos pensamentos geralmente não acontece - até aí tudo bem, mas eu só me dava conta disso no futuro, isto é, quando a adivinhação já era passado. Nunca tive dom para cartomante, mas desta vez eu me vi na pele da Macabéa quando me imaginei, no fim de toda essa aventura, depois de tanta coisa feita, tanta gente vista, tantas coisas vividas, de tantas expectativas: se o avião caísse e todos no vôo morrêssemos, ou se eu fosse assaltado nas ruas da Inglaterra e fosse morto à tiros, por exemplo, justo agora que não mais faz sentido não esperar pelo melhor... bem, pode ser autoproteção, já que eu acredito que o que eu antecedo não acontece – isso significaria que o meu medo de alturas e o meu medo de lugares ermos fossem poupados no meu juízo, mas e o que eu não tiver imaginaçao para anteceder?
Não posso dizer que esteja com [muito] medo, talvez um pouco [demais] de expectativas, mas sinto algo como uma sensação de despedida, um afastamento pseudo-inconsciente das pessoas de quem eu gosto, a fim de perder alguns vínculos e que nem eu e nem eles sofram. Contraditório isso que se passa na minha cabeça, apesar de eu não ser conhecido pela minha limpidez de pensamentos... mas eu nunca havia me aventurado a prever o futuro, minha gente! E o pior: desta vez eu penso que tem alguem lá em cima pagando pra ver o que acontece, já que agora eu que faço planos.

P.S.: Peço ajuda a certos leitores que aqui especialmente convoco. Convoco extraordinariamente aqueles que sabem o que significa Exu, assim como aqueles que não sabem, e pensam que, em vez de uma entidade, seja uma pessoa... sera que devo confiar a estes o meu futuro?

4.1.07

Geodésias

Eu meio que sempre fui levado pela corrente porque não sabia o que eu queria. “Siga o fluxo!” – diziam, e eu seguia o fluxo. Silenciosa e mansamente eu seguia o fluxo. Cresci olhando sempre pros lados com medo de ser julgado, e por isso seguia o fluxo – ensinaram assim pra mim, e eu confiante e humildemente acreditei no pseudo-poder de julgamento do rebanho. Eu me entregava a um mundo muito mais amplo do que as minhas, até então, mais desvairadas pretensões, sempre a fim de seguir o fluxo... sempre o fluxo... fluxo... flux... Hoje eu não sei se me arrependo ou não por ter seguido o fluxo porque estou feliz com o que estou. Estou sim, mas não me oponho a pensar nas diversas realidades que poderiam ser o hoje, se eu não tivesse dito sim para determinado evento. Um dia desses, por exemplo, eu pensei na morte de uma das minhas tias, e em parcerias infelizes. Pensei que poderia insistir com minha tia pra que ela fizesse outras vezes a mamografia, e, para as parcerias, pensei em não estar em determinados lugares em certas horas, ou em simplesmente dizer alguns nãos de vez em quando, mas fiquei perplexo com os possiveis efeitos colaterais. Sabia que eu não poderia viver indo e vindo no tempo, e vi que o que é realmente sensato é dizer adeus para o passado, e ver o eu de ontem, cada vez mais distante do eu de hoje...

