26.9.06

Pergunta Retórica #1.

Deus seria capaz de criar uma pedra tão pesada a ponto de ele mesmo não conseguir levantá-la?

19.9.06

It’s Just Elegant! (ou “Sofrendo com Legenda”)

Muitos me perguntam sobre o porquê de eu não escrever sobre Torino, ou postar fotos dos lugares e dos acontecimentos daqui. Ao contrário do que podem pensar os negativistas e os niilistas, sim, eu vivo aqui e estou muito bem: Obrigado!, mas creio que parte da minha inércia literária (se é que posso chamar assim) se deve ao fato de eu ter me surpreendido com a drástica constatação de que a vida sadia que eu levara até agora pareceu-me um modo moralmente louco de viver – e sucedeu que aqui eu tenho perenes borboletas no estômago porque agora é a liberdade que me faz carinho. Hoje sofro com legenda por não ter provocado tal maravilha na minha vida tempos antes, já que exalamos felicidade por cada um dos milhares de poros espalhados pelo corpo – disfarçada de feromônios [e insistimos em usar perfume!]. Explico: é que na concepção Aristotélica de felicidade eu estaria convivendo com doses ascentendes e ininterruptas dela, o que faria de mim um potencial Foie Gras ambulante, cuja felicidade seria maior do que meu – agora – burguês fígado consegue digerir. Além do mais, como diria Marilyn Monroe em Seven Years Itch: "It’s just elegant" estar não na Europa [lembram-se do ditado que diz que pode-se levar o asno até a fonte, mas que da água ele somente bebe se quiser?], mas diante de cultura em níveis burlesco – mais, pelo menos, do que eu consigo digerir! Isto é felicidade pra mim sim; tanto quanto descobrir que eu sou um discriminador em plena atividade, mas do tipo que reconhece que tentar mudar os outros – mesmo que dotado das melhores das intenções, também é ser preconceituoso. Sim, extremamente feliz porque, como quem trata de um câncer, eu tenho a possibilidade de cortar o mal pela raiz.

Entre uma crise existencial e outra eu visitei muitas praças, monumentos, relíquias – não garanto, entretanto, que absorvi metade das coisas que vi nestes lugares ainda [na verdade eu ainda não consegui conceber que eu estou na Europa! – tamanha é a minha felicidade por estar aqui...], além do fato de lutar para aprender Italiano. O problema de estar aqui é o fato de que não basta ver, mas também há de se sentir as coisas, saber o que está por trás delas, entender o impacto das mesmas numa civilização centenas de anos mais tudo ou menos tudo – depende do ponto de vista – que se pode imaginar. E acrescento que o próprio estilo de vida das pessoas daqui me fascina: it’s just elegant!; o transporte público me fascina – não tanto como as maneiras de burlar o pagamento dos bilhetes: it’s just elegant!; os orgulhosos e calmos cachorros praticamente zen-budistas que levam seus donos pelas alças das suas disfarçadas coleiras [mal percebem seus donos que eles são os bichos de estimação]: they’re just elegant!; as lindas negras orgulhosas de sua raça e beleza que ostentam o seu estilo pelas ruas de Torino nos seus penteados que conservam suas raízes raciais [sem fazer aquele alisamentos fedorentos e ressentidos]: they’re just elegant!; a babel na Porta Palazzo: it’s just elegant! e principalmente o véu bege de cetim que se tem diante dos olhos que torna blazê todas as cores [talvez já cansadas de ser] da Itália. Os eucalíptos-canadenses também são um show à parte, porque they’re just elegant, e, além de perfume, dão forma pitoresca [e elegant] ao lugar, e que também são responsáveis por eu perceber [elegantly], todo dia de manhã, através do olfato [elegant também graças à vacina antigripal que tomei ainda no Brasil], que eu estou não na Europa, mas numa linha imaginária que não mais é a do Equador, onde eu acostumei me situar, mas algo do tamanho da minha imaginação... [elegant?] Adquiri, aqui, um passatempo, que se tornou um dos mais divertidos dos que eu tenho memória: adoro contemplar as construções e observar as colunas, analizando e rotulando-as [que irônico] como jônicas, dóricas ou coríntias – na verdade não é mais um simples passatempo, tornou-se uma compulsão neurótica, como as que eu normal e naturalmente coleciono. Compulsão como a de, por exemplo, ouvir o som das rodas da mala de viagem sobre as diferentes superfícies das calçadas das cidades, no Brasil. Itália, Itália! O próprio som do nome deste país me faz pensar que estou pisando sobre o mapa da escola secundária, nas tediosas aulas de geografia! Estou num paraíso de história, e que me faz, de certa forma, temer o inferno...

Mas a Itália se torna física quando vejo que estou ao lado do Estádio Olímpico onde aconteceram as Olimpíadas de Inverno, ou que Torino é o lar do Juventus – o time de futebol, cujos jogos acontecem do lado de casa e que são responsáveis por não existir lugar para se estacionar perto de casa. Ah, o trânsito de Torino! O trânsito é uma piada à parte, mas nem um pouco elegant: como é louco o trânsito em Torino, com seus carros estacionados nas esquinas, ou sobre as faixas dos pedestres, ou em fila dupla nas ruas de sentido único. O mesmo trânsito em que os carros não obedecem aos sinais – nem os vermelhos.. quem dirá o verde!? Digo que quem dirige em Torino dirige vendado em qualquer grande-centro do Brasil... Ah, as autoridades não estão nem ai... Olha onde e como o carro foi estacionado!

A língua é outra coisa extremamente curiosa e nervosa! Por mais drástico ou engraçado que pareça, tenho a impressão de que, tentando falar Italiano, aprendi a falar Espanhol! Parece que, no fim das contas, o Espanhol seria um resultado da mistura do Italiano e do Português... Tem um mês que eu estou aqui e digo, sem falsa-modéstia, que compreendo tudo o que se fala comigo, mas a minha língua ainda se recusa a falar Italiano! Fica parecendo que se tem uma surpresa muito grande muito bem preparada e escondida – mas que está guardada à sete chaves e que somente revelar-se-á no momento certo.
A Itália se torna palpável quando eu apresento fotos de mim na Praça Statuto,

diante do meu monumento favorito, ou da Igreja Madre del Dio [que tem colunas coríntias!] e da torre no monte del Capuccini – tudo pertinho do rio Po.

Eu cercado por ruínas romanas milenares

e de um teatro,

de todos os lados em frente ao Museu de Antigüidades e da Igreja Central de Torino, que conserva no seu interior o Santo Sudário (sim, eu estive lá!).

Universo Particular!

Vai soar pomposo da minha parte, mas é pra soar mesmo: depois de ver a tia em Londra, no dia 27 de setembro, em Milano, verei uma das primas – Marisa Monte, em carne, osso e voz! [risos] De-repente pareceu que eu teria direito de dizer que, já que perdi o show da Marisa no Brasil, vim prá Europa prá não perder esse também! [Sim, eu tô me sentinto nas nuvens!]

O Filatelista (ou “O Lavrador”)

Olha que cena curiosa: eu, um neo-paganista na Itália – berço do catolicismo, convivo com Testemunhas de Jeová e Adventistas do Sétimo Dia! Eu me comporto mornamente entre todos eles [e não, não serei vomitado! Estude a história por traz da Bíblia antes de dizer asneiras!] porque eu tenho a minha ideologia e conviver com a alheia, na pior da hipóteses, traz crescimento intelectual e, com isso, tem-se mais escolhas. Não sei falar de números, mas a lógica diria que as chances disso acontecer num país como a Itália seriam muitíssimo pequenas... mas é verdade: estou no meio do fogo cruzado de uma guerra fria! Por isso, acabei me tornando, aqui, um colecionador de selos. Ouço falar de selos o tempo todo, de tantos que foram abertos e de um coitado e solitário a ser aberto, que coincidirá com o fim dos tempos. Este último, por sua vez, é tão aguardado que eu ousaria dizer que, assim como se fala tanto no diabo em certas religiões, o fim do mundo é quase que a abertura de uma feira agropecuária para outras, com direito a fogos de artifício em show pirotécnico e estandes de mostra, comidas típicas e tudo mais, como na música da Rita Lee, em que ela vai "entrar no capote de camarote"! Mas o problema é que esse camarote é tão disputado, e segundo cada lado, seriam poucas as vagas para apenas e tão somente aqueles que da sua versão da verdade compartilharem. Acontece que os entusiasmistas do apocalipse ja previram o fim do mundo no ano 2000, usando e abusando da máxima: "de 1.000 parassá, de 2.000 nao passará", e eu, num prazer quase doentio, deleitei-me não porque o mundo nao tinha se acabado, mas porque eu podia contradizer um dogma do qual eu não compartilhava. Prazer doentio sim...