E como sempre, esse tipo de insight me faz pensar desordenadamente na vida, e também desordenadamente percebi o quanto, independente da minha decisão, o meu passado já está distante de mim... como está distante a minha vida em Governador Valadares! Os meus DVDs, meus Cds! A sala de aula, administração, fórum! Enfim, toda uma vida que, de tão distante, ja não provoca qualquer sentimento, a não ser me deixar indiferente... literalmente distante, como se não fosse comigo! Mesmo os meus dentes antes do aparelho estão distantes, na minha memória... eu me lembro, no entanto, do momento em que eu tirei o aparelho ortodôntico e senti, depois de muito tempo, a superficie lisa dos meus dentes roçando a gengiva – era emocionante, mas nem aquela surpresa eu mantive, porque a superficie dos meus dentes é parte de mim outra vez. Acostuma-se com o óbvio – e disso eu já sabia. A novidade veio com a percepção de que o óbvio é facil, apesar de não ter que ser... estranho isso. Lembrei dos amigos da escola, da faculdade, da rua, que me eram indispensáveis, mas que hoje sã quase como se não tivessem nunca existido... muitos deles estão apenas na memória, alguns apenas em fotografias. Esses dias eu me peguei contando a minha performance no ensino médio para o Juninho, e comparando com o que ele contava, e o feedback era engraçado, porque tínhamos base sólida para nos apoiarmos - a memória era um palco amplo para isso. Mas quando eu contei da faculdade, vi que ele ouvia e não sentia nada, porque simplesmente era uma realidade que ele não conhecia, e fui tocado pela sensação de que a escolaridade hoje em dia, pra mim, não faz diferença! Meio que como na infância, em que a diferença de poucos anos de idade era um abismo instransponível... mas depois é nada. Lembro-me de quando eu tinha 7 anos e um colega14... era um abismo de idade nos separando, mas hoje eu com 27 e ele com 34 soa como quase nada... ou não faz diferença porque estamos ambos no que se chama de maturidade, que eu posso definir como o ponto a partir do qual tudo se iguala. Portanto, não é a idade, mas a experiência que conta (ai, como eu estou redundante hoje!). Sim, hoje que vejo que eu abdiquei dos infindáveis anos de estudo e de fila indiana seguindo o fluxo, para chegar num ponto em que eu estou num país estrangeiro dependendo de conhecimentos que eu não tenho onde apoiar! Olho para eles e vejo que os meus diplomas não servem para o que eu quero, me deixando num vácuo escolar digno dos que eu julgava tanto no Brasil por não terem feito faculdade ou seguido alguma linha profissional mais ou menos reta. Mas quem disse que a menor distância entre dois pontos é uma reta, afinal? Besta fui eu em acreditar nisso sem confirmar... e hoje eu levanto os braços e rio gargalhadas altas porque deixei toda uma vida de fluxo semi-reto para trás e, pasmem, sem arrependimento algum! Então eu me divirto imaginando o que a pessoa do meu lado pode me trazer de diferente, pra acrescentar à minha vida. O que me fascina hoje é imaginar o que vai estar distante de mim amanhã, sem perder o contato com o que é realmente importante: o hoje. Ou serão as geodésias, essas desconhecidas! Ah.... o fato é que não apenas as geodésias, mas até o meu organismo é um desconhecido pra mim hoje em dia! Estou surpreso com minhas reações diante de situações das quais eu me via (e ainda vejo, dada a desatualização), reagindo assim ou assado, em que na prática eu ajo completamente diferente. Eu estou mudando e não estou dando conta do meu processo de absorção do já. Eu estou me observando pelo lado de fora, procurando por geodésias no meu processo de crescimento, mas tão absortamente que eu não percebo o que acontece aqui dentro: não vejo as retas. Talvez seja como disse a raposa: “o essencial é invisivel aos olhos”, afinal.

Eu estou sempre me perdendo (ou achando?) e vou seguindo o que me parece razoável – sejam retas ou geodésias... Não posso dizer, de forma alguma, que eu tenho controle da minha vida; eu me sinto num jogo de xadrez, em que nem a peça que eu represento eu sei! Mas acredito que a grande graça nisso tudo é o fato de que eu não sei mesmo das coisas. Talvez, inclusive, se eu não soubesse as coisas que eu acho que sei, eu seria mais feliz, ou mesmo mais aceito pelas pessoas. Mas sei que o conhecimento é um caminho sem volta – o cerebro não se recompacta. Bem-feito pra mim!

Feliz 2007 a todos, e que não apenas este, mas que todo o sempre seja repleto de surpresas agradáveis, realizaçõoes edificantes e amores inebriantes!

é...