Tendo certeza de soar muito irônico [nem tento fingir mais que não era a minha intenção, sabia?], se somente Deus e Jesus Cristo deveriam saber o dia certo, qualquer pseudo-premonição feita por qualquer mortal, em dias alternados e consecutivos bastariam para adiar o fim dos tempos, ja que outro ser, além dos que deveriam saber, o saberia... isto estragaria os planos e, por si só, destruiria outro dogma. Alguém me disse também que era prevista a volta de Jesus num ano preciso do século XIX, o qual não me lembro, mas que, segundo a lenda, não aconteceu, mas usaram a mesma data para explicar um evento metafísico, incapaz, portanto, de ser provado, mas que satisfazia o rebanho e não contradizia os dogmas. Conveniente, não? Além do mais, o Concílio de Nicéia fez tranto estardalhaço do trabalho de Jesus contado séculos depois [quem conta um conto, aumenta um ponto, não é verdade?] que se a ressurreição do Deus não fosse precedida de um alinhamento perfeito de todos os planetas [e os canditatos a] – do Sol até Sedna, não teria graça, ou não seria suficiente para acalmar os ânimos... além do mais, tranformar água em vinho, no nosso mundo capitalista, não seria grande coisa, até porque, já que se pasteuriza leite azedo até cinco vezes e coloca-se à venda para consumo, nos dias de hoje, Jesus ressuscitado teria que ser um alquimista que transformasse lixo nuclear em ouro! Ou em dólares? Preciso urgentemente de um economista aqui e agora!

Eu creio que o fim dos tempos está proximo sim, mas dos tempos da atual potencia capitalista do mundo – os E.U.A., como aconteceu com a Grécia, por exemplo, ou a U.R.S.S., e/ou do Catolicismo, como aconteceu com o politeísmo grego: eis o fim do tempos no qual eu acredito... uma potência falida cendendo lugar à outra! Agora, não creio no fim do Catolicismo, como creio no fim dos E.U.A como superpotência, mas no gradual e inevitável processo de perda de influência e conseqüente discrição do seu poder. O vô João Paulo II pediu perdão pelos crimes cometidos pela Igreja – acho que o simples reconhecimento das intenções perniciosas dos velhos tempos ou da má admistração é sificiente para esboçar um sorriso meia-boca, mas não é suficiente para perdoar. Bem, não é sobre isso que eu venho dizer aqui nesse Post, então que remoasse essa mágoa numa outra oportunidade. Mas temos que reconhecer que o catolicismo simplificou a fé, tornando-a mais acessível [Mais uma vez não estou analisando os motivos, mas as conseqüências]. Palmas para os homens que acreditam que Deus criou a religião! Palmas para os homens que acreditam que religião salva! Palmas para o catolicismo e seus 2006 anos de cristianismo pregado! Palmas por isso tudo, mas principalmente por dar esperança àqueles que somente sabem procurar, procurar, por dar esperança àqueles que, por necessidade alheia, precisam se manter na base da piramide social, sustentando as camadas superiores, dando sempre, graças à Deus! Estes sim, precisam de organizaçao da sua fé, mas não porque não têm capacidade, mas porque há interesse de que se mantenham no rebanho!

Sabemos que nada se cria, mas se transforma, e a nova era na qual tanto falam os materialistas neuróticos, entusiastas do fim do mundo, que terão, em troca de subserviência e lavagem cerebral comuntária tantas vezes quanto necessárias, por semana, terão não sei quantas virgens esperando por eles ou um paraíso branco e enuviado para alguns, campos verdejantes e água corrente para outros, está para chegar. Alguns entusiastas do fim do mundo ainda acreditam na imagem medieval de inferno e danação eterna, mas outros também crêem em céus e infernos particulares... outros acreditam em dimensões e na evolução da alma para realizaçao de carmas.. o fato é que toda realidade é inventada, e o que a torna real é a quantidade de pessoas que nela acreditam: basta que umas poucas plantem sementes e exponencialmente, sejam colhidas as suas ideias. O resto é metafisica e teodiceia